Especial de St. Patrick’s – Cinco Ótimos Irish Whiskeys

Antes de estudar sobre whiskies, a Irlanda para mim era um país quase caricato. Meu conhecimento se limitava a duendes, trevos de quatro folhas, Bono, chapéus pontudos, cerveja – desagradavelmente – verde e o Colin Farrell. Ah, e claro, uma dezena de escritores geniais.

Acontece que a Irlanda não é apenas talentosa na parte literária. Na verdade, para um apaixonado por whiskies, ela é um dos mais importantes players no mercado. A ilha possui tradição na produção da bebida, inclusive, com técnicas e identidade próprias. A Irlanda é tão importante que até mesmo compete com a Escócia pelo título de quem inventou a chamada “água da vida”.

Deixando as especificidades muito técnicas de lado, a maior diferença entre whiskies irlandeses e escoceses é o processo de destilação. Tradicionalmente, o whiskey irlandês é triplamente destilado, enquanto o whisky escocês é apenas duas vezes. Isso torna os irlandeses notavelmente mais leves e menos oleosos. Há, no entanto, exceções à tradição nos dois países. Mas vamos parar com o whisky-geeking e voltar ao assunto.

Do Brasil, é difícil enxergarmos a diversidade de whiskey – sim, com o “e” mesmo – que a Irlanda produz. O único irlandês que desembarca em nossas terras é o Jameson, produzido por uma das maiores destilarias daquele país: a Midleton. Que, aliás, não tem nada a ver com a Kate, caso você esteja se perguntando.

Mas para além de nossas fronteiras, a terra de St. Patrick oferece uma miríade de excelentes whiskeys. Confira alguns deles abaixo:

MIDLETON VERY RARE

Olha, quando uma garrafa se autodenomina “muito rara”, é bem provável que ela esteja falando a verdade. O Midleton Very Rare é um irish whiskey produzido pela mesma destilaria do afamado Jameson. No entanto, a produção é limitadíssima.

Os barris de whiskey que compõe esta expressão são selecionados um a um pelo master distiller (o mestre alambiqueiro deles) da Midleton, Brian Nation (ou Barry Crockett, para edições mais antigas).

As garrafas são individualmente numeradas e altamente colecionáveis. O preço da exclusividade? Cento e cinquenta e cinco euros (€155.00).

TEELING SMALL BATCH

A Teeling é uma jovem e promissora destilaria independente irlandesa. E por jovem, quero dizer muito jovem. Ela foi fundada em 2015 por dois irmãos, Jack e Stephen Teeling.

A espinha dorsal de seu portfólio de irish whiskey é o Teeling Small Batch. Ele é produzido da tradicional forma irlandesa – uma mistura de whiskeys de malte triplamente destilados e whisky de grão – mas passa um período em barris que antes contiveram rum. Esse diferencial lhe confere notas de coco e caramelo.

Apesar da pouca idade, a Teeling é uma das mais importantes e inovadoras destilarias independentes irlandesas.

CONNEMARA PEATED

A destilaria Cooley, que produz o Connemara foi fundada em 1985 por um cavalheiro chamado John Teeling, pai dos rapazes já citados, Jack e Stephen Teeling. Atualmente ela produz uma gama impressionante de whiskeys, como Kilbeggan, Tyrconnell e claro, Connemara.

Há duas coisas que tornam o Connemara especial. A primeira é que ele é um single malt – enquanto que a maioria dos irish whiskeys é uma mistura entre single malts e whiskies de grão. A segunda é que ele é defumado. Isso mesmo, seu malte é secado em um forno abastecido por turfa, e isso torna seu sabor esfumaçado – algo bem comum em whiskies escoceses, mas muito raro nos irlandeses.

TULLAMORE DEW

A Tullamore Dew é a segunda em número de vendas quando o assunto é Irish Whiskey. Ela só perde mesmo para a Jameson. A versão mais comum é o Tullamore Dew Original, um blend entre whiskies de grão e whiskies triplamente destilados em alambiques de cobre e maturado em uma combinação de barris de carvalho americano e europeu.

Tullamore Dew é também a única marca de whiskeys que a personagem Lisbeth Salander, do livro “Os Homens que Não Amavam as Mulheres” bebe, ainda que essa informação não tenha qualquer utilidade.

JAMESON CASKMATES

Não poderia terminar uma lista de Irish Whiskeys sem citar a marca mais conhecida do mundo. A Jameson. Produzida pela Midleton, a Jameson possui mais de dez rótulos diferentes de whiskey. Um dos mais curiosos é o Caskmates.

O Jameson Caskmates é uma colaboração entre a Jameson e a cervejaria Franciscan Well. A destilaria empresta barris de Jameson à cervejaria, que os utiliza para armazenar e maturar cerveja stout. Depois, a Franciscan Well devolve os barris para a Midleton, que os reutiliza para envelhecer seu irish whiskey. O resultado é um produto leve, com notas de café e chocolate provenientes da cerveja. Quase um Jameson de sobremesa.

Assim, neste dezessete de março, deixe de lado a cerveja e a indumentária verde. Esqueça o Colin Farrell e o Bono. Sirva-se de uma dose de Irish whiskey e comemore o dia de St. Patricks com a melhor bebida de todas. Whisk(e)y. Tudo bem, pode pegar um livro de James Joye, Oscar Wilde, Yeats, Samuel Beckett ou Bernard Shaw para acompanhar.


BONUS 2019 – REDBREAST SINGLE POT STILL 12 ANOS CASK STRENGTH

O Redbreast é o irish whiskey para todos aqueles que acham os irish whiskeys muito delicados. Ele é produzido exclusivamente em alambiques de cobre, com cevada maltada e não maltada na Midleton, já mencionada aqui.

Mas o que o diferencia mesmo dos demais irish são duas características. A primeira, uma generosa graduação alcoólica de 57,2%. A segunda, sua maturação, que acontece predominantemente em barricas de carvalho que antes contiveram vinho jerez espanhol. Algo bem incomum para whiskeys irlandeses, que costumam depender fortemente das barricas de ex-bourbon.

6 thoughts on “Especial de St. Patrick’s – Cinco Ótimos Irish Whiskeys

  1. Como vai, mestre?
    É engraçado: eu gosto de Irish Whiskey. Lembro de quando provei o Jameson e achei bem interessante a comparação dele com o Scotch. Comentei com vc, inclusive.
    Porém, antes pensei que sempre o teria no meu bar e hj, meu paladar já mudou um pouco. Gosto dele, mas o vejo leve e adocicado. No departamento mais doce, eu acabo preferindo manter um bourbon, mas gostaria muito de provar essas outras expressões que o senhor nos apresentou.

    Abraço!

    1. Mestre Felipe, nem todos os irish são tão leves e adocicados (quase neutros) como nosso Jameson. Se você pegar o Redbreast, por exemplo, verá que ele é uma versão irlandesa de um Glenfarclas, quase (talvez com um pouco menos de corpo e profundidade). Existe uma variedade gigante de irlandeses, mas isso acaba sendo eclipsado pela Midleton e seu Jameson (que, aliás, é um whisky bem decente e até surpreendentemente bem feito para sua escala de produção e distribuição)

  2. Sou consumidor diário de Whiskey Irlandês. Neste momento consumo o SEXTON SINGLE MALTE, DENTRO DO PREÇO MUITO BOM, PORÉM O JAMESON BLACK BARREL OU O BISIMILLES 10 ANOS TAMBÉM CONSUMO.
    E RECOMENDO, PARA QUEM GOSTA.SOU DE OPINIÃO DE QUE INDEPENDENTEMENTE DAS MARCAS E DOS ANOS
    O QUE IMPORTA É O QUE NOS SABE BEM.
    EU CONSUMO UMAGARRAFA DE 5 EM 5 DIAS PRINCIPALMENTE IRLANDESES.
    CUMPRIMENTOS.

  3. Cão, não achei sua análise do Jameson tradicional neste blog. Você pensa em fazer algum dia? O Jameson está sendo meu whisky introdutório nesse mundo apaixonante e gostaria muito de ler sua opinião sobre ele escrita do seu jeito.

    1. Opa! Pois é, mestre. Falta Jameson normal e falta Jack Daniel’s. Sempre penso em fazer um mega-post. Mas, falta tempo! rs. Talvez quando eu for lá visitar os dois 🙂

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *