Last Man Standing – Okonomiyaki

Na minha recente viagem ao Japão, me deparei com um prato que muitos de vocês já devem ter familiaridade, mas nunca havia provado. O Okonomiyaki. A iguaria me encantou, especialmente por que é uma das coisas mais aleatórias que eu já vi no mundo da culinária. O dadaísmo gastronômico já vem no nome. “Okonomi” significa “o que você quiser” e “yaki” grelhado. Ou seja, ele é basicamente uma panqueca grelhada com qualquer coisa que você quiser – ou melhor, tiver sobrando na geladeira. O troço é tão aleatório que possui até uma versão que leva lámen junto, e é conhecida por “estilo de Hiroshima”. Os ingredientes mais comuns, entretanto, são ovo, farinha, cebola, repolho, cebolinha e outros vegetais e tubérculos […]

Revolver – Dos Triciclos

Quando eu era criancinha, tive um triciclo. Eu ia da sala pra cozinha pedalando como se o capiroto tivesse possuído minhas pernas, tão rápido que meus braços gordinhos nem conseguiam segurar o guidão reto. O que, naturalmente, resutlava em toda espécie de pequeno acidente doméstico. Raspar uma parede, acertar um vidro – esse foi um pouco mais grave – e passar por cima do pé dos adultos. Até aqui, nada demais sobre isso, afinal, quase toda criança teve um. Faz sentido – é um meio de transporte que transpira infância. O que não cabe em minha cabeça, é o triciclo para o adulto que mora em cidade. E não tô falando de algo como um tuk-tuk, mas aquele bem caro, […]

Tobermory Gin – Diversificação

Há trinta e cinco anos, um jovem empresário, proprietário de uma gravadora, teve seu voo cancelado. Ele estava em Porto Rico, e queria chegar às Ilhas Virgens Britânicas o mais rápido possível, para encontrar sua namorada. Se fosse eu, teria simplesmente me resignado. Abriria uma garrafa de whisky da mala, daria um gole, e aceitaria meu destino. Passaria uma noite mal dormida em qualquer hotel com paredes gordurentas e carpete manchado próximo ao aeroporto, para, finalmente, embarcar no dia seguinte. Mas o jovem empresário não era eu. Era Richard Branson. Ao invés de se alcoolizar e dormir, Richard tomou uma atitude. Calculou quanto custaria para fretar uma aeronave e dividiu os custos com os demais passageiros do voo cancelado. Chamou […]

Mark Twain – Muito de qualquer coisa

“Muito de qualquer coisa é ruim, mas muito de um bom whisky jamais é o suficiente”. A frase é de Samuel Langhorne Clemens, mais conhecido pelo seu pseudônimo, Mark Twain. Sob a alcunha, Clemens escreveu livros que se tornaram clássicos da literatura norte-americana, como As Aventuras de Tom Sawyer e Huckleberry Finn. Além de ser considerado um dos mais importantes romancistas dos Estados Unidos de todos os tempos, Twain era um inveterado apaixonado por Scotch Whisky. Pode parecer estranho, para um natural do Missouri, preferir whisky escocês ao americano. Mas era, justamente, o caso. Depois de uma temporada em Londres, Twain se apaixonou pela bebida. Além da frase que abre esta matéria, ele tem outra excelente máxima. “Eu sempre tomo […]

Ward Eight – Sufragistas

A variedade é o que dá tempero a vida. Pense, por exemplo, no brigadeiro. O docinho, aquele, com leite condensado, chocolate e manteiga. Hoje tem brigadeiro de tudo. Laranja, doce de leite, macadamia, nozes, nutella, pistache. Tem até brigadeiro de outros doces, tipo brigadeiro de pé de moleque e brigadeiro de beijinho, que é um negócio que eu nunca vou entender. E brigadeiro de brigadeiro mesmo, só que com uma miríade de chocolates. A quantidade de variações é tão grande que justifica – mais ou menos – a existência de um dispensário exclusivo da guloseima. As brigaderias. Mas antes de se tornar uma classe inteira, o brigadeiro era apenas um doce. Um doce com viés político. Ele fora criado por […]

Final Ward – Aleatoriedade e Combinação

Como já contei aqui em certa ocasião, adoro comida mediterrânea. Especialmente tudo aquilo que vem do mar. E, dentro de meu coração gastronômico, há um prato que possui uma partição só dela. A Paella. A paella – como você já deve saber – é basicamente a mistura de um monte de coisa boa com arroz. A mais tradicional leva frutos do mar e o tal cereal. Mas há versões com invencionices, que somam pato, frango, coelho, banco, feijão, páprica, alecrim, açafrão e por aí vai. E aí está a magia da paella. Na improvável combinação de seus ingredientes. Quem poderia imaginar bacon, frango e polvo se encontrariam em um delicioso megazord gastronômico. E mais, que essa união ficaria absolutamente incrível. […]

Mamie Taylor – Antepassados

Ao assistir Jurassic Park, você deve ter grudado de tensão na cadeira durante a cena em que o tiranossauro persegue o jipe. Imagine, um animal desse tamanho e tamanha voracidade hoje em dia. O que você não sabe, provavelmente, é que o T-Rex, aquele enorme e ameaçador predador, é o ancestral mais próximo de um bicho bem pouco intimidador. A galinha. É isso aí. Ocorre que em 2003, dois cientistas – Jack Horner e Mary Scweitzer – analisaram a composição molecular do colágeno contido em um fêmur não fossilizado de T-Rex. E descobriram semelhanças incríveis com aquele contido nos ossos de galinhas e outras aves domésticas. Isso apontaria que há uma ligação de parentesco entre o dinossauro e o galináceo, […]

Gold Rush – Sobre ideias geniais e óbvias

Ultimamente, tenho tido tempo razoável para rever uma série de filmes. Prerrogativa da quarentena. Essa semana, revi Segundas Intenções. Sei lá porque, também. E olha, é bem ruim. Você pode argumentar que não, que isso é um absurdo, porque é um clássico. Afinal, é uma adatação pop do romance Les liaisons dangereuses, de Pierre de Laclos, e integrante da corrente de grandes filmes baseados no romance, como Ligações Perigosas do Stephen Frears e Os Sonhadores de Bertolucci. Você pode argumentar. Mas, se o fizer, você está equivocado. Ligações Perigosas sempre foi bom, e envelheceu bem. Os Sonhadores, ao ser lançado, foi arrebatador, a ponto de se tornar um clássico instantâneo. Mas não Segundas Intenções. Segundas Intenções era ruim, apelativo, afetado […]

Hot Toddy – Panacéia

Crianças ficam doentes. Isso é inexorável. É preciso criar memória imunológica. Colocar o sistema pra funcionar, ganhar resiliência. E elas são bem talentosas nisso. Vejo pelos meus dois cãezinhos – comer a batatinha que caiu no chão e o cachorro de verdade fuçou, lamber a mão depois de ter apoiado no chão imundo da escola e colocar a boca no corrimão do elevador são coisas triviais para eles. O que explica a frequência que ficam doentes. Especialmente resfriados. Não adianta. Não é porque eles estão mal agasalhados, ou porque pegaram um golpe de ar de alguma janela aberta. Nem porque tomaram pouco suco de laranja. Isso não tem nada a ver com o resfriado. É porque eles são porcos mesmo. […]

Cameron’s Kick – Inominado

  Hoje vou inverter o texto. É que vou falar de um coquetel que ninguém conhece bem a história. Um drink que leva orgeat, limão siciliano e dois tipos de whisky – irlandês e escocês. Mas cuja origem é totalmente desconhecida. E a razão do nome, mais ainda. O Cameron’s Kick. Nem grandes estudiosos da coquetelaria possuem a mais rasa ideia de quem era esse tal de Cameron. E por que o coquetel teria sido batizado em homenagem a um chute do ilustre desconhecido. A nós, resta apenas especular. Talvez o drink seja uma homenagem ao diretor James Cameron, e a vontade que eu tenho de chutar a cabeça dele depois de ter perdido três horas da minha vida vendo Avatar. Aliás, […]