O Cão Econômico 2/3 – Teacher’s Highland Cream

teachers

Este é o segundo post de uma série de três provas sobre whiskies abaixo de R$ 100,00. O primeiro foi o Glen Grant. Além dele, o Cão já visitou outros três whiskies nessa faixa de preço. Foram White Horse, Johnnie Walker Red Label e Suntory Kakubin.

Se você já acompanha o Cão Engarrafado há algum tempo, provavelmente já percebeu que os automóveis estão entre minhas maiores paixões. Sempre gostei de carros. E na aurora deste meu amor, entre quase todas as marcas do mundo, a que provavelmente ocupava a maior área dentro do meu habitáculo mental de obsessões automobilísticas era a Alfa Romeo.

Os Alfa Romeos, para mim, eram carros com alma. Carros produzidos por apaixonados por automóveis, para os apaixonados por automóveis. Caros, mas absolutamente geniais. Afinal, quase todos os entusiastas colocavam a montadora em posição de destaque em seu rol de paixões. Antes de fazer dezoito anos e tirar minha carta, dirigir um Alfa era uma das coisas que eu mais queria fazer na vida, e provavelmente o único desse rol de desejos pungentes que não envolveria mais ninguém.

Os outros eram participar de uma corrida de enduro e vencer um campeonato de truco. O que você pensou que seriam, afinal?
Os outros eram participar de uma corrida de enduro e vencer um campeonato de truco. O que você pensou que seriam, afinal?

Para minha incrível sorte – ou azar – minha avó possuía um Alfa Romeo 164, pouquíssimo rodado e muito bem cuidado, apesar da idade que já chegava a quase um decênio. E para minha surpresa e êxtase, ela deixou que eu o dirigisse.

E eu sei que você espera que eu diga que a experiência foi comparável a comer um sanduíche de pernil pilotando uma lancha, completamente nu. Mas não. Não foi. Foi péssima. A suspensão era mole demais e o volante não tinha qualquer peso. Fazer curva era uma experiência mais náutica do que automobilística. Virar a direção para a esquerda fazia com que o carro primeiro adernasse para aquele lado, para, só depois de uns bons dois segundos, descrevesse o arco intentado por mim. Não era nada do que eu pensava.

E ainda que aquela experiência horrível não tenha sido suficiente para extinguir por completo a chama da minha paixão pela montadora, entendi algo óbvio. Entendi que, antes de criar um conceito sobre algo, precisaria experimentar ou testar aquilo por minha conta.

Com o tempo, aprendi que esta conclusão elementar se aplicava perfeitamente também ao universo do whisky. Havia uma boa quantidade de whiskies relativamente baratos a serem descobertos. E ainda que muitos deles fossem tão agradáveis quanto fazer uma limpeza de pele aos quinze anos de idade, muitos outros era surpreendentes para sua faixa de preço.

Um destes whiskies foi o Teacher’s Highland Cream. Quando me decidi por experimentá-lo, tinha a certeza que seria um martírio. Mas não sei se por mérito de minha expectativa ou do próprio whisky, a experiência não foi, nem de longe, tão ruim quanto eu pensava.

Vamos falar de números. O Teacher’s custa em torno de quarenta reais. Ele é o whisky mais consumido no Brasil, por uma boa margem de vantagem. Sozinho, ele corresponde a vinte e cinco por cento do mercado nacional de whisky. Ou seja: um quarto de todo whisky consumido no Brasil é Teacher’s.

Ao contrário do que a maioria acredita, o Teachers é produzido na Escócia, com whiskies escoceses, e somente engarrafado no Brasil. Em sua composição, estão single malts de mais de trinta e cinco destilarias. O principal deles é o Ardmore, produzido pela destilaria homônima, localizada na região das Highlands. A proporção entre single malts e grain whiskies no Teacher’s é também relativamente alta. Os maltes representam quarenta e cinco por cento de seu conteúdo.

Um pouco de história. O Teacher’s Highland Cream foi criado por William Teacher em 1863, na cidade de Glasgow. De lá pra cá, sua composição foi bastante alterada. Uma das mais importantes mudanças aconteceu em 1899, quando a Ardmore foi fundada. A destilaria, construída com o objetivo de garantir o fornecimento de whiskies enfumaçados para a Teacher’s, acabou tornando-se uma das destilarias mais conhecidas de Speyside a produzir whiskies com caráter defumado.

Teacher
Pegue um professor: Uma propaganda que jamais teria sido feita hoje.

A marca Teacher’s continuou na família de William Teacher até 1991, quando foi vendida para o grupo Beam Suntory, responsável por marcas como Jim Beam, Suntory e por destilarias importantíssimas na Escócia e Japão, como Laphroaig, Hakushu e Yamazaki.

O Teacher’s Highland Cream colecionou prêmios surpreendentes durante sua existência, principalmente considerando seu baixo preço. Recebeu 90 pontos pela Whisky Bible de Jim Murray, e “Editor’s Choice” da Whisky Magazine, uma das publicações mais importantes da área. Além disso, era a bebida preferida da dama de ferro, Margareth Tatcher. Ela gostava tanto do whisky que poderia até mudar o nome para Margareth Teacher’s (essa foi ruim).

E ainda que o Teacher’s não seja o melhor blended whisky que já experimentei em minha jornada, ele provavelmente é o melhor whisky que já bebi abaixo de R$ 40,00 (quarenta reais). Sua qualidade coloca-o em vantagem folgada em relação a seus concorrentes de preço aproximado.

Diante destes fatos, o conselho deste Cão não poderia ser outro: não acredite muito no que falam. Experimente por sua conta. Há grandes chances de você realmente não gostar daquilo que tomou. Mas, pelo menos, terá criado um conceito seu. Dirija seus Alfa-Romeos e beba seus Teacher’s. Porque uma coisa é absolutamente certa – em algum momento, você se surpreenderá.

TEACHER’S HIGHLAND CREAM

Tipo: Blended Whisky sem idade definida (NAS)

Marca: Teacher’s

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: levemente esfumaçado, com suave aroma cítrico.

Sabor: frutado, cítrico, com final levemente defumado. Não é um whisky muito complexo. O sabor de álcool é bem aparente, mas não chega a atrapalhar.

Com Água: Adicionar agua ressalta levemente o aroma esfumaçado e reduz a sensação de álcool no paladar.

 Preço: em torno de R$ 40,00 (quarenta reais)

37 thoughts on “O Cão Econômico 2/3 – Teacher’s Highland Cream

  1. Olá Maurício. A maior responsável pelo caráter defumado ainda encontrado no Teacher’s Highland Cream é a Ardmore que tem crescido muito em qualidade ao longo dos anos desde sua fundação a aproximadamente um século atrás. Existe diferença entre os Highland Creams engarrafados aqui e os trazidos de fora (falo por experiência própria), no entanto, como somos grandes consumidores de Teacher’s aqui no Brasil fomos agraciados recentemente com uma versão melhorada, e diga-se de passagem, formidável!!! – O Teacher’s Clan – Este sim, tem um caráter diferenciado! É um blended relativamente complexo e de caráter suave! Totalmente produzido e engarrafado em Ardmore foi lançado no Brasil por mérito de consumo. O custo benefício é excelente, e, ao meu ver bate em muitos blendeds renomados. Você já o experimentou Maurício? Se não, precisa degustá-lo. Abraços!

    1. Grande Edmilson. Cara, obrigado por confirmar esta teoria que tinha há tempos. Que o Teacher’s daqui tem uma certa diferença com o de lá. Nunca consegui provar um teachers em sua terra natal, mas lendo os blogs e publicações internacionais, percebi que é um whisky bem respeitado no exterior. Este era um mistério que queria há muito solucionar.

      Sim, provei o Teacher’s Clan. É bem legal. E é acessível, o que é ótimo!

  2. Prezado Maurício. Com certeza terá uma agradável experiência ao degustar a versão importada do Highland Cream. Se não me falha a memória, a única semelhança que encontrei foi a garrafa, porém na versão “bocão”, como chamamos aqui no Ceará (sem bico dosador). Outro bom whisky standard que foi “corrompido” é o Black & White, coitado! Diluído e engarrafado na nossa antiga destilaria Ypióca, hoje de propriedade da Diageo, não trouxe novidades a não ser na diminuição do valor da garrafa. Abraços.

    1. Estou há um tempo devendo uma prova do whisky dos cachorrinhos. Bem lembrado, Edmilson!

      Vou tentar encontrar um professor escocês, veremos!

  3. Boa noite, Cão!
    Você saberioa informar, quais, além do Teacher’s, os whiskys escoceses são atualmente engarrafados no brasil?
    Obrigado

      1. Caro Luiz, pode ir na água de coco, se a ideia for beber por prazer. O whisky é seu, afinal! E teacher’s com agua de coco é um classico brasileiro já.

  4. Qual o melhor uísque barato que você experimentou? Ou melhor, entre Teachers, Passport, Black White, Bells, Grants e Cutty Sark, quais os melhores em ordem? Gosto do Teachers por que entrega um pouco de amadeirado, e o álcool não chega a atrapalhar como um nacional que já tomei, que parecia uma cachaça de malte, hahahah! Mas quero conhecer outras opções baratas e citei algumas… Abs!

    1. Fala João! Meu caro, não saberia escolher. Meu gosto PESSOAL pende para os enfumaçados. Você já experimentou todos estes? Passport, Cutty, Bells e Black and White são bem adocicados. Grants é mais seco. Teacher’s é defumado, assim como o White Horse e o Logan. Vai pelo perfil de sabor que é sucesso (como dizem)….

      1. Boa! Obrigado. Recentemente comecei a beber o Teachers PURO, e até que não está incomodando o álcool, tá descendo bem. Vou experimentar com água. Já o Passport, não curti muito… Meio acetonado e o álcool mais presente. Também recentemente me recomendaram o Ballantines e o White Horse como alternativas para esses dois, sabe me dizer suas características? São um pouco mais caros. Pretendo pegar uma garrafa do Ballantines Finest na próxima semana, está em promoção aqui (80 reais), vale o investimento? Marca na embalagem que é engarrafado na Escócia. Bendito Harvey Specter que me fez ter interesse por uísques, pena que não posso comprar os Macallan que ele bebe (degusta) HAHAHAH. Abraços e valeu Cão!

        1. Opa, fala João. Olha, pelo jeito você curte os defumados mais do que os adocicados. Então, entre os dois, eu recomendaria o White Horse. O Ballantine’s tem um perfil de sabor semelhante ao Chivas 12 anos! E vai com calma, que o Harvey Specter gosta de Macallan, mas deve torcer o nariz para a fumaça deliciosa dos Lagavulin e Bowmore 🙂

  5. Teachers pra mim é melhor que o Red Label, mesmo engarrafado no Brasil. Menos alcoólico, menos acetonado e com mais sabor em si, uma pena que tem um fundo amargo. Apesar disso, acho ele e o Passport bons custo-benefício, o Passport que tem uma evidência maior de álcool que o Teachers, menos notas em si, mas com um fundo mais adocicado e suave, por isso fico com ele em relação aos dois, mas se equivalem. Agora, eu nunca bebi o Ballantines Finest e o Grants Reserve por incrível que pareça, mas já tive oportunidades. Dizem que dos uísques “modestos” e “não tão caros” vamos dizer assim, são os melhores que você pode achar no mercado. Fato ou não, Cão?

    1. Fala King James!

      Bem, essa aí é uma questão meio pessoal. Há whiskies baratos bem honestos. O Teacher’s é um deles. Mas na verdade, à medida que o preço sobre, a complexidade também aumenta. É claro que há distorções. Há whiskies simples absurdamente caros. E há também whiskies de complexidade razoável e que custam barato. Não existe muita regra geral, infelizmente.

      Há também a questão do engarrafamento no Brasil. Teacher’s e Passport são diluídos e engarrafados aqui. Isso reduz MUITO seu preço. Mas não quer dizer que sua qualidade é inferior a outros standards, apesar de parecer pela faixa de valor. Se fosse importado da forma tradicional, provavelmente csutariam algo próximo de um White Horse ou Black & White. É nessa categoria que devem ser comparados.

  6. sou novato no uísque, aliás sou jovem (primeiro emprego ainda) mas resolvi comprar quatro garrafas de uísques de supermercados pra experimentar; white horse, red label, passport e teachers. o melhor achei o white horse, mas provavelmente vou pegar outro passport por que foi só 45 reais, e com gelo adorei. o teachers é bom também, problema foi a amarguez na finalização. red achei inferior aos três e foi o mais caro! já esperava, já havia bebido ele e seu irmão black em formaturas/festas, assim como o jack, mas esses outros dois eram bons… quem sabe minha próxima aquisição seja ballantines ou black e white, talvez… mas é mais provável duas garrafas de passport, achei bom x custo benefício. pessoal desse a lenha mas gostei, e a garrafa tem um charme rsrs!

    1. Hahahaha Souza, o Passport é um whisky bem adocicado e delicado. Ele é barato pelo mesmo motivo do teachers- é engarrafado aqui no Brasil.

      Se você gostou do Passport, procure whiskies com o mesmo perfil de sabor: Cutty Sark e o Black & White!

  7. Fala meu caro, vou começar pelo Teachers e descobri qual vou preferir. Gostei de sua análise, uma questão sobre a amargo no final do Teachers, como na sua opinião ele deve ser experimentado? Ou quais formas devo consumir pra avaliar?

    Desde já, obrigado meu caro.

    Atts

    1. Caro Ozeas, experimenta sempre à temperatura ambiente, sem diluição, puro. E depois, pode colocar um pouco de água (algo como 1/3 da dose). Vai ajudar a abrir o whisky e sentir aromas e sabores secundários.

      O amargo vem em parte da madeira, em parte do malte (bom, também, só tem essas duas alternativas…rs). É um amargo que você identifica, ou é mais algo como um sabor de fumaça? Ou de band-aid?

  8. Boa tarde cão!
    Mt legal ler sobre esses whiskys abaixo de 100 reais e sobre a qualidade que eles trazem msm com esse preço!
    Frente a isso fico com uma grande curiosidade em como se saem os whiskys brasileiros!
    Eles são bons? O preço deles, as vezes na casa dos 30 reais, vale a pena?
    Iria gostar mt de uma série sobre os nacionais como Old 8, Natu Nobilis entre outros, se possível!
    Obrigado e um grande abraço!

    1. Opa, obrigado, Marcel!

      Meu caro, esses “whiskies” nacionais, são, na maioria das vezes, bebidas mistas. Algo que leva malt whisky, mas algum outro álcool neutro de cereais. E vou dizer, de uma forma meio inédita por aqui, que não recomendo eles não. São produtos feitos bem a toque de caixa, para terem preço de combate. E ainda que a qualidade de produção seja boa (porque, óbvio, tem que atender às normas técnicas e prerrequisitos da Anvisa e MAPA), a qualidade sensorial é bem ruim.

      Mas, dito isso, talvez um dia anime fazer um post!

  9. Boa noite, sou iniciante no mundo do whisky, acompanho o seu blog sempre como referência para novas degustações. Escolhi meu primeiro single malt inclusive lendo o seu blog e foi o Glenfiddich 12 anos. Estou passando por um período de vacas magras, li a sua crônica sobre o Teacher’s e resolvi arriscar. Chegando ao mercado, percebi que ele estava em média 10 reais mais caro que o de costume, paguei R$ 50,00 por ele. Além disso, a garrafa está diferente, está mais parecida com a que está sendo comercializada no exterior, a tampa antes dourada agora é preta. E para minha surpresa, o whisky agora é da Pernod Ricard. Ainda é envasado no Brasil, mas não obviamente na destilaria da Ypióca. A primeira impressão que tive do whisky é exatamente a mesma escrita na sua análise, mas como não provei a versão anterior, seria possível uma alteração no sabor ? Uma mudança na fórmula já que a destilaria agora está na Pernod Ricard. Será que seriam os mesmos single malts que estariam compondo essa versão e a anterior? Obrigado, parabéns pelo blog.

    1. Ola Roberto, tudo bem?

      Você tem certeza que é da Pernod? Porque pernod tem Passport, não teacher’s. Até onde sei, teacher’s era distribuido pela Campari por um acordo com a Beam Suntory, que é a detentora da marca!

      Seja como for, até onde sei, a composição não muda!

  10. Qual o melhor, o teacher’s, ou passport? Usamos muito na hora do almoço como aperitivo o teacher’s, mas quero provar o passport e tô com receio. Mas na real queria saber qual o melhor dentre os dois! Abraços!

    1. Silvana, não tem melhor. Passaport é mais adocicado, Teacher’s, mais defumado! Vai do gosto

  11. Boa tarde Maurício tudo bem? Acabei de me deparar com seu blog… Gostei muito das matérias e achei genial a forma como expõe suas idéia (parabéns) muito agradável de se ler e concisas/precisas… Gostaria muito de saber suas opiniões/impressões sobre os whisky ‘s White & Mackay, Famous Goose e Sir Edwards que sempre encontro aqui à um preço bem acessível … No mais gostaria de saber se vc tem alguma publicação/opiniões sobre alguns Bourbons… Grande Abraço!

  12. Em cima dessa crítica, acabei de comprar meu Teachers. Aguardo chegar e retorno aqui para comentar! Conheço pouquíssimo sobre Whiskys, mas decidi que quero começar a me aventurar de verdade!
    Abraços!

  13. Meu nobre, blza? Você ja experimentou o Whisky Teachers 12 Anos 750ml?? Acha que vale os R$ 120,00 que estou prestes a pagar? Ou indicaria um outro dentro dessa faixa de preço?
    Anos atras comprei no Extra o Haig Supreme. Confesso que comprei induzido pela linda garrafa já que nunca nem ouvira falar dessa marca! Antes, minha experiência com whisky se resuma aos blends abaixo dos 100,00. E que grata surpresa foi esse Haig Supreme!! Muito saboroso e ao meu paladar, um tanto enfumaçado. Depois dessa primeira compra, já comprei mais uns dois rsrs, sendo a última dose degusto agora!

    1. Fala mestre! Tudo bem? Vale a pena sim. É um blend bem construído, finalizado em barris de Laphroaig. Vai em frente!

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