Johnnie Walker Aged 18 years

Você sabe o que é rebranding? Bem, segundo a Wikipedia, “Rebranding é uma estratégia de marketing, no qual uma organização decide alterar a sua denominação, ou o seu logotipo, ou o seu design, ou outros elementos identificativos, para formar uma nova identidade.

Enquanto há centenas de histórias de rebrandings vitoriosos, como é o caso da Apple e da Burberry, essa técnica é arriscada, e pode conduzir a um desastre. Uma história bem conhecida – e hilária – é o do canal Sci-fi, hoje conhecido como Syfy.

É que o Sci-Fi ia bem. Mas em 2009 alguém lá dentro achou que seria uma boa ideia mudar a grafia do nome do canal, para atrair novos espectadores. Aí, depois de uma extensa pesquisa com consultores renomados, a empresa se rebatizou Syfy. Segundo seu confiante presidente “syfy é como você digitaria. É muito mais cool e atualizado“.

E é mesmo. Muito mais atualizado. Mas é também como você se refere à sífilis em muitos países do mundo. Por conta disso, a mudança tornou-se motivo de piada nas redes sociais. Afinal, ter seu nome associado a uma DST nunca é bom. Nem se você for marca de camisinha.

E nem foi de propósito.

Recentemente a Johnnie Walker também passou por um processo de rebranding. Não total, mas de uma de suas expressões – o excelente Platinum Label. O whisky ganhou nova roupagem e foi rebatizado. A referência à cor do rótulo saiu e a sua idade, que sempre foi dezoito anos, ganhou evidência. O Platinum tornou-se o Johnnie Walker Aged 18 Years.

Na verdade, esta não é o primeiro caso de rebranding protagonizado pela Diageo, detentora da marca Johnnie Walker. Em 2003, ocorreu o famoso caso Cardhu. Naquele ano, os estoques do single malt Cardhu estavam rareando. A Diageo, então, de uma forma bastante perspicaz, resolveu que produziria um blended malt – ou seja, uma mistura de diversos single malts – e o batizaria também de Cardhu. Só que, ao invés de “single malt“, utilizaria a expressão “pure malt“. Com a mesma embalagem. E o mesmo rótulo, exceto pela cor. A Scotch Whisky Association, no entanto, percebeu a estratégia, e decidiu que aquilo era uma forma de enganar o consumidor. A Diageo, então, se viu obrigada a retroceder, retirando seu Cardhu Pure Malt do mercado.

Mas isto são águas – ou melhor, whiskies – passadas. No caso do Johnnie Walker Aged 18, o líquido permaneceu inalterado, e o que mudou foi apenas a embalagem. E claro, a história por trás da bebida. Segundo a marca, o Platinum – quero dizer, o Johnnie Walker Aged 18 Years – foi criado pelo master blender Jim Beveridge, e contém até dezoito whiskies de diferentes regiões da Escócia. Segundo ele “maltes muito maturados podem se tornar muito contidos ao longo do tempo, e a chave para destravar estes sabores é o pouco e cuidadoso uso de whisky de grão com dezoito anos das Lowlands“.

Ele continua “Escolhi dezoito whiskies diferentes, com sabor e caráter marcantes, incluindo maltes clássicos de speyside, como Cardhu, Glen Elgin  e Auchroisk, por seu dulçor e elegância; maltes frutados e complexos das Highlands, incluindo Blair Athol e maltes maravilhosamente maturados das ilhas, que me permitem introduzir um subito defumado“. Arriscaria completar a fórmula revelada por Jim com dois palpites educados: Caol Ila e Talisker.

E Jim foi muito bem sucedido nessa missão. Assim como (quase) todos os whiskies da marca, o Johnnie Walker Aged 18 Years é levemente defumado. Porém, ele guarda também um certo dulçor e sabor cítrico que o tornam quase perfeitamente equilibrado. É curioso isso. No caso do Double Black ou do Gold Label Reserve há uma nota predominante – defumado e adocicado, respectivamente. Mas não nesta expressão. O Johnnie Walker Aged 18 Years é um blend sisudo, sofisticado e elegante. Há uma troca clara do apelo pela complexidade.

A serenidade no olhar de quem fez um bom trabalho.

Este Cão teve a oportunidade de provar o Johnnie Walker Aged 18 Years na companhia do embaixador Diageo Reserve, Nicola Pietrolungo. Na opinião de Nicola “o consumidor do Johnnie Walker Aged 18 Years é alguém que já possui um gosto maduro, e busca complexidade“. E para ele, o rebranding veio em bom momento. Em sua opinião, ainda que a declaração de idade não seja um sinônimo de qualidade, é também algo que o consumidor de whiskies premium procura, especialmente em nosso mercado. E evidenciar esta característica é providencial.

Apesar da fumaça e de sua complexidade, o Johnnie Walker Aged 18 Years é um whisky incrivelmente delicado. Parece contraditório, mas não é. O Aged 18 é um whisky que jamais desagradaria qualquer pessoa. Seus sabores estão lá, mas em perfeita harmonia e sutilmente integrados. O conselho deste Cão, inclusive, é que o experimente com o palato limpo.

O Johnnie Walker Aged 18 Years chega às prateleiras brasileiras a partir da semana que vem. E ainda que seja tecnicamente correto dizer que o Johnnie Walker Aged18 Years é um mero rebranding do Platinum, é também injusto. Ele é mais do que isto. Ele não é uma estratégia para elevar o líquido à qualidade da garrafa. Muito pelo contrário. Ele é a redenção do passado. Uma forma de ressaltar, no rótulo, o valor do whisky que já estava lá. Porque ainda que falte clareza, não há como negar – O Johnnie Walker Aged 18 Years sempre foi bom. Mesmo quando ele tinha outro nome.

JOHNNIE WALKER AGED 18 YEARS

Tipo: Blended Whisky com idade definida (18 anos)

Marca: Johnnie Walker

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: aroma de frutas secas com pouca fumaça e especiarias.

Sabor: cítrico, frutas secas, levemente herbal, com final discretamente e elegantemente defumado.

Com água: A água reduz o sabor e aroma de especiarias e ressalta o final defumado.

15 thoughts on “Johnnie Walker Aged 18 years

  1. Como vai, mestre?
    O Platinum ou JW Aged 18y sempre esteve em meus planos.
    Mas surge uma dúvida minha aqui: a introdução de whisky de grão na fórmula não pode acabar afetando o potencial dos maltes?
    Abraço!

    1. Mestre, nem tanto! O whisky de grão na verdade tem objetivo de amenizar as características sensoriais dos maltes e adicionar um certo dulçor. E no caso do JW 18, o grão também é maturado por 18 anos (claro…rs) então, todos as “arestas pontiagudas” já foram devidamente suavizadas.

  2. Caro Maurício,
    Além do caso que você relatou sobre o Cardhu, com a redução dos estoques de singles a Diageo realizou outras façanhas. A mais impressionante foi descontinuar o fantástico JW Gold – 18 Years e lançar o JW Gold Reserve, uma mistura inferior, mas com identidade visual muito próxima do blend com o mesmo nome. Não sei qual a expressão em inglês para essa ação, mas em português todos nós sabemos. Por essas e outras não acredito em nenhuma declaração institucional da Diageo. Não estou afirmando que tudo é falso, apenas que não acredito que tudo é verdadeiro.
    Aproveito para desejar a você, e todos os seus seguidores, um 2018 com saúde e pleno de realizações.

    1. Caríssimo Socrates, bom ver o senhor por aqui novamente.

      Pois é – a dança das cadeiras do JW Gold, que culminou indiretamente na morte e depois renascimento do Green Label foi também uma situação bem curiosa. Eu confio quase sempre neles – especialmente para os mercados de nicho. Os special releases são sempre de cair o queixo. Mas assumo que tenho uma certa reserva ao ouvir falar de lançamentos no core range da JW. Às vezes sou positivamente surpreendido (Blender’s Batch Rye), e as vezes minha suspeita apenas é confirmada.

      Mas é isso, que 2018 seja um ano com mais renascimentos de Port Ellen e Brora, doses de Caledonian e Red Rye!

      Um grande abraço,

      Mauricio

    1. Fala José! Sempre blend. A Johnnie Walker é uma marca de blended whiskies. Mesmo o green é um blend. Um blended malt! 🙂

  3. E eu me ferrei porque comprei esse whiskie pra dar de presente e ele é quase idêntico ao Gold Label que custa 1/3 do preço. Se a pessoa que vai receber o presente não entender muito de whiskie vai achar que estou dando um presente muito mais barato do que eu comprei. Alguém tem um Platinum fechado que gostaria de trocar comigo?

    1. Pera, idêntico em que? Visual? Ou você tá confundindo com o Gold Label 18 anos antigo?

      Porque o Aged 18 é o Platinum. Com uma nova roupagem. Defumado e delicado, não adocicado como o Gold.

  4. Valeu o review. Comprei e não me decepcionei. Saudações da Espanha. Melhor blog de whisky do mundo, disparado. Texto excelente

    1. Opa, muitíssimo obrigado, Diego, pelos parabéns internacionais!! 🙂

      E legal que gostou do Aged 18. Acho um dos melhores JW até hj.

  5. Parabéns pelo -sempre- ótimo e arejado blog! JW 18 é, para mim, leigo, uma
    verdadeira coletânea de sabores, sensações e cheiros da terra de origem. Excelente blend !

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