O Cão Estrela – Johnnie Walker Red Label

Redlabel

Este é o ultimo post da série de whiskies abaixo de cem reais. E o último não podia ser outro senão o whisky escocês mais consumido no Brasil. O Johnnie Walker Red Label.

O Red Label é o whisky escocês mais consumido no mundo, da marca de whiskies escoceses mais consumida no mundo. Ele está, literalmente, em toda parte. Desde o restaurante internacional renomado até o boteco da esquina. Do decanter de cristal Baccarat na mesa de seu chefe até a mão do bêbado que fica na porta da sua casa. O Red Label é o Romero Britto do mundo dos whiskies, com a diferença que, quando vejo um Red Label, não tenho vontade de vomitar um arco-íris.

Aliás, falando no Romero Britto, ontem eu vi uma mulher totalmente vestida de Romero Brittos. Eu estava no trânsito, e ela passou há uns vinte metros de distância, na faixa de pedestres. Poucas coisas que vi na minha vida eram tão coloridas quanto aquela moça. Centenas de estampas de padrões e cores diferentes sobrepostas, dividindo seu corpo. Praticamente o cruzamento entre um pavão e um diagrama de anatomia humana.

E ainda que existam mulheres mais bem vestidas (muitas, aliás), artistas melhores (muitos, aliás), e whiskies melhores (muitos, aliás), há uma verdade indiscutível e irrefutável por trás das obras de Britto e do Red Label. Eles são um sucesso absoluto. E por uma razão: ambos foram criados para agradar. E só.

Mas tudo tem limite
Mas tudo tem limite

A razão do sucesso do Red Label também é, de certa forma, semelhante àquela de Britto. Não há complexidade. E isso é o genial deles. O Red Label é um whisky sem muito sabor, áspero e com pouco aroma. Mas por conta disso, por não ter qualquer profundidade, é que – ambos – agradam a quase todo mundo. E para te falar a verdade, por mais irritante que isso seja, nenhum deles está preocupado tentando ser complexo, profundo ou denso.

O Red Label é um blended whisky sem idade definida, resultado do casamento de mais de trinta e cinco single malts e grain whiskies. Seus principais maltes partem das destilarias controladas pela Diageo, dentre elas, Talisker, Cardhu, Caol Ila e Oban. Ainda que não exista indicação da idade dos whiskies em sua composição, é presumível que variem entre três (o mínimo exigido por lei na Escócia) e sete anos.

A história do Red Label é mais antiga que da própria marca Johnnie Walker. Ainda que seu fundador tenha sido um homem chamado John Walker, nascido em 25 de julho de 1805, a empresa passou a chamar-se Johnnie Walker apenas na primeira década do século XX, quando já estava sob controle de seus netos, Geroge e Alexander Walker.

Mas mesmo antes da renomeação, o Red Label já existia. Ele era conhecido como Special Old Highland Red Label 9yo. Um nome ótimo para se pedir uma dose quando já se está embriagado. Naquela época, ele já era comercializado na mundialmente conhecida garrafa de base quadrada, símbolo da Johnnie Walker. Foi apenas em 1909 que os whiskies foram rebatizados, e o Johnnie Walker Red Label recebeu o nome que tem até hoje.

Sete anos mais tarde nasceu Ray Conniff, o Red Label do... “jazz”.
Sete anos mais tarde nasceu Ray Conniff, o Red Label do… “jazz”.

Puro, o Red Label possui sabor doce, mais ou menos áspero, e muito levemente defumado. Mas isso não importa muito. Essa não é sua vocação. Vamos deixar uma coisa clara aqui: O Red Label não é um whisky para ser degustado puro. Seu objetivo é ser misturado em coquetéis, ou tomado com bastante gelo – a forma preferida do brasileiro beber whisky. E, para isso, ele funciona perfeitamente.

O Red Label custa em torno de R$ 90,00 (noventa reais). Mas você já sabe disso. Compará-lo a outros whiskies dentro de sua faixa de preço depende muito da forma com que será consumido. O Red Label é um whisky de combate. Não espere a profundidade de um single malt, ou mesmo de seu irmão mais velho, o Black Label. Afinal, muito provavelmente nenhum whisky em sua faixa de preço a teria. Mas para tomar com gelo, energético ou água de coco; para preparar um whisky sour ou um penicillin; ou mesmo para servir em uma festa, ele é uma ótima opção, considerando seu custo-benefício.

A verdade é que não é por acaso que o Red Label é o rótulo mais consumido da marca mais consumida de whiskies escoceses do mundo. Ele é praticamente um coringa no mundo dos whiskies. O Red label se adapta a praticamente qualquer situação, e cumpre sua função com excelência. Tipo um pôster do Romero Britto. Porque, às vezes, a gente só quer mesmo cobrir uma parede.

JOHNNIE WALKER RED LABEL

Tipo: Blended Whisky sem idade definida

Marca: Johnnie Walker

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: Aroma de grãos, doce e com alcool bastante presente.

Sabor: doce e levemente frutado com final um pouco defumado e bem picante

Com água: Com água o sabor fica menos doce e mais defumado

Preço: R$ 90,00 (noventa reais)

27 thoughts on “O Cão Estrela – Johnnie Walker Red Label

  1. O Kabukin não conheço, o Cavalo Branco faz tanto tempo que não bebo que já nem lembro mais o seu sabor pra dizer se gosto ou não. Agora, o Red Label reconheço que pela abundância e disponibilidade no mercado é sempre um porto seguro. No entanto, devo dizer que fiquei um pouco frustrado com a sua indicação. Criei uma certa expectativa pela terceira opção e sinto dizer fiquei um pouco decepcionado. Esperava ao menos um Famous Grouse, que me agrada bastante. Isso pra não falar no Glen Grant que é um Single Malt que desce muito bem e tem seu preço abaixo dos R$ 100,00.
    P.S. Você escreve bem pra cacête. É sempre um prazer ler os seus posts. Parabéns!

    1. Antonio, é que é realmente impossível fazer posts sobre whiskies baratos e ignorar o Red. Não é bem uma indicação. É mais uma obrigação. Ele realmente não é o melhor whisky na faixa de preço dele, mas por conta da facilidade e do marketing, ele acaba se tornando a opção mais frequente para a maioria das pessoas. Pessoalmente, também prefiro os dois que você citou acima – o Famous Grouse e o Glen Grant – ao Red.

      Em breve farei mais uma bateria de whiskies abaixo de R$ 100,00. Tem muita coisa barata e bem tomável. O Famous Grouse, Glen Grant, Buchanan’s. Até o Teacher’s. O coração dele é um single malt chamado Ardmore, que é ótimo!

      Valeu pelo P.S.!

  2. Belíssimo texto e análise.

    Complementaria, de maneira muito ‘insípida’, que vejo o Red Label como aquele amigo ‘sem noção, pau pra toda obra’.

    Se você quer um churrasqueiro ele é o cara, se precisa de carona não ligue para outra pessoa e, nas depressões emotivas, te segue até os confins do inferno por um bar aberto.

    É aquela calção velho mas inteiro – sua mulher odeia que você o use, mas você vai ao clube, ao supermercado, à padaria, a um bar tranquilo.

    Parabéns, ‘again’.

  3. Uma vez um policial federal, amigo meu, disse que se bebia mais red label no Brasil que o total da produção mundial. Se isso for verdade, as semelhanças com Romero Britto são ainda maiores…
    Parabéns pelo blog, você escreve muito bem…..

  4. Sábio Cão, ótimo texto. Tenho lido alguns ao longo dos dias, agrada-me o estilo empregado e as informações passadas de forma leve e interessante.

    A respeito do Red Label, só digo que gostaria muito de ter vivido os anos 1950-60, se não me engano o último período antes de virar standard. Análises no YouTube de quem tem garrafas dos anos 1960 dão conta de um produto de grande qualidade.

    Ainda, até 1992 o Red tinha teor alcoólico de 43,4%, o que devia ajudar a bebida mais do que os 40% empregados a partir daquele ano.

    Enfim, Red Label segue sendo uma excelente opção para fazer drinks, na minha humilde opinião, e penso que é como um terno: a gente quase não usa, mas precisa ter um à mão.

    Abraço.

    1. Exato, Carlos. Sabe que há um tempo fizemos uma degustação somente de red labels, de diferentes épocas. O preferido dos participantes foi o de 43%. Havia também um que – imaginamos ser da década de oitenta – que era ótimo. Isso desmistificou para nós uma ideia bem comum – que blended whiskies tendem a ter grande constância. Até é verdade, mas ao longo de um período grande de tempo, até eles estão sujeitos a mudanças.

  5. Sou apreciador nato do Red Label, mesmo às vezes me aventurando em algum 12 anos, como Old Parr ou Chivas, mas o sabor – na minha opinião – defumado com um toque levemente amadeirado, não me faz abandonar esse blended nunca. Nem o Black Label dissuadiu o meu paladar com relação ao Red. Gosto não se discute!

    1. É isso aí, meu caro. O importante é que você experimentou os outros e voltou para ele!

      Aí vai uma pergunta de pura curiosidade – você sentiu muita diferença no sabor nos últimos anos?

  6. Qual seria a melhor forma de experimentar para uma experiência sensorial plena que leve a se comparar um uísque ao outro?

    1. Caro Diego, o ideal é provar em taça ISO ou Glencairn (ou copita), primeiro puro, depois com algumas gotas de água, pra abrir e tirar o alcool da frente.

  7. Que lixo de texto.

    Eu aqui procurando a análise sensorial do uísque, e me deparo com preconceitos contra Romero Britto e Ray Conniff. Preconceitos infinitos, afinal uísque caro também serve pra drinks sofisticados, não é só Res Label…

    MELHORE!

  8. Aprendi a beber com meu avô e meu velho, whisky era raro , e caro. Meu velho era piloto comercial e meu avô tinha seus contatos no Porto do RJ… O Red naquele época era top e quando pintava uma garrafa de Haig , Vat69 ou Cuttysark era uma festa , mas o Red era o carro chefe. O Brasil mudou , o whisky teve o acesso facilitado e os 12 , 15 , 18 , 21 anos apareceram e depois os maltes puros para oferecer opções . O efeito colateral disso é que os “bebedores de casamento” definem a qualidade olhando idade e preço , e daí o mau julgamento. Sua definição foi perfeita , e sem “esculachar” aquele que chamo o Fusca dos scotchs!

  9. Até quando é para dizer que o whisky não é lá aquelas coisas o texto é elegante. Meus amigos dizem que Red Label não dá para chamar de whisky. Mas provavelmente eles entendem menos que eu. É fácil de achar e, como dito acima, com bastante gelo ele cumpre seu objetivo.. Não vi críticas depreciativas em nenhuma avaliação. Parabéns pelos textos e pela informação.

  10. Johnnie Walker Red Label Romero Britto, analogia perfeita. Arte para quem não está muito imerso nem preocupado com arte e Whisky pra quem não está muito ligado a complexidade dos sabores mas sim com o status da marca. Entre o senhor andante, e o cavalo branco e a galinha famosa, fico com os bichinhos.

  11. O ‘Red’ está na minha memória afetiva. Foi por aí que comecei. Junto com o Black Label, foi whisky dos tempos nostálgicos em que frequentava um pub “retrô” adorável em São Paulo. Isso já faz muitos anos. Provei diversos whiskies muito superiores ao Red ao longo do tempo (blended e single malts), mas a ele retorno de vez em quanto para rememorar algumas coisas. Ou curtir um filme como “The Hunt for Red October”, com o Red num copo com bastante gelo enquanto esqueço deste mundo louco que ficou do lado de fora.

  12. Eu gostaria de saber por que por um bom tempo a graduação alcoólica do red feeshop era 43 e no paoyde açucar por exemplo era 40 . Alguém sabe a razão?

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