Insanidade Coletiva – Maker’s Mark

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Loucura é um tema recorrente aqui no Cão. Hoje, vou novamente falar de loucura. Mas de loucura coletiva. Daquelas vezes que todo mundo enlouquece, e você não entende bem a razão. Porque, afinal, na sua cabeça, aquele é um motivo banal, que não deveria tirar ninguém do eixo. Ou não.

Para ilustrar meu ponto, vou falar sobre o McRib. Ele já foi vendido no McDonald’s aqui no Brasil, mas, caso você não tenha tido a oportunidade de degustar esta revolução da baixa gastronomia, elucidarei do que se trata.

O McRib consistia em um pão tipo baguete, recheado de cebola, picles, e um paralelepípedo feito de uma substância que se assemelhava a carne suína. Segundo a lanchonete, o sanduíche era produzido com as costelas do porco. Para finalizar, algo parecido com molho de churrasco era utilizado para dar liga à iguaria.

Acontece que o McRib fora criado na década de oitenta, quando as pessoas achavam normais coisas como um chocolate voltado ao público infantil em forma de cigarro e não tinham a mais rasa ideia do que era colesterol. Mas com a redescoberta do bom senso nos anos noventa, as vendas do McRib foram diminuindo, e culminaram em sua extinção em 2005.

Michael Jackson, e o ET com seu dedo aflitivo. Normal nos anos 80.
Michael Jackson, e o ET com seu dedo aflitivo. Normal nos anos 80.

E o que parecia simplesmente uma decisão estratégica da maior rede de lanchonetes do mundo, virou uma calamidade publica. Os apreciadores daquela criação se revoltaram, invadiram e depredaram lojas da rede, destruíram carros e até viraram uma carreta de nove eixos. O estrago foi tão grande que o McDonald’s voltou em sua decisão, e anunciou que aquilo teria sido apenas uma pegadinha. E os black-blocks do fast-food simplesmente se acalmaram e pediram desculpas pelo caos que haviam criado.

Uma situação muito parecida aconteceu em 2013 com um polêmico bourbon. O Maker’s Mark. A marca teria decidido reduzir a graduação alcoólica de seu whiskey, de forma a atender a crescente demanda. A redução seria de apenas três pontos percentuais, passando de 45% a 42%. A medida causou furor dentro e fora das redes sociais. Quando os líderes do movimento já organizavam uma invasão à destilaria (brincadeira, isso nunca aconteceu), a Maker’s Mark anunciou que não mais faria a redução, pedindo desculpas sinceras a seus fãs, e dizendo que aquele problema – o de ter alta demanda – era, na verdade, até que um bom problema de se ter.

Localizada em Loretto, no Kentucky, a Maker’s Mark é uma das destilarias com maior capacidade produtiva dos Estados Unidos. Apesar disso os métodos de produção da destilaria não mudaram muito nos últimos cinquenta anos.

Exemplo disso são os tanques de fermentação. Na contramão da tendência mundial de utilizar tanques de aço, a Maker’s Mark continua fermentando seu mosto em tanques feitos de cipreste. Estes tanques auxiliam o processo enzimático da fermentação, ainda que possuam maior custo de manutenção. Outra destilaria que ainda possui tanques de madeira é a Glen Grant.

Ao contrário da carne suína do McDonald’s, a composição do mosto do Maker’s Mark é conhecida. Assim como todos os bourbons, seu ingrediente principal é milho. No entanto, diferentemente da maioria das destilarias de bourbon whiskey, o Maker’s Mark não leva centeio, mas, sim, trigo. Essa substituição torna o bourbon menos picante, e contribui para sua suavidade. Tanto o milho quanto o trigo empregados são cultivados nas proximidades da destilaria. Além disso, a Maker’s Mark possui sua própria cepa de levedura, responsável pela fermentação do mosto.

A destilação ocorre em destiladores de cobre. O destilado sem maturação, conhecido como “White dog”, sai dos alambiques com graduação alcoolica de 70%. A Maker’s Mark se preocupa tanto com a consistência de seu produto que emprega uma equipe de mais de vinte profissionais cuja única função é sentir o aroma e o sabor de praticamente todos os lotes do destilado, antes que sejam maturados em suas barricas. Em outras palavras, são vinte pessoas pagas para fazer um happy hour infinito. Trabalho desumano, este.

Coitadinho.
Coitadinho.

A maturação do Maker’s Mark ocorre em barricas virgens de carvalho americano. Assim como a Macallan, na Escócia, e a Jack Daniel’s, também em Kentucky, a Maker’s Mark realiza rodízio de barricas em seu armazém. Os barris passam ao menos três verões na parte superior dos galpões, onde é mais quente. A alta temperatura acelera o processo de maturação. Depois, os barris são levados para os andares mais baixos. O processo de maturação completo é, em média, de seis anos.

O toque final, comparável ao excepcional molho de churrasco do McRib, é a colocação do lacre de cera vermelha, marca distintiva da destilaria. O processo é feito a mão até hoje. Caso a cera escorra sobre o rótulo, a garrafa é descartada. Contra este desperdício de um bom bourbon, ninguém se revolta.

No Brasil, uma garrafa do Maker’s Mark custa, em média, R$ 150,00 (cento e cinquenta reais). É praticamente o mesmo preço de um Woodford Reserve, e pouca coisa mais barata do que um Jack Daniel’s Single Barrel. Escolher entre os três é uma questão de gosto.

Na opinião deste Cão, o Maker’s Mark é um excelente bourbon para ser tomado puro. Entretanto, sua verdadeira, incontestável e quase insuperável vocação é a de ser misturado em coquetéis. A suavidade proporcionada pelo trigo casa perfeitamente com a maioria das receitas apresentadas nestas páginas caninas que levam whiskey. Assim, se você está procurando uma garrafa versátil de whiskey, que vá atender a todas as suas necessidades etílicas, não é necessário criar qualquer polêmica. O Maker’s Mark é o que você procura.

MAKER’S MARK

Tipo: Bourbon sem idade definida

Destilaria: Maker’s Mark

Região: N/A

ABV: 45%

Notas de prova:

Aroma: frutas vermelhas e calda de caramelo. Baunilha

Sabor: xarope de maple ou caramelo, especiarias, baunilha, frutas vermelhas.

Com água: o sabor doce se reduz bastante e o sabor de especiarias e baunilha se ressalta. O final fica mais curto. É um whiskey que fica melhor sem água.

Preço: R$ 150,00 (cento e cinquenta reais)

14 thoughts on “Insanidade Coletiva – Maker’s Mark

  1. Dear Dog,
    Não sei se vc conhece, mas aí vai a dica. Em Berlin tem uma loja de azeites, vinhos, destilados chamada Vom Fass, onde vc pode degustar os produtos que são vendidos a granel. Depois de escolhidos vc engarrafa na quantidade desejada para comprar. Tem whiskies de Speyside, Islay etc. Em Sampa, na Rua Canário, quase esquina da Av. Rouxinol, em Moema, tem uma franquia deles. Acho que vale a pena conhecer, embora os preços não sejam nada convidativos.
    Abs.
    In Dog We Trust.

      1. Usualmente os bourbons americanos são “whiskey” mas esse Maker’s Mark está grafado como “whisky”, que são scotch’s.
        Sabem me dizer o porquê dessa grafia?

        1. Na verdade, a lei americana deixa qualquer grafia. Whiskey ou whisky. Mas por usos e costumes, usa-se mais “whiskey”. A Maker’s resolveu simplesmente ser diferente, e usar a grafia “whisky”

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