Especial Escócia – Visita a Bruichladdich

Disse uma vez Fernando Pessoa que tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Por mais que eu deteste utilizar quase clichés por aqui – independente e sua origem – não poderia deixar de começar este texto com a citação.

É que depois de quase vinte e quatro horas viajando, finalmente chegamos à terra dos whiskies enfumaçados. Islay. Foram doze horas de voo, divididos por uma conexão. Mais seis horas em um micro-ônibus, que, por sua vez, passou outras duas horas dentro de uma balsa.

Ao chegar na ilha, não conseguia me decidir se o que queria mais era dormir, tomar um banho ou beber. Por sorte, os habitantes possuem uma curiosa forma de resolver tais dilemas. Ao chegar a meu hotel, me deparei imediatamente com o bar.

Após toda higiene pessoal, refeição, algumas doses e, por fim, uma boa noite de sono, estava pronto para conhecer a primeira das destilarias da ilha que visitaríamos. A Bruichladdich.

A Bruichladdich foi fundada por William, John e Robert Harvey, irmãos em uma família já veterana no ramo dos whiskies e proprietária das destilarias Yoker e Dundas Hill. O trio, entretanto, tinha uma ideia ambiciosa. Construir uma destilaria que, desde o início, se destacasse como uma exceção a tudo aquilo que já existia em Islay. E deu certo. Até hoje, a Bruichladdich é uma das mais encantadoras destilarias da ilha.

E uma das mais azuis

Atualmente, a destilaria é uma das mais destemidas da Escócia. Talvez por isso se auto intitulem “Progressive Hebridean Distillers” –algo como “Destiladores Progressistas das Hébridas”. Isso fica claro ao observarmos seu enorme portfólio. São três linhas de whisky. Uma é razoavelmente defumada; outra, sem nenhuma defumação e uma terceira absurdamente defumada – Octomore. Tivemos a oportunidade de provar um incrível exemplar de cada uma das linhas em nossa visita.

Como se isso não bastasse, a Bruichladdich produz também um Gim, chamado Botanist, que utiliza nove botânicos clássicos e mais de vinte ervas e flores locais. Ele é destilado em um alambique especial e adaptado, chamado Lomond, que foi recuperado pela Bruichladdich da antiga destilaria Inverleven. Por não ser uma das peças de maquinário mais belas do mundo, o alambique recebeu o nome de Ugly Betty (Betty, a Feia).

Bete

Vamos ao papo técnico. A Bruichladdich produz em torno de um milhão e meio de litros de whisky por ano. Sua fermentação leva em torno de setenta e cinco horas, em washbacks de madeira. A Bruichladdich faz todo seu trabalho com apenas um par de wash stills (alambiques de primeira destilação) e um sprit still (alambique de segunda destilação), além de seu Lomond, dedicado ao gim Botanist.

A parte mais curiosa sobre o processo de fabricação dos Bruichladdich é a graduação alcoolica que o destilado vai para a barrica. A maioria das destilarias de islay dilui seu new-make, para que entrem no barril com 63,5%. A Bruichladdich, entretanto, faz diferente. Seu destilado começa a maturação com 68,5%. Segundo nossa guia, esta diferença faz com que o espírito extraia o máximo da madeira. Uma resposta polêmica, mas crível.

Além das expressões tradicionais, ao visitar a destilaria, pudemos provar três whiskies direto da barrica. Um de cada linha principal. O favorito deste Cão foi um Port Charlotte, maturado em barricas previamente usadas pelo famoso vinho Mouton Rotschild.

Fantástico

Além disso, pode-se engarrafar seu próprio single malt. São as edições Valinch, disponíveis apenas na destilaria, e que variam de acordo com o tempo. A garrafa que ilustra este post é um Valinch maturado em barricas de vinho tinto de uva shiraz, selecionada por um funcionário da destilaria – Administrador de TI e de Compliance para o consumidor, Roddy MacEachern.

Ao sair da Bruichladdich, minha impressão foi de deslumbramento. É incrível como uma destilaria que valoriza tanto a tradição e o terroir pode, ao mesmo tempo, ser tão criativa e inovadora. Das expressões mais simples às mais sofisticadas, a Bruichladdich literalmente destila criatividade.

Spirit Safe com aula de gaélico. Clachan a Choin significa “o saco do cachorro”. Sério.

7 thoughts on “Especial Escócia – Visita a Bruichladdich

  1. Parabens pelo texto. Resume de forma brilhante como foi a nossa visita. Sera sempre uma referencia nas minhas recordacoes.

  2. Finalmente chegou a Islay, mestre! E visitou a Bruichladdich! Eu estava ansioso hahaha.
    Espero em breve comprar o meu PC Heavily Peated.
    Abraço!

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