
Como a maioria de vocês já sabe, tenho um bar de whisky e coquetelaria em São Paulo. Algo que me dá um pouco de alegria e uma boa dose de trabalho. O texto abaixo foi publicado originalmente em minha conta do Instagram, mas resolvi também trazê-lo para este ambiente mais formal, com algumas inserções.
Uma amiga me apresentou uma ideia que, expandindo, postulo a seguir: viver é dar um voto de confiança. Há um pacto silencioso, quase invisível — o de que o outro vai cumprir a parte dele.
Quando entramos num carro com alguém dirigindo, confiamos que essa pessoa nos levará ao destino. Confiamos que o médico sabe o que faz, que o anestesista não errou a dose, que o farmacêutico colocou o comprimido certo no frasco. Acordamos acreditando que o gás não vai vazar, que o prédio não vai desabar, que o elevador foi revisado.
O cotidiano exige uma boa dose de fé civil. E, às vezes, nem precisamos clicar no quadradinho de “li e concordo com os termos”. É um acordo tácito, como se diz no Direito. Quando passamos a testar o gás todos os dias, desconfiar da estrutura do prédio ou do barulho do elevador, a vida vira — ainda mais — trincheira.
O que aconteceu nas últimas semanas é isso. A gente não entra num carro todo quebrado, esfumaçando. Desconfia do elevador que geme e do médico que trabalha numa sala suja. Mas, até agora, vulgarizava o ato de beber. Não é romântico tomar um gim barato num espaço precário ou de um desconhecido na rua — é apenas ignorância.
Sempre defendi o conhecimento. Conhecer, questionar, explorar: é o que nos faz humanos. O antídoto para o medo é justamente o saber. Entender os processos, reconhecer os riscos e mitigá-los até que se tornem irrelevantes. E há muita gente nessa indústria que faz o mesmo — negócios pautados em conhecimento, conduzidos sem leviandade, com a máxima segurança em mente.
Na semana passada, visitei dois bares em que confio 100%. Bebi nos dois. Na quinta e na sexta, fui ao Caledonia e fiz exatamente o que faço quase toda semana: provei os coquetéis para aferir padrão e conversei com o Alison, nosso chefe de bar, sobre duas novas criações. Fiz com serenidade — e acordei bem no dia seguinte para escrever este texto.
Não sou sábio, filósofo nem gênio. Mas acredito que a combinação entre conhecimento e confiança — ou melhor, a confiança no conhecimento — é a melhor forma de seguir em frente.
Um dia, ainda vou saber tudo sobre elevadores.