Jim Beam Black 7 Anos – Cafeína
Este é o segundo post sobre o Jim Beam Black. A nossa prova da primeira versão pode ser lida neste link. Recomendamos a leitura, porque traz algumas informações técnicas deixadas de lado nesta matéria
Aconteceu o que eu mais temia. Adquiri uma nova mania: café. A história começou inocentemente, de uma forma meio orgânica. Comprei uma dessas máquinas de espresso – com s, porque com xis é o trem – que estava em promoção numa black friday qualquer. Comecei com café em pó, desses gourmet, de supermercado. Sem açúcar, óbvio, porque de doce já tem a vida. Mas aí, me falaram que de gourmet eles só tem o nome, e o bom era o café especial, moído na hora.
Arrumei um moinho manual, e aprendi a regular. Moagem fininha para o espresso, mais grossa para o coado. Comprei também um café especial, de torra clara, porque aprendi que o escuro mascara os defeitos. Ganhei mais tríceps em um mês moendo café do que em dois anos de academia. No final do dia o braço ficava até tremendo, não sei se por causa do esforço, ou da oitava xícara de café. Deu cãimbra, então comprei um moinho elétrico. E uma balancinha de precisão.
Agora, ao escrever este texto e revisitar o assunto, me sinto tentado a abrir uma aba e comprar um Origami. Ou talvez uma french press decente. Mas tenho que resistir, porque quero manter o número de obsessões da minha vida constante. Já sou maluco por whisky, fotografia, cinema e carro. Não tem mais tempo nem dinheiro pra outra coisa. Mas não consigo abandonar tudo e volar à capsula. Seria como me acorrentar de novo à parede da caverna, observando as sombras dos discípulos do Deus Kalita.
As cápsulas, admito, têm seu valor — sobretudo para quem acha que café é só um empurrão químico pra sair da cama. Mas, como quase toda solução moderna, sacrificam alma em nome da eficiência. Os métodos tradicionais dão trabalho, sujam a pia e tomam tempo. Mas devolvem algo que a praticidade pasteurizou: caráter. E caráter, como veremos a seguir, é exatamente o que o Jim Beam Black resolveu recuperar, com seu Jim Beam Black 7 anos.
A nova versão do Jim Beam Black que chegou recentemente ao nosso país foi lançada nos Estados Unidos em Junho de 2024. E não é uma mudança meramente estética – ainda que, na opinião deste Cão, o visual tenha melhorado um tanto. O novo Jim Beam Black agora carrega uma declaração de idade. Ele é composto por whiskies de, no mínimo, 7 anos. Além disso, a graduação alcoólica subiu de 43% para 45%. Esta últma, uma mudança que será celebrada por todos aqueles que gostam de usá-lo em coquetéis. O que permaneceu foi a a mashbill. 75% de milho, 13% de centeio e 12% de cevada maltada.
Curiosamente, esta não é a primeira vez na história que o Jim Beam Black declara sua idade. Na década de 70, ele tinha 8 anos, e era engarrafado a 45% de graduação. Bem semelhante ao atual. Na década de 80, ele perdeu dois graus percentuais de álcool. E em 2014 a idade foi completamente apagada do rótulo – um claro sinal de que o líquido havia ficado mais jovem. Estima-se que algo em torno de seis anos e meio.
Muito se pode discutir sobre a razão de tais mudanças. Sob uma ótica mais inocente, poderia-se argumentar que os estoques de bourbon mais maturados rareavam, e, em nome da padronização, a indústria não teve outra alternativa senão reduzir a idade de seus whiskies. Por um viés menos poliano, porém, poderia afirmar que o objetivo era reduzir custo e alargar as margens. Nada de errado, a indústria do whisky não foi criada para fazer caridade a seus ébrios consumidores.
Ocorre que, em 2014, havia uma divisão mais clara entre bourbons – por assim dizer – de guerra, e aqueles voltados para os entusiastas. A indústria porém, amadureceu, a concorrência aumentou, e escolhas realizadas naquela época não encontram mais justificativa tão facilmente. Isso se deu, em boa parte, por conta dos bares de coquetelaria, que se multiplicaram nesta última decada. E com eles, uma casta de bartenders que sabem, exatamente, o que querem de um bourbon.
De acordo com Fred Noe, master distiller da Jim Beam, a ideia foi “trazer de volta o Jim Beam Black como ele era na época que crescemos ao lado da indústria“. A escolha dos 7 anos e a graduação de 45% foi feita em conjunto com seu filho, Freddie, também master distiller. Os dois provaram, às cegas, diversos Jim Beam de idades e ABVs variados, até chegar a um consenso. Um whisky mais oleoso, e com finalização mais intensa.
Ao contrário de outros bourbons premium do mercado, o Jim Beam Black é feito de uma mistura de barris, retirados de diferentes andares da rickhouse. A ideia é justamente focar em padronização. Barris de andares mais baixos maturam mais vagarosamente, e trazem um álcool menos pronunciado. Barris do topo conferem mais notas provenientes da maturação, mas trazem também um certo apimentado, a ser balanceado.
No fim das contas, o novo Jim Beam Black talvez seja como aquele café coado que a gente reaprende a valorizar depois de flertar demais com a cápsula: não é revolucionário, não vai mudar sua vida — mas tem substância, tem história, e exige um mínimo de atenção. É um retorno ao básico, só que com consciência. E talvez seja esse o maior luxo da vida adulta: redescobrir o que já era bom, antes de o marketing nos convencer do contrário.
JIM BEAM BLACK 7 ANOS
Tipo – Kentucky Straight Bourbon
ABV – 45%
Região: N/A
País: Estados Unidos
Notas de prova
Aroma: adocicado, açúcar mascavo, caramelo, baunilha.
Sabor: adocicado, com aç[ucar mascavo e caramelo queimado. Final longo, com baunilha e caramelo.