The Macallan Harmony Vibrant Oak

“Quando abalado, inevitavelmente, pelas circunstâncias, volte imediatamente para si mesmo e não perca o ritmo. Você terá uma melhor compreensão da harmonia se continuar voltando a ela.” postulou o imperador filósofo. O conselho busca atingir a ataraxia – o estado de compostura frente a situações perturbadoras. Em outras palavras quiçá não muito mais simples, à equanimidade. Ou, aproveitando um substantivo da moda, uma resiliência pacífica. Sendo um pouco mais direto: sustentar aquele semblante de capivara quando tudo está desmoronando a sua volta.
Mas, afinal, o que é a harmonia? Na filosofia estoica, é mais do que um mero estado de equilíbrio; é a aceitação serena da ordem natural do mundo. É a coesão entre a razão e a emoção, entre o controle e à entrega. As vezes você segura, nas outras, se joga – mas, sem YOLO, claro. O conceito, porém, não é monopólio do estoicismo. E, arrisco dizer, guinando o texto para a filosofia de balcão, que cada ser humano tem sua própria harmonia existencial.
Para mim, é trabalhar com whisky. Para outros, é fazer piruetas subrehumanas em alturas arriscadas. Como – e desculpem-me pela digressão um tanto fora de contexto – certo acrobata do Cirque du Soleil. É lá, num não-voo controlado, que ele encontra sua harmonia. E talvez para um criador de whiskies, como Diane Stuart, da The Macallan, seja no blending room, misturando diversos barris para atingir harmonia. Dentro e fora do copo.
É neste contexto que surge o novo The Macallan Harmony Vibrant Oak. O whisky foi criado em parceria com o Cirque du Soleil, que, inclusive, realizou um espetáculo na destilaria, chamado Spirit. Assim como os demais whiskies da coleção, ele foca na sustentabilidade. Todos os materiais são recicláveis – ou reciclados. A caixa, por exemplo, é feita de lascas de carvalho recicladas, um subproduto da produção dos barris da destilaria.
A maturação do The Macallan Harmony Vibrant Oak acontece em barris de carvalho americano de primeiro uso de jerez, e refil de ex-jerez. Lembra um pouco o The Macallan Amber, mas um pouco mais apimentado. A The Macallan não diz claramente se carvalho europeu é utilizado no whisky. Porém, pelo perfil de cor – que é natural – e sensorial, a predominância é da madeira americana.
Sensorialmente, o The Macallan Harmony Vibrant Oak traz notas de baunilha, caramelo e frutas secas, com apimentado e gengibre. É mais adocicado e mais intenso do que um Sherry Oak, por exemplo. O final é médio e apimentado, com especiarias e mel. Não é um perfil sensorial muito frequente nos The Macallan, especialmente, não nos últimos anos.
O The Macallan Harmony Vibrant Oak é a quarta edição da Harmony Collection, uma série de whiskies que foca na harmonia entre o homem e a natureza. As primeiras duas edições também tinham uma relação de harmonização com elementos. Era o caso do Harmony Collection Intense Arabica, criado para se consumir com café, e do maravilhoso Rich Cacao – que como você já deve ter deduzido, combinava com chocolates.
E, enfim, talvez seja essa a grande ironia da harmonia: não se trata de imobilidade ou perfeição, mas de encontrar sentido no fluxo, seja ele o da vida, do espetáculo ou do líquido no copo. No Cirque du Soleil, a harmonia está na precisão do movimento, no controle absoluto que permite a ilusão do impossível. No The Macallan Harmony Vibrant Oak, ela se revela na interação entre madeira e destilado, no balanço sutil entre dulçor e especiarias.
E assim, entre filosofias antigas e acrobacias contemporâneas, voltamos ao copo – que, no fundo, é sempre um bom ponto de chegada. O The Macallan Harmony Vibrant Oak pode não prometer ataraxia, mas entrega uma experiência sensorial bem resolvida, que respeita a tradição sem se prender a ela. Afinal, harmonia não é sobre imutabilidade, mas sobre saber quando segurar firme e quando simplesmente deixar-se levar.
THE MACALLAN HARMONY COLLECTION VIBRANT OAK
Tipo: Single Malt sem idade definida
Destilaria: The Macallan
Região: Speyside
ABV: 44,2%
Notas de prova:
Aroma: Baunilha, mel, frutas cristalizadas
Sabor: Mel, baunilha, frutas cristalizadas. Final medio, apimentado, frutado e com especiarias.