The Macallan 25 – Bolo Real

Abro, com o cuidado de quem desarma uma bomba, a fatura de meu cartão de crédito. O fim do ano não ajudou. Faço uma apostinha mental: se for menor que certo valor, fico sem beber hoje. Confiro o número com perplexidade. Clonaram meu cartão – sussurro, severamente, para minha esposa. Não é isso não, é que eu passei o cabelo e a maquiagem da festa de fim de ano nele. Pisco de incredulidade. Mas a turma da maquiagem usou fulerenos endoédricos pra fazer o brilho e justificar esse preço? O que sucedeu foi uma discussão conjugal que culminou numa reflexão óbvia, mas necessária. Cada um tem uma percepção diferente de valor das coisas. Pra mim, é um absurdo pagar o […]

Old Pulteney Huddart – Mitologia

“Não abre essa janela, você está de cabelo molhado, pode entrar um golpe de ar e você ficar resfriado” – todos já ouvimos essa frase de alguém. Provavelmente, no seio de infância, de algum adulto mal-informado. “Cuidado para não engolir o chiclete, porque ele vai ficar grudado pra sempre no seu estômago” é outra. Que é mentira também. O chiclete sai por baixo em alguns dias, totalmente incólume – como o milho. São tantos exemplos que dá pra fazer um texto só deles. Boa parte envolve água, ou a praia. Não pode nadar por uma hora depois de comer qualquer coisa. Depende, se você não comer um boi inteiro e depois bancar o Michael Phelps, não tem muito perigo. Tomar […]

Jack Daniel’s Single Malt – Coincidências

A história é cheia de gente importante que morreu de forma estúpida. Vou dar aqui exemplos de dois indivíduos notórios, mas que comprovaram que uma vida extraordinária não exime ninguém de uma morte trivial. Aliás, a mesma morte trivial. O primeiro deles é o compositor francês Jean Baptiste Lully. Lulli nasceu na cidade de Florença em 1632, de uma família com poucas posses. Seus pais possuíam um moinho, numa época de guerra e praga na Itália. Na infância, Lully recebeu pouca educação formal e musical. Um pouco mais velho, aprendeu a tocar violão com um padre franciscano. Tornou-se autodidata no violino e na dança – e passou a se apresentar em público, vestido de arlequim, cantando e dançando. E foi […]

AnCnoc 12 anos – Homonimos

Na escola, eu tinha um amigo que se chamava Christiarley. Ninguém acertava a fonética de primeira. Por outro lado, o nome trazia certa singularidade. Nomes são uma coisa engraçada, alguns são terrivelmente comuns, e exigem que seu detentor compense pela personalidade. Outros são tão únicos que precedem qualquer juízo. Isso inclusive, acontece muito no setor de entretenimento. Imagine tentar virar um grande artista, e, repentinamente, descobrir que alguém que já chegou lá tem o mesmo nome que você. Foi o caso de Michael Douglas e Michael Keaton, que, por acaso, se chama também Michael Douglas. Pode acontecer também de você ser um jogador de golfe profissional, e todo mundo te pedir autógrafo por causa de seu papel em Parks & […]

Old Pulteney 12 anos – Aurora Boreal

Há milhares de anos, vikings e indígenas na América do Norte observavam o céu mesmerizados. Uma cortina de luz pulsante e sinuosa se apresentava no horizonte. Era como se um grande rio entremeado por montanhas se estendesse pelo céu, brilhando numa paleta de cores que variava do verde claro ao roxo, com vividez impressionante. Inuítes, Chipewyan e Vikings tinham nomes diferentes para aquele fenômeno, que hoje conhecemos como Aurora Boreal. A explicação também era diferente. Os Nórdicos acreditavam que as luzes vinham das cintilantes armaduras das Valquírias, que cavalgavam no congelante céu do inverno. Atualmente, entretanto, a ciência já desvendou o mistério. São partículas carregadas de vento solar, que colidem com a atmosfera da terra e produzem este maravilhoso efeito. […]

Drops – Benromach 40 anos

40 anos, first-fill, oloroso, cask strength. As palavras soam como um feitiço para qualquer entusiasta de whisky. A conjunção delas traz quase a certeza que se está diante de algo fora do comum. É o caso do Benromach 40 anos, recentemente provado por este Cão. Não há nada de ordinário a respeito do Benromach 40 anos. Ele é a expressão mais maturada da linha oficial da Benromach. É uma edição limitada anual, que rende pouco mais de mil garrafas por tiragem. No caso do 2021 – provado por este Cão – foram quatro décadas, desde 1982, maturando em barris de carvalho europeu de ex-jerez oloroso. A graduação alcoólica é também surpreendente – 57,1% – especialmente considerando sua idade. Scotch whiskies […]

Visita à Union – Leviatã

Criaturas mitológicas gigantes povoaram a imaginação humana desde tempos imemoriáveis. São a materialização do temor do desconhecido. Seja por mares jamais navegados ou terras nunca desbravadas. A lista é grande, e se alonga pela mitologia, folclore e literatura. Moby Dick, Kraken, Leviatã, Amarok (o lobo, não o carro). Em comum, seu tamanho gargantual, e a incredulidade de quem os supostamente viu em carne e osso. A Union Distillery, em Bento Gonçalves, talvez seja uma lenda destas, no folclore do whisky brasileiro. Uma destilaria enorme, instalada em um vale cheio de vinícolas, e capaz de rivalizar em tamanho e capacidade com algumas notáveis fábricas escocesas. Parece material de lendas. Mas, neste caso, por mais cafona que pareça esta introdução, é verdade. […]

Union Pure Malt Wine Cask Finish – Karate

Conselhos valiosíssimos podem vir dos lugares mais improváveis. Como, por exemplo, do Senhor Miyagi. O sensei fictício tem frases ótimas, aplicáveis a uma miríade de situações na vida. Há ensinamentos sobre poder restaurador de uma refeição, em “melhor ser incomodado de barriga cheia do que de barriga vazia“. E também sobre a responsabilidade docente “não há maus alunos, apenas maus professores“. Alguns ensinamentos são difíceis de contestar. Como no singelo binômio existencialista, da morte e da vida, em “quem morre não vence“. Outros, porém, me parecem apenas alento “Para uma pessoa com ódio no coração, a vida é pior que a morte.”. Desculpe, Sr. Miyagi, mas já fiz muita coisa com ódio no coração, e ficou ótimo. Já cozinhei refeições […]

Highland Park 18 – Deus Nórdico

Loki, Thor, Odin, Freya e o temido Ragnarok. Graças à Marvel, quase todo mundo sabe um pouquinho de mitologia nórdica hoje em dia. Quer dizer, ao menos as histórias publicáveis. Porque há uma meia dúzida delas que – graças ao bom senso – provavelmente não sairão dos livros de mitologia tão cedo. Tipo quando Loki engravidou de um garanhão gigante e pariu um cavalo de oito patas, que mais tarde virou montaria de Odin. Mas essa fica pra outro dia. Outra dessas histórias é a de Kvasir, um poeta e o mais sábio dos homens. Kvasir foi concebido durante uma festa em que dois grupos de deuses – os Aesir e Vanir – comemoravam um tratado de paz. Mas não […]

Macallan Sherry Oak 12 – Superabundância

Superabundância de escolha. Não, eu não tenho nenhuma forma mais sucinta – ou menos espalhafatosa – de descrever o fenômeno. E, para falar a verdade, foneticamente, até gosto. A palavra superabundância, com sua retumbante aliteração, cria um eco capaz de exaltar o conceito. Que vou explicar a seguir, depois desta pequena digressão introdutória. A superabundância de escolha acontece quando tomar uma decisão se torna um processo mentalmente esgotante, por conta do enorme número de variáveis e possíveis resultados. O conceito foi primeiro cunhado pelo escritor Alvin Toffler, em um livro de 1970, chamado A Terceira Onda. De acordo com Toffler, não ter alternativa é quase tão ruim quanto ter alternativas demais. Há uma espécie de arco de sastifação. Deve haver […]