Prince of Wales – Reveillon

Tá quase acabando. Foram uns seis meses de Negroni Month. E umas vinte e sete Black Fridays, sendo que nenhuma valeu de verdade. Teve atrocidades como Labubu, bebê reborn e morango do amor. Mas está em seus derradeiros momentos, ainda que, sinceramente, preveja uma igual dose de barbaridade para o ano vindouro.

A vantagem é que, entre os dois, tem uma noite. O reveillon. Que segue mais ou menos o mesmo rito reconfortante – chegar em algum lugar, beber, comer algo, beber mais, cinco quatro três dois um ê, tomar mais uma taça de espumante e dormir de costas, com um só pé no chão para o mundo não girar, respirando pela boca.

Neste ano, porém, para quebrar, ou talvez, intensificar este ciclo, proponho um drink. Feito com alguns ingredientes bem comuns de festas de ano novo, dentre eles o onipresente espumante. O – nem tão – famoso Prince of Wales.

A história do Prince of Wales – a pessoa e o drink – podem ser encontradas no livro Imbibe, de David Wondrich. O coquetel fora criado pelo próprio príncipe de Gales, Albert Edward, filho da rainha Victoria. Acontece que as matriarcas reais britânicas tendem a viver bastante. O que torna o reinado de seus filhos um tanto curtos e tardios, como é o caso do atual Rei Charles e de seu tataravô, Albert Edward, que foi coroado apenas aos 60 anos de idade.

Edward

Antes disso, Edward, que, assim como Charles, era o prícipe de Gales, trabalhou oficialmente como representante internacional da coroa britânica. E, não oficialmente, como um playboy que viajou e bebeu o mundo inteiro. Era um apreciador de coquetéis com champagne, e foi autor de alguns “riffs” do champagne cocktail. Em 1860 ele visitou os Estados Unidos. O resultado da viagem foi este drink – o que explica por que um coquetel batizado com o título de um monarca britânico usa Rye Whiskey de base.

Existem algumas variações do Prince of Wales por aí. A mais clássica pede um torrão de açúcar e angostura bitters, bem como um pedacinho de abacaxi. A ideia é próxima de um classic champagne cocktail ou old fashioned – imbeber o torrão no bitter e marcerar – com a diferença que a técnica aqui precede um shake com um pedacinho de abacaxi. Este Cão não vê nenhuma boa razão para usar um torrão de açúcar ao invés de xarope de açúcar. O restante do ritual, porém, deve ser seguido, e será explicado no prólogo desta matéria.

Essa imagem será explicada em breve.

Algumas notas rápidas. David Wondrich diz que se pode usar abacaxi enlatado ao invés de fresco. O que até faz sentido fora do Brasil, mas, aqui, nenhum. Então, atenha-se a fruta original. A receita original pede champagne, mas sabemos que a maioria de nós beberá um espumante brasileiro ou uma cava durante as festividades e não há nenhum problema em utilizá-los. Nem todo mundo nasceu na família real britânica. Apenas tente escolher algo não muito doce. Nada de moscatel ou um lambrusco safado aqui.

Por último, escolha um rye decente. Este Cão utilizou Sazerac, mas um High West também fará maravilhas. A nota mentolada e apimentada do rye é a chave para equilibrar o drink. Por isso, um bourbon fará menos sentido neste caso – mesmo que seja um de high-rye mashbill.

Uma dica final, para os afoitos Millenials como eu, que não são muito apegados a manuais de instrução porque acham que já sabem operar tudo: leiam o método de preparo até o final, sob risco de encontrar pedaços de abacaxi espalhados pela casa até o ano novo seguinte. Agora, vamos ao único coquetel a figurar nestas páginas que foi criado por um sangue azul. O Prince of Wales.

PRINCE OF WALES

INGREDIENTES

  • 60ml Rye Whiskey
  • 22,5 (mais ou menos, considerando o top up médio de uma taça) de Espumante (brut, de preferência)
  • 5ml xarope de açúcar 1:1
  • 5ml Luxardo Maraschino
  • 1 dash Angostura Aromatic Bitters
  • Um pedacinho de abacaxi (meia fatia grossa, ou uma fatia fininha. É um pouco porco tirar a fatia da decoração do chester, se estiver pensando nisso)
  • Gelo
  • parafernália para bater (!)
  • taça flute

PREPARO

  1. Adicione o pedacinho de abacaxi e macere, com a ajuda de um macerador (ou qualquer coisa que você tenha aí para amassar outras coisas e seja higiênico. Não, não recomendo o cabo de um martelo)
  2. adicione gelo, o rye whiskey, o Luxardo, o xarope de açúcar e os bitters. Jamais, nunca, nem pense em adicionar o espumante. Se você fizer isso, passará o ano novo limpando o teto da sua sala ou cozinha de pedaços de abacaxi, depois do shaker explodir na sua mão.
  3. Desça o conteúdo para uma taça flute
  4. complete com o espumante.

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