Hakushu 18 anos – Ausência
“A pureza do coração é desejar apenas uma coisa“. Este é o título de uma das mais importantes obras do filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard – cuja pronúncia do ó cortado segue sendo um mistério para mim, desde a primeira vez que o citei por aqui. Para Kierkegaard, pureza não é limpeza, mas sim obstinação. A virtude de uma vida dedicada a um único objetivo, como, por exemplo, o divino. Algo que a igreja – literalmente – venera. A concentração de tudo em uma única vontade, um hiperfoco do coração. A secessão do indivíduo é impura por se dispersar entre desejos, vaidades e medos. Para usar uma metáfora impossível: é como um atirador, que ao mirar em dois alvos ao mesmo tempo, falha em acertá-los. Mas a pureza pode ser interpretada de uma outra forma, que nem é tão oposta àquela proposta pelo dinamarquês. Para colocar de uma forma quase proverbial, a pureza pode ser a ausência de tudo, menos da essência. É o que resta, quando tudo foi tolhido. Algo próximo do conceito budista da coisa. Essa proposição, de que a pureza é a inexistência de algo, ressoa perfeitamente na Hakushu – especialmente em seu lançamento no Brasil, o Hakushu […]