Por QUEM você bebe whisky?

A beleza do mundo é a diversidade. E a quantidade. Porque não importa o quão específico for seu interesse, você sempre encontrará alguém para compartilhá-lo. É o caso, por exemplo, do British Lawn Mower Racing Association – traduzido como Associação Britânica de Corridas de Cortadores de Grama, que promove competições automobilísticas utilizando cortadores de grama motorizados. O clube se espalhou como uma erva daninha ao redor do mundo, e hoje, conta com mais de mil membros. Tem também o Extreme Ironing Bureau – Grupo dos Engomadores Extremos. Que incentiva a atividade de passar roupa em locais insólitos, como o monte Everest ou uma lancha em movimento. De acordo com seu fundador, Phil Shaw, o esporte “combina as emoções de uma […]

Glenmorangie 16 The Nectar – Maçãs e Laranjas

Hoje vou convidá-lo a um exercício diferente, mas interessantíssimo. Pule até a imagem dos sucos abaixo, e tente encontrar ao menos uma maçã em cada um dos rótulos. Alguns são bem fáceis. Outros, uma verdadeira obra de arte em forma de marketing. É que boa parte deles contém maçã, mesmo sendo de outra coisa completamente diferente, como uva e laranja. A maçã funciona como um agente natural de dulçor, e também reduz o custo de produção da bebida. Quando isso acontece, as produtoras devem, por lei, incluir a imagem de uma maçã. Para, discutivelmente, mostrar ao consumidor que o suco contém mais de uma fruta. A regra, entretanto, nao especifica muito como. Então, as marcas encontraram formas – as vezes […]

Blinker Cocktail

“Eu não quero ser o produto de meu meio. Eu quero que meu meio seja o resultado de mim“. A frase é a abertura de um dos melhores filmes de Martin Scorcese – The Departed – e proferida numa voz arrastada por Jack Nicholson. O conceito é uma refutação de uma ideia de Émile Durkheim, filósofo francês, considerado o pai da sociologia. Para Durkheim, o homem sofre influência de seu meio, muito mais do que o meio é influenciado por ele. A ideia é de fácil comprovação. Aleatoriamente, aqui, vou falar de Jean Metzinger. Ele foi um pintor francês, nascido no final do século dezenove. Metzinger sofreu diversas influências artísticas em sua carreira. Dentre elas, do pontilhismo de Seurat e […]

Aberlour 12 anos – Memória

Chamo o Uber e corro para pegar minha carteira no quarto, antes de descer. Aperto os dentes de frustação ao ver que ela não está lá. Sempre coloco numa caixinha, perto da mesa. Pode ser que tenha deixado do lado do computador, na sala. Não, lá não está também. O Uber chegou, e eu aqui em cima ainda, procurando essa carteira. Será que ficou no carro desde ontem? Não, porque à noite comprei umas tralhas na Aliexpress, e usei o cartão. O que, aliás, indica que ela devia estar perto do notebook. Aumento minha busca em locais menos óbvios – dentro do armário, no banheiro, na cozinha. Nada. Cancelo o uber e dou um soco na própria perna, de desapontamento. […]

Como (não) beber whisky – Um post des-educativo

  Antes de tudo, preciso dizer que isto é um não post. Ou melhor, um post deseducativo. Se você veio até aqui a procura de informação, ou de como degustar seu whisky e parecer um especialista, recomendo fortemente que fuja o mais rápido possível. Ou então leia esta matéria aqui. Essa aí sim, é educativa. Comportada e informativa. Esta aqui não. Esta é aquele conselho pernicioso do seu amigo perverso. Passei as últimas semanas relendo um de meus livros preferidos. Cem Anos de Solidão, de Garcia Marquez. Resolvi reler porque queria realmente conhecer os personagens. Da primeira, apenas prestei atenção na história, mas não dei muita importância a quem era quem. Dessa segunda vez não. Dessa vez fiz anotações, montei […]

Keepers of the Quaich – Knighthood

“Sobre aquilo que não conseguimos falar, devemos manter silêncio“. A frase é a derradeira do Tractus-Logico-Philosophicus, do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein. “Wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen“. Por muito tempo, sua tradução para o inglês – incontestavelmente mais charmosa do que na língua lusa – foi uma das minhas preferidas. “Whereof one cannot speak, one must be silent“. Como a maioria dos aforismos, entretanto, possuía apenas uma rasa ideia de seu significado. Minha impressão é que se referia ao limite da linguagem. Uma ideia se torna uma proposição apenas quando pode ser liquidada em palavras – que devem ser compreensíveis também para seu receptor. Senão, não passa de um pensamento abstrato, incomunicável. Resumindo o papo-cabeça, eu achava […]

Last Man Standing – Okonomiyaki

Na minha recente viagem ao Japão, me deparei com um prato que muitos de vocês já devem ter familiaridade, mas nunca havia provado. O Okonomiyaki. A iguaria me encantou, especialmente por que é uma das coisas mais aleatórias que eu já vi no mundo da culinária. O dadaísmo gastronômico já vem no nome. “Okonomi” significa “o que você quiser” e “yaki” grelhado. Ou seja, ele é basicamente uma panqueca grelhada com qualquer coisa que você quiser – ou melhor, tiver sobrando na geladeira. O troço é tão aleatório que possui até uma versão que leva lámen junto, e é conhecida por “estilo de Hiroshima”. Os ingredientes mais comuns, entretanto, são ovo, farinha, cebola, repolho, cebolinha e outros vegetais e tubérculos […]

Visita à Nikka Miyagikyo – Shinkansen

Quando entrei pela primeira vez na Estação de Tóquio, fiquei mesmerizado. Dezenas de lojas – de grifes internacionais a especialidades locais. Um andar inteiro de restaurantes, alguns dedicados exclusivamente aos bentôs: essas lancheirinhas que os japoneses levam para comer enquanto viajam de trem. Pensei, sarcástico “calma galera, é só um trem, não precisa construir uma cidade autossuficiente ao redor dos trilhos“. Entretanto, ao cabo de quinze dias, minha impressão inicial se esvanescera. Os japoneses são obcecados por trens. Tanto que tem dezenas de palavras diferentes para definir precisamente a obsessão férrea de cada um. O clássico trainspotter é “tori-tetsu”. Mas tem também “sharyo-tetsu”, que são os que gostam do design dos trens. E “oto-tetsu”, que gravam o barulho que eles […]

O Cão Geek – Filtragem a Frio

“Eu não poderia usar minhocas no hambúrguer, elas são mais caras do que carne bovina” foi a respota do executivo Ray Kroc ao New York TImes, sobre os boatos de que o McDonald’s recheava seus burguers com anelídeos. A história surgiu em 1978, quando um ex-funcionário do méqui foi entrevistado em um talk-show, e supostamente revelou o segredo da companhia – vermes. O boato ganhou tanta força que, no ano seguinte, a rede de fast-foods teve sua receita (financeira, não de hambúrguer de minhoca) reduzida a dois terços, e teve que dispensar boa parte da força de trabalho. O restaurante se viu na obrigação de dar explicações. Encomendou laudos ao FDA e lançou uma campanha explicando de onde vinham seus […]

Single Malts para Iniciantes – 2022

Ultrapassado o rio Aqueronte pela balsa de Caronte, chegaram Dante e Virgílio aos portões do inferno. Não tenhas medo, disse o poeta romano. Aqui encontramos as almas sofredoras que já perderam seu livre poder de arbítrio, mas não és uma delas. Tu ainda vives. Estendeu a mão a Dante, para dar-lhe coragem para adentrar o portal do submundo, cujo zênite do arco apresentava a dura conclusão “deixai toda esperança, vós que entrais“. Logo que cruzaram, ouviram o eco de gritos terríveis e lamentos eternos, envoltos pelo mais perfeito breu sem luz dos astros. Atordoado pelo tumulto de lamúrias, indagou Dante a Virgílio “mestre, quem são estas pessoas que tanto sofrem?“. Ao que respondeu Virgílio, em tom sereno e profundo “Este […]