Angel’s Envy Bourbon – Fascínio

Possuir um site de whisky exige um certo foco. Ainda que seja totalflex, o mundo etílico é muito vasto, e os recursos hepáticos e financeiros, limitados. Me vejo muitas vezes obrigado a escolher frentes, e, naturalmente, minha zona de combate favorita é o whisky. Mas isso não significa que não aprecie outros campos. Como sabem, sou um apaixonado por coquetelaria, sempre gostei de cerveja, e tenho um fascínio ignorante por rum e cachaça. No campo dos vinhos, assumo que sou do time dos fortificados. Especialmente porto.

E às vezes, eu nem preciso escolher. Porque há centenas de whiskies que são finalizados nas barricas de tais vinhos. E isso para mim é quase um megazord etílico.. Basta ver um whisky que passou por essa barrica, que me sinto irremediavelmente compelido a prová-lo. Imagine então, quando descobri um bourbon que passa pelo mesmo processo – O Angel’s Envy Bourbon.

O maior diferencial do Angel’s Envy Bourbon – assim como seu irmão, o Angel’s Envy Finished Rye, já revisto por aqui – é justamente sua maturação um tanto incomum. O whiskey, depois de passar em torno de cinco anos em barris de carvalho americano virgens e tostados, é finalizado por um período de três a seis meses em barricas de vinho do porto. Isso traz ao whiskey um certo aroma vínico doce e frutado, reminiscente de passas – s´p que bom.

A ideia de finalizar um whisky em um barril previamente utilizado por outra bebida não é novo. Há muito é usado na Escócia – as pioneiras foram Glenmorangie e Glen Moray. Mas, nos Estados Unidos, a técnica é ainda pouco utilizada e somente ganhou corpo quando a Woodford Reserve e seu outrora master distiller, Lincoln Henderson, decidiram experimentá-la em versões especiais limitadas da destilaria. Lincoln Henderson, este, que mais tarde, alguns anos antes de falecer, fundou a Angel’s Envy.

Lincoln Henderson (fonte: Angel’s Envy)

A Mashbill (a receita de seu mosto fermentado) do Angel’s Envy Bourbon é composto de 72% milho, 18% centeio e 10% cevada maltada. É uma receita muito próxima a de outro bourbon whiskey famoso por finalizações inusitadas, o Woodford Reserve. É também uma mashbill com uma quantidade considerável de centeio, que traz equilíbrio ao dulçor proporcionado pelo milho.

O lançamento do Angel’ Envy Bourbon aconteceu em 2011. Porém, até 2015, a Angel’s Envy não possuía uma destilaria própria. Seus whiskies eram produzidos pela Midwest Grain Products of Indiana (MGP) sob encomenda da Angel’s Envy, que fazia a curadoria sobre os barris e desenhava o perfil do produto. A MGP – outrora uma enorme destilaria da Seagram’s – também produz ou produziu whiskey sob encomenda para diversas outras marcas, como George Dickel, High West, Redemtion e Smooth Ambler. Atualmente, porém, os whiskies da Angel’s Envy são produzidos em uma destilaria própria, no Kentucky.

O Angel’s Envy chega ao Brasil pelas mãos de sua proprietária – a Bacardi. O preço é próximo daquele praticado por outros bourbons sofisticados, categoria que cresceu muito em nosso mercado, recentemente. Seu maior diferencial é a finalização em porto – ainda que seja difícil ignorar a lindíssima garrafa. É um bourbon que agradará a todos: apaixonados por vinhos fortificados, bourbons e single malts. No caso do Angel’s Envy, nem é preciso escolher frentes.

ANGEL’S ENVY BOURBON

Tipo: Bourbon

Marca: Angel’s Envy

Região: N/A

ABV: 43,3%

Notas de prova:

Aroma: Caramelo. Açúcar mascavo, mel, frutas secas.

Sabor: Caramelo, mel, baunilha, creme brulee. Final longo e progressivamente mais frutado, com passas.

12 thoughts on “Angel’s Envy Bourbon – Fascínio

  1. Mestre, sabe que devo a mim mesmo uma compra de um Woodford Reserve e por que não incluir também o Angel’s Envy? Hahaha E ainda não provei nada finalizado em vinho do Porto.

    Abraço!

  2. Pioneiras GlenMorangie e Glen Moray? Achava que a dúvida é se os primeiros a usarem barris diferentes era a GlenMorangie ou a Balvenie. Se GlenMoray iniciou isso, faltou aprimorarem o processo, porque só tomei Glen Moray ruim até hoje. lol

    1. HAHAHA, sim, eles foram junto com Balvenie e Glenmorangie. Era o mesmo grupo da Glenmo, na época, aliás. Foi vendida em 2008 pra La Martiniquaise.

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