“Frankly, my dear, I don’t give a damn.” “Here’s looking at you, kid.” “May the Force be with you.”A lista das frases mais icônicas do cinema, segundo o American Film Institute (AFI), é praticamente um roteiro paralelo da cultura pop. São quase aromas que remetem a alguma experiência, quase involuntariamente. Você lê, e sua televisão mental já projeta a cena, com a entonação perfeita. São frases que sobreviveram às décadas e se tornaram quase aforismos.
A lista da AFI conta com 100 destas frases. Cronologicamente, ela começa em 1927, com The Jazz Singer, e termina em 2002, com o sussurrado “My Precious“, de Senhor dos Anéis. Casablanca é o filme com mais frases, e Humphrey Bogart, o ator. Francis Ford Coppola tem nove frases, sendo que sete vêm de “O Poderoso Chefão”. Tudo isso é divertido, mas é pouco surpreendente. O que mais me espanta é que Samuel L. Jackson não esteja, em nenhuma posição, com algum “Motherfucker“.
Até entendo, por conta da natureza da palavra. Mas não concordo – Motherfucker, na boca de Jackson, não é palavrão. É uma instituição da cultura pop. Tanto é que um filme foi praticamente refeito, só para que ele pudesse proferir “Enough is Enough, I have had it with these motherfucking snakes on this motherfucking plane! A película é, obviamente, Snakes on a Plane, que teve cenas refeitas e classificação etária alterada apenas para encaixar o mantra. A frase é uma combinação perfeita de indignação e carisma.
E por falar em carisma, ofídios e misturas, há um coquetel que é quase a tradução líquida disso. O Rattlesnake – que combina rye whiskey, limão, xarope de açúcar, absinto e clara de ovo. Ele apareceu pela primeira vez no Saboy Cocktail Book de 1930, com outra frase de efeito. “ela curará uma picada de cascavel, ou matará cascavéis, ou fará com que você as veja“. O drink voltou à – relativa – fama depois de uma adaptação de Will Elliot, de Maison Premiere de Nova York.
Como de costume, devo advertir o incauto leitor sobre alguns detalhes da combinação. Primeiro, um rye whiskey muito seco puxará para o apimentado – o que, se for seu gosto, tudo bem. Mas um Jim Beam Rye ou Wild Turkey Rye funcionam bem. O absinto, no Brasil, é um desafio. Se não encontrar nada interessante, substitua por pastis (como Ricard). A ideia é apenas untar a taça. E, por último, a técnica. Para que o coquetel adquira aquela textura cremosa, com bastante espuma em cima, é preciso bater duas vezes. Primeiro, com gelo. Depois, um dry shake, para que a clara de ovo faça seu papel.
Se o Rattlesnake fosse um personagem de cinema, ele seria um Ordell Robbie. É um drink com personalidade, que mistura a cremosidade de um clássico com o veneno de um vilão carismático. E para quem não gostar, simplesmente recitaria, com elegância “Frankly, my dear, I don’t give a damn.”
RATTLESNAKE COCKTAIL
INGREDIENTES
- 60 ml de rye whiskey
- 22 ml de suco de limão
- 22 ml de xarope simples
- 2 dashes de absinto (cerca de 2 ml no total, se quiser medir)
- 1 clara de ovo
- parafernália para bater
PREPARO
- Coloque o rye, o sumo de limão, a calda de açúcar e a clara de ovo em uma coqueteleira. Chacoalhe bem forte. Isso se chama dry shake. A ideia aqui é formar a espuma característica da clara.
- Abra a coqueteleira com cuidado e adicione gelo. Bata vigorosamente.
- Desça o conteúdo em uma taça coupé
- Beba. I’m the king of the world.