Reminiscência – Jim Beam Black
Sábado, São Paulo, oito horas da manhã. Saudáveis dez graus centígrados. Janela aberta, pouca luminosidade. Nuvens de chuva se formando. Fecho os olhos numa vã tentativa de dormir novamente. Sonho, por uma fração de segundo, na minha ex-professora de geografia, que explica, flutuando sobre uma espécie de algodão doce, a formação dos cirros, cúmulos e nimbos. Caramba, quanta coisa que aprendi e nunca usei. Platelmintos, angiospermas, actinopterígeos, lactobacillus. Trovão. Acordo num ressalto e espio o despertador. Oito e sete. Deslizando como um nematelminto até o chão, me coloco de pé. Banho, dentes. Mas que diazinho mais ou menos para fazer qualquer coisa. Lembro-me, ainda reminiscente de minha professora voadora, que convidei alguns amigos da época do colegial para tomar alguns coquetéis – temerariamente feitos por mim – e jantar. Era o que precisava: propósito. Decido ir a um supermercado novo que abriu perto de casa. Fico animado a ponto de até dar um discreto salto de resolução. Se você não acha supermercado um programa, então deveria experimentar o tédio e a fome proporcionados por uma manhã de sábado. Vou caminhando e chego em menos de cinco minutos. Lugar amplo, teto alto, prateleiras de madeira. Tem até um pequeno pinheiro – uma gimnosperma […]