Entrevista com Elizabeth McCall, Master Distiller da Woodford Reserve

Sentado no bar, lá pelas tantas, um conhecido meu surge com uma analogia sobre a vida. “Olha, imagina que sua vida é um pote enorme. E você tem na sua frente, duas porções de bolinhas de gude. Numa delas, todas são transparentes. Já a outra, têm bolinhas de várias cores” – um gole na cerveja, antes de seguir, para fins dramáticos – “No final de cada dia, você têm que colocar uma bolinha no pote. Se você fez algo legal, relevante, põe uma colorida. Mas se ficou lá, só flanando, deslizando pela sua rotina, tem que usar uma transparente.” – disse, apertando os lábios. “E aí, você vai ver que no final, vai ter muito mais bolinha transparente do que colorida“. Levantei as sobrancelhas “Tá, e tomar cerveja aqui, conta como colorido ou transparente?“. Pela revirada de olhos, notei que ele não gostou da coça. Mas a analogia, no fundo, era boa. Poderia induzir a comportamentos imprudentes, mas era, basicamente, aquele papo que a Jack Daniel’s tinha, há uns anos. “Make it Count“. E tive uma prova prática dessa filosofia ao viajar com a Brown Forman para os Estados Unidos. O objetivo era conhecer as destilarias do grupo e as […]

Suntory Hibiki 21 – Escassez

For Relaxing Times, make it a Suntory Time. Quando assisti Encontros e Desencontros da Sofia Coppolla pela primeira vez, nem conhecia whisky direito, mas achei a referência engraçada. O filme explorava justamente a sensação de estranhamento, alienação e isolamento entre as pessoas. Relações, aliás, realçadas pela sensação de distanciamento cultural do Japão. E nada melhor para potencializar este estranhamento do que whisky. Em 2003, o whisky japonês estava longe da febre que é atualmente – e eu tinha apenas dezoito anos. E um ficcional ator decadente americano estrelando um comercial para um produto que parecia tão desconectado daquele país quanto ele próprio era uma analogia genial. O que eu não sabia, no entanto, é que o whisky japonês era excepcional. Um dos exemplos mais claros é o premiadíssimo Suntory Hibiki 21 anos – aliás, o irmão mais velho do whisky que aparece no filme. O Hibiki 21 anos é um blended whisky cujo coração é o single malt Yamazaki, e que leva whiskies das destilarias Hakushu – single malt – e Chita – grain whisky. Whiskies, estes, maturados em barricas de carvalho americano, europeu e japonês – o famoso Mizunara. O blend foi lançado em 1994, cinco anos após a […]

Blinker Cocktail

“Eu não quero ser o produto de meu meio. Eu quero que meu meio seja o resultado de mim“. A frase é a abertura de um dos melhores filmes de Martin Scorcese – The Departed – e proferida numa voz arrastada por Jack Nicholson. O conceito é uma refutação de uma ideia de Émile Durkheim, filósofo francês, considerado o pai da sociologia. Para Durkheim, o homem sofre influência de seu meio, muito mais do que o meio é influenciado por ele. A ideia é de fácil comprovação. Aleatoriamente, aqui, vou falar de Jean Metzinger. Ele foi um pintor francês, nascido no final do século dezenove. Metzinger sofreu diversas influências artísticas em sua carreira. Dentre elas, do pontilhismo de Seurat e Fauvismo. Ao conhecer Picasso e Braque, abandonou as influências anteriores e adotou o cubismo. E por mais que tenha alcançado uma indiscutível notoriedade, jamais chegou ao nível de prestígio de seus influenciadores, como Picasso. Se Metzinger fosse um coquetel clássico, ele seria, certamente, o Blinker. O drink é uma amálgama da influência de diversos outros drinks. Seu Picasso é, certamente, o Whiskey Sour. Mas há também algo de Ward Eight, e por que não, de Paloma – um coquetel que […]

Entrevista com Chris Fletcher, master Distiller da Jack Daniel’s

Há um axioma, proferido a Peter Parker por seu tio Ben, que atingiu status de aforismo. “Com grande poder, há grande responsabilidade“. O conceito é de fácil absorção, a ponto de parecer até estranho que ninguém tenha o condensado antes. De fato, versões da citação são bem mais antigas do que o nosso querido herói da Marvel. O que, de nenhuma forma, tira o mérito dele ou de Stan Lee pela menção. Por exemplo, em 1817, o futuro primeiro ministro da Inglaterra, William Lamb, disse em um discurso ao parlamento que “a posse de um grande poder necessariamente implica em grande responsabilidade“. A nova versão da bíblia, de rei James, também possui uma passagem que menciona algo semelhante. “Para todos que muito é dado, muito será solicitado“. O conceito foi também abordado por Chomsky, que, aliás, é contemporâneo e conterrâneo de Lee. Mas, estou a divagar. Grandes poderes trazem grandes responsabilidades. O que nos leva a imaginar que, implicam também em um enorme ego, e uma inacessibilidade quase intransponível. Isso é verdade para muita gente. Mas não Chris Fletcher, master Distiller da Jack Daniel’s. Fletcher é responsável por quase tudo que se refere a Jack. Ele cuida da padronização, criação […]