Serendipidade – Glenglassaugh Revival

A língua portuguesa é fascinante. Para tudo há uma palavra. Algumas, inclusive, que são absolutamente redundantes, específicas e sem utilidade. Uma delas é “defenestrar”. Defenestrar é o ato de atirar algo por uma janela. Não basta jogar longe. E não vale ser através de uma porta também. Tem que haver uma janela envolvida. Defenestrar, assim, é uma palavra inútil. Primeiro porque quase ninguém sabe o ela significa. Depois, simplesmente porque não há dificuldade nenhuma em construir uma frase dizendo que algo foi lançado por uma janela. Aliás, é pior usar a palavra “defenestrar” para depois ter que explicar seu significado, do que simplesmente dizer que jogou certa coisa pela janela. Outra palavra mais específica ainda é serendipidade. Ou serendiptismo. Ou serendipitia. Serendipidade é tão estranha que nem o corretor ortográfico do Word a reconhece. Ela é uma adaptação da palavra inglesa “serendipity”, cujo significado é algo na linha de capacidade de uma pessoa de realizar descobertas bem-afortunadas por acaso; ou a ocorrência destas descobertas. A história está cheia de serendipidade. O forno de micro-ondas. A penicilina. E talvez a maior serendipidade de todas, uma tal pílula azul, cujo objetivo original era tratar dores no peito. Essa pílula havia sido pensada para contrair […]