Presentes para quem ama whisky – Ed. 2018

Natal é sempre um problema. Correria para encontrar as pessoas, comprar presentes. Pensar em todo mundo, sem esquecer ninguém. Pensar no que cada uma dessas pessoas gostaria de ganhar. O que elas precisam, ou o que não precisam e querem, mas não tem coragem de comprar. Alguns são bem fáceis. A Cãzinha, por exemplo. A Cãzinha adora uma certa série de filmes de ficção científica. Então, qualquer coisa daquela franquia funciona. Já a Cã é mais complicada, porque eu nunca sei o que ela quer, e quando ela me dá uma dica, eu não percebo. Por conta da minha parca capacidade de captar sinais  – e de forma a evitar surpresas menos agradáveis – decidi utilizar a mesma técnica do ano passado. Perguntei a ela o que ela queria ganhar. Só que dessa vez ela disse que não sabia, e replicou. E qual whisky você quer ganhar? Qual whisky. Não qual presente. Senti que estávamos progredindo. Depois de mais de dez anos, somando o matrimônio ao namoro, ela finalmente havia compreendido duas coisas. Que sou um ser totalmente desprovido de inteligência emocional. E que eu sempre quero receber mesmo um whisky. Sorri, mas me senti acuado. Não sabia qual whisky […]

Backer Três Lobos Single Malt – Promissão

Quando nasci, meu pai tinha um Puma dourado. E desde minha mais tenra infância, eu adorava o carro. E, provavelmente, meu pai também. Porque ele ficou com o Puma por uns bons cinco anos depois de meu nascimento.  O problema é que o carro tinha apenas dois lugares, e eu – como era uma criança – não podia andar no banco da frente. O que, claro, não impedia meu pai de me colocar sentado naquele tablado duro, atrás do banco do passageiro, para dar umas voltas comigo. Nos anos oitenta, cadeirinha, cinto de segurança e bom senso eram opcionais. E as leis da física provavelmente também, porque à medida que crescia, deixava de caber naquele – tão fascinante quanto desconfortável – espaço. Com cinco anos de idade, minha coluna vertebral descrevia a angustiante curva do vidro traseiro, e minha cabeça acompanhava, em batidinhas surdas contra o teto do carro, o péssimo asfalto da cidade. Para falar a verdade, não era só banco traseiro que faltava no Puma. Ele era um automóvel espartano, ainda que muito bem feito. O que, claro, o tornava ainda mais fascinante. Quando meu pai finalmente o trocou por um Monza – em que eu podia me […]