Man O’ War – Esperança

“A única coisa que devemos temer é o próprio medo” – declarou Franklin D. Roosevelt, em seu discurso de posse como presidente dos EUA, em 1933. Não era para menos. O país estava por quatro anos mergulhado na pior crise econômica de sua história até então, a famosa Grande Depressão. Quatro anos antes, em 1929, a bolsa de Nova Iorque colapsara, levando consigo o sistema bancário e o emprego de milhares de norte-americanos. E ainda que, naquela época, isso estivesse longe de ser uma prioridade, nem beber era uma opção. A Lei-Seca estava em vigor. Neste cenário devastado, surgiu um improvável bastião da esperança. Um cavalo de corrida – sim, pasmem – chamado Seabiscuit. Não por qualquer motivo prático, porque, obviamente, estava longe da capacidade do equino resolver qualquer problema sócio-econômico dos Estados Unidos. Aquilo não era um capítulo de Bojack. Mas por ser uma espécie de personificação – ou melhor, cavalização – da esperança. Seabiscuit era pequeno e subestimado, e teve um difícil início de carreira. Porém, guiado por Tom Smith e Red Pollard – seu treinador e jóquei, respectivamente – se tornou símbolo da luta para superar as adversidades e vencer. O que poucos sabem – ou não […]

Visita a Woodford – Portas em Automático

Tripulação, portas em automático. Afivelo o cinto, cruzo os braços e respiro fundo. Eu nunca tive medo de voar. Aliás, pelo contrário. Acho aeroporto um programa. A única coisa que, remotamente, me incomoda, é ter que ficar sentado no avião por tanto tempo. Não tem muita coisa pra fazer, e, como dizem, cabeça vazia é oficina do capiroto. Observo o comissário de bordo apontando as saídas de emergência. Repentinamente, minha mente reduz o volume do som do abiente, e um pensamento intrusivo aparece. E se eu sair correndo e abrir a porta de emergência logo que o avião decolar Você devia deixar o pensamento intrusivo ganhar, ao menos uma vez, diria um amigo meu. Abafo o diálogo entre a razão e a entropia em meu cérebro. Dessa vez não, dessa vez todo mundo morreria. Vou deixar ganhar quando for pra fazer um bundalelê no meio de um restaurante, ou um pirocóptero na igreja. Aí, o máximo que vai acontecer é perder o réu primário. O comissário se aproxima de mim. Pequeno momento de pânico. Indago para mim mesmo se ele é telepata e ouviu meus pensamentos. Aceita suco ou água – ele pergunta. Respiro aliviado. Quando o Boeing 737-900 começa […]

Drops – Woodford Reserve Sonoma Cutrer Finish (Pinot Noir)

A prática leva à perfeição. Na verdade, nem sempre. Mas, talvez, na indústria do whiskey, isso seja verdade.  Ancorada em métodos tradicionais de produção, leveduras cuidadosamente armazenadas e cultivadas e barricas virgens de carvalho americano, o bourbon whiskey possui um sabor característico, quase temático. Caramelo, baunilha, mel. Um tema que, sinceramente, não precisa de nada a mais para ser um sucesso. Mas isso não significa que, de vez em quando, alguma inovação ou atipicidade surja. É o caso, por exemplo do Woodford Reserve Sonoma Cutrer Finish, ou – pelo seu nome completo – Woodford Reserve Master’s Collection Sonoma Cutrer Finish Pinot Noir. Como a pomposa e extensa denominação sugere, um bourbon whiskey finalizado em barricas de vinho tinto da uva Pinot Noir. O website oficial da Woodford Reseve já diz quase tudo que precisamos saber sobre essa maravilha. Transcrevo. “A cada ano, o master distiller da Brown-Forman, Chris Morris, lança uma edição especial da Woodford Reserve chamada Master’s Collection. Para cada lançamento, Morris muda algum aspecto do processo produtivo do whiskey (p.e. tipo de barril, finalização, grão, processo de fermentação, local de maturação e estilo). E em novembro veremos o nono lançamento da Master’s Collection” “Para o lançamento de 2014, […]

Drink do Cão – Boulevardier

Você já tomou Negroni? Negroni é um drink feito, essencialmente, de gim, vermute tinto e Campari. Hoje, acho uma das coisas líquidas mais deliciosas que existe fora do universo do whisky. Mas minha relação com aquele coquetel nem sempre foi assim. A primeira vez que tomei um Negroni tinha pouco mais de dezoito anos. E queria morrer. Achei uma das piores coisas que já tive o desprazer de beber. Incluindo uma vez que acidentalmente tomei um pouco de gasolina tentando fazer um sifão para abastecer meu carro. Sério. Teria preferido fazer qualquer coisa a terminar aquele coquetel. Se, naquele momento, alguém me desse a escolha entre ser atravessado por um cutelo gigante em brasa ou bochechar aquele Negroni, teria preferido o cutelo escaldante. Fácil. Eu devo ser muito teimoso ou absolutamente estúpido, porque aquela experiência horrível não me dissuadiu de experimentar o drink mais uma meia dúzia de vezes. E o mais estranho é que, à medida que tomava, passava a gostar cada vez mais daquele negócio amargo. Até que passei a adorá-lo.     Mais recentemente, comentei com Fernando Lisboa, barman por trás do Bar Cuttelo e dos Coquetéis Treze, que era uma pena que o Negroni não tivesse […]