Man O’ War – Esperança

“A única coisa que devemos temer é o próprio medo” – declarou Franklin D. Roosevelt, em seu discurso de posse como presidente dos EUA, em 1933. Não era para menos. O país estava por quatro anos mergulhado na pior crise econômica de sua história até então, a famosa Grande Depressão. Quatro anos antes, em 1929, a bolsa de Nova Iorque colapsara, levando consigo o sistema bancário e o emprego de milhares de norte-americanos. E ainda que, naquela época, isso estivesse longe de ser uma prioridade, nem beber era uma opção. A Lei-Seca estava em vigor.

Neste cenário devastado, surgiu um improvável bastião da esperança. Um cavalo de corrida – sim, pasmem – chamado Seabiscuit. Não por qualquer motivo prático, porque, obviamente, estava longe da capacidade do equino resolver qualquer problema sócio-econômico dos Estados Unidos. Aquilo não era um capítulo de Bojack. Mas por ser uma espécie de personificação – ou melhor, cavalização – da esperança. Seabiscuit era pequeno e subestimado, e teve um difícil início de carreira. Porém, guiado por Tom Smith e Red Pollard – seu treinador e jóquei, respectivamente – se tornou símbolo da luta para superar as adversidades e vencer.

O que poucos sabem – ou não – é que Seabiscuit foi neto de um dos maiores campeões da história do turfe americano, Man O’ War. O cavalo competiu entre 1919 e 1920, e venceu 20 das 21 corridas que participou. Dentre elas Preakness Stakes e Belmont Stakes, parte da tríplice coroa. Deixou de correr o Kentucky Derby por estratégia, e sua única derrota foi por menos de uma cabeça, no Stanford Memorial Stakes.

Com este nome e currículo, naturalmente, Man O’ War não demorou para ser homenagado com um coquetel. No final do século XIX e começo do XX, a corrida de cavalos estava em alta, e muitos coquetéis foram batizados em homenagem aos feitos na pista de corrida. Outro exemplo é o Suburban, já revisto por aqui, e o Futurity. O que, de certa forma, me decepciona. Teria sido muito mais legal se o batismo tivesse se dado por conta da banda, ou de algum enorme navio do século XVI. Mas estou a divagar.

É engraçado que, com essa história, ninguém saiba ao certo quem foi o autor do Man O’ War. Mas isso importa muito pouco. Como a maioria dos coquetéis clássicos, não há qualquer pré-preparo elaborado em sua receita, o que provavelmente contribuiu para que se alastrasse rapidamente. Apenas limão, triple sec, vermute doce e, claro, Bourbon Whiskey – talvez uma referência a Churchill Downs.

O lugar

A escolha dos ingredientes, como sempre, é importante, porque impactará em um drink mais equilibrado. Este Cão escolheu Woodford Reserve, por conta de seu perfil mais equilibrado, e o vermute Dolin, para não dominar o coquetel. O limão deve ser espremido e fresco – é um produto que oxida rápido, e a receita demanda um certo frescor para ficar interessante. O triple sec é a escolha mais fácil. Cointreau. Ainda que, psicografando, em um palpite educado, Cointreau Noir possa dar uma boa profundidade. Tenho até medo de propor uma versão clarificada disso. Deus me livre e quem me dera, para usar um lugar-comum.

Man O’ War é um coquetel distinto. Não apenas por seu perfil de sabor e relativa simplicidade. Mas, também, por toda a história que o envolve. Parte da experiência da coquetelaria é isso. Criar uma experiência atemporal, mas que seja o retrato autêntico de sua época. Vamos à receita.

MAN O’ WAR

INGREDIENTES

  • 60ml Bourbon Whiskey
  • 30ml triple sec (algumas receitas pedem curaçao Não há qualquer boa razão para arruinar seu drink, exceto se tiver acesso a um curaçao muito bom)
  • 45ml vermute doce
  • 45ml suco de limão siciliano fresco (não tenha preguiça)
  • Parafernália para bater
  • Taça coupé

PREPARO

  1. Adicione todos os ingredientes na coqueteleira. Menos a taça. Isso é importante, porque pode tornar este, potencialmente, o último drink da sua vida.
  2. Bata vigorosamente e desça na taça coupé previamente resfriada
  3. Se estiver se sentindo elegante, decore com uma maraschino ou um twist de siciliano

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