Teacher’s Highland Cream (Escocês)

Hanna Arendt uma vez escreveu que ” Das coisas tangíveis, as menos duráveis são as necessárias ao próprio processo da vida. O seu consumo mal sobrevive ao acto da sua produção “. Se não fosse por um hiato de poucas décadas – e talvez minhas dúvidas sobre as preferências alimentares da filosofa – poderia jurar que Hannah escrevera o excerto depois de pedir uma batata frita de delivery. Há poucos alimentos mais efêmeros do que a batata frita de delivery. Nem carne, nem massas, sofrem tanto. Nem mesmo o hambúrguer, companheiro inseparável da batata frita, apanha desse jeito. Vinte minutos em um espaço confinado, no baú do entregador, são suficientes para transformar a mais deliciosa e crocante fatia em um negócio frio, mole e murcho. Batatas fritas definitivamente não viajam bem. Outro produto que sempre ouvi que não era o mesmo depois da viagem – neste caso, uma transatlântica – é o whisky Teacher’s. Produzido na Escócia e transportado em tanques estanques, o Teacher’s era cortado (diluído) e engarrafado no Brasil. O processo tornava a logística mais barata, e permitia que o Teacher’s tivesse preço de combate por aqui sem sacrificar a qualidade. Porém, ouvira de mais de um bebedor […]

Royal Salute Malts Blend – Diversificação

Certa fez, Henry Ford, ao falar de seu Ford Model T disse “O cliente pode ter seu carro pintado de qualquer cor, desde que essa cor seja preta“. Ainda que sarcástica, a declaração tinha todo sentido. Não havia espaço para o supérfluo. O Model T fora criado para ser acessível – e nisso, foi incrivelmente bem-sucedido. O primeiro Ford Model T saiu da fábrica em setembro de 1908. No ano seguinte, mais de dez mil automóveis foram produzidos. O último – tão preto quanto o primeiro – deslizou da linha de produção em 1927. Foram dezoito anos. Nesse período, perto de quinze milhões de Model T foram produzidos. Todos, quase idênticos – exceto por alguns pequenos detalhes internos. Na época do iPhone X e Xs, manter inalterado um bem de consumo por dezoito anos pode parecer um enorme contrassenso. Por outro lado, a inércia da Ford não pareceu afetar as vendas do Model T – que entrou na história como um dos mais bem sucedidos automóveis de todos os tempos. Uma marca cuja trajetória foi muito semelhante àquela do Ford Model T é a Royal Salute. Desde sua criação, em 1953, o único whisky em sua linha permanente foi o […]

Bebendo o Oscar 2020 – Relacionando filmes e whisky

Estava pensando sobre algumas tradições. Coisas banais, que fazemos todo dia, sem nem perceber. Tipo cumprimentar alguém com um aperto de mão. Além de ser um negócio que não tem muita lógica, é uma prática meio anti-higiênica. Cara, eu sei lá onde você enfiou essa sua mão, mas vamos contribuir para a disseminação de todo tipo de moléstia. Aperta aqui. Isso sem mencionar quando a mão do coleguinha está molhada. Isso aí é água mesmo, seu porco? Mas tradições são assim. Elas não precisam fazer sentido. Como, por exemplo, uma que criei aqui no Cão Engarrafado, e que reúne dois dos meus maiores interesses. Cinema e whisky. Há quatro anos, lancei uma matéria comparando os filmes do Oscar com certos rótulos. O post fez sucesso, e repeti a fórmula nos anos seguintes. É um post absolutamente inútil, que só seve mesmo para exercitar minha quase perturbadora capacidade de abstração. Escolhi três indicados ao prêmio de melhor filme, que assisti e relacionei com suas almas gêmeas do mundo da melhor bebida do mundo. Da ingenuidade infantil de Jo Jo Rabbit à aflitiva agonia de Coringa, os indicados ao Oscar de 2020 estão incríveis (aliás, bem melhores do que nos anos interiores). […]