Blinker Cocktail

Eu não quero ser o produto de meu meio. Eu quero que meu meio seja o resultado de mim“. A frase é a abertura de um dos melhores filmes de Martin Scorcese – The Departed – e proferida numa voz arrastada por Jack Nicholson. O conceito é uma refutação de uma ideia de Émile Durkheim, filósofo francês, considerado o pai da sociologia. Para Durkheim, o homem sofre influência de seu meio, muito mais do que o meio é influenciado por ele.

A ideia é de fácil comprovação. Aleatoriamente, aqui, vou falar de Jean Metzinger. Ele foi um pintor francês, nascido no final do século dezenove. Metzinger sofreu diversas influências artísticas em sua carreira. Dentre elas, do pontilhismo de Seurat e Fauvismo. Ao conhecer Picasso e Braque, abandonou as influências anteriores e adotou o cubismo. E por mais que tenha alcançado uma indiscutível notoriedade, jamais chegou ao nível de prestígio de seus influenciadores, como Picasso.

que?

Se Metzinger fosse um coquetel clássico, ele seria, certamente, o Blinker. O drink é uma amálgama da influência de diversos outros drinks. Seu Picasso é, certamente, o Whiskey Sour. Mas há também algo de Ward Eight, e por que não, de Paloma – um coquetel que recentemente sequestrou a cena da coquetelaria mundial por pura força-bruta da indústria. Que, aliás, custa a entender a dificuldade de se obter um grapefruit ou convencer um cliente a beber tequila. Mas, estou a divagar.

A primeira menção do Blinker foi no livro “The Official Mixer’s Manual” de Patrick Gavin Duffy, em 1934. Em 1940 apareceu no “Fine Art of Mixing Drinks” de David Embury, com talvez a mais sincera e risível descrição “Um dos poucos coquetéis que usa suco de grapefruit. Não é particularmente bom, mas não é péssimo“. Apesar do prólogo pouco convincente, o coquetel alcançou sua – bastante discutível – fama depois de 2009. Ele figurou entre os drinks do “Vintage Spirits and Forgotten Cocktails” de Ted Haigh. Mas não sem algumas modificações. Ao longo do tempo, as proporções foram alteradas, para acomodar as mudanças do paladar médio.

Outra mudança importante é o xarope. A receita original pede por xarope de romã, ou grenadine. Algo que com alguma hipérbole e perdão pelo lugar-comum, pode ser comprado em (quase) qualquer canto. Entretanto, algumas versões modernas substituem o ingrediente por um xarope caseiro de framboesa. Funciona bem, caso você tenha tempo e paciência para fazê-lo. É como dizem, quem tem tempo, se alivia longe. Ou algo assim. Porém, se quiser apenas testar um coquetel sem muita sujeira, siga a receita clássica.

A Monin tem um PURE de framboesa que pode funcionar, se usado moderadamente

O conselho deste Cão é começar nas proporções abaixo, e, se sentir que está muito doce, reduzir o xarope de fruta. O rye whiskey de base é importante, também. Recomendo algo intenso com boa quantidade de centeio. Um High West Double Rye, por exemplo. Porém, se esse for inacessível, Wild Turkey Rye funcionará bem. Apenas, mais uma vez, cuidado com o excesso de dulçor.

O Blinker é um daqueles coquetéis com uma aura familiar – você pode jurar que já bebeu antes. E provvelmente, já mesmo. Em algum de seus muitos primos mais notórios. Seu mérito é justamente este. Ser parcialmente reconhecível, fácil e agradável de beber. Durkheim, se o bebesse, concordaria. Não há nada de errado em ser um produto de seu meio.

BLINKER COCKTAIL

INGREDIENTES

  • 60ml rye whiskey
  • 30ml de suco de grapefruit fresca (não vale o de caixinha. Boa sorte)
  • 15ml xarope de grenadine ou framboesa (boa sorte, novamente)
  • gelo
  • parafernália para bater
  • Taça coupé

PREPARO

  1. adicione tudo na coqueteleira, menos a taça coupé e o strainer
  2. bata vigorosamente, até sentir que está gelado do lado de fora
  3. Coe, com a ajuda do strainer, para a taça coupé
  4. se estiver se sentindo sofisticado, pode decorar com uma amora

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