Se você acessou o Cão Engarrafado, é muitíssimo provável que tenha notado o cachorro ali de cima. É engraçado que, mesmo que isto seja um blog sobre whisky, muita gente me pergunte sobre ele. O cão do Cão. Então resolvi que hoje vou falar um pouquinho sobre nosso garoto propaganda e revelar sua identidade.
Seu nome é Maverick. Ele é um mini collie – também conhecido como Sheltie – ainda que a gente ache que a parte do “mini” foi esquecida durante sua concepção. Ele tem seis anos, e pesa em torno de dezesseis quilos. Um pouco grande, mas tudo normal até aqui.
Acontece que o Maverick é, na verdade, um gato por dentro. Ou melhor, um gatorro. Porque por mais estranho que pareça, ele raramente quer algum contato. Ele passa o dia andando pela casa e olhando com desdém para as pessoas e não é muito chegado em gente nova. Além disso, ele despreza biscoito de cachorro, mas é apaixonado por atum em lata. O Maverick pode ter nascido cão, mas, por dentro, bate um coração cheio daquele ódio passivo tão característico dos gatos.
Se eu pudesse comparar o Maverick com algum whisky, este certamente seria o Nomad: Outland Whisky. Um blend de whiskies escoceses, mas com alma incontestavelmente espanhola. Ou, como a garrafa mesmo diz: Nascido na Escócia, mas criado na Espanha.
Aliás, sua genética ibérica é tão forte que ele nem pode ser chamado de blended scotch whisky. Porque, para isto, ele teria que ter passado sua maturação integralmente na Escócia, de acordo com a Scotch Whisky Regulations de 2009. E não é isso que acontece. O Nomad é finalizado na Espanha, mais especificamente, na vinícola Gonzalez Byass, em Jerez.
O Nomad é fruto da colaboração entre Richard Paterson – o homem por trás do single malt The Dalmore e os blends da Whyte & Mackay – e Antonio Flores, master distiller da Gonzalez Byass, famosa bodega de vinhos espanhola.
Ele é composto por mais de trinta whiskies, entre single malts e whiskies de grão, cuja idade varia entre cinco e oito anos. Até aqui, nada o diferenciaria de um blended scotch whisky tradicional.
A grande diferença está na sua maturação. Depois de reunidos, os whiskies passam mais três anos em barricas que antes continham vinho Jerez, num processo semelhante àquele do Whyte & Mackay the Thirteen.
Por fim, o líquido é enviado para a vinícola Gonzales Byass, em Jerez, na Espanha, onde é transferido para barricas de Jerez Pedro Ximénez (PX). Lá ele passa mais um ano. E é por conta deste último passo em sua maturação que o Nomad se auto denomina Outland Whisky – e não Scotch Whisky.
E este derradeiro ano em território estrangeiro que muda sua alma. Porque sob influência do clima quente da região da Andaluzia, a maturação nas barricas de PX ocorre muito mais rápido. Há mais expansão e contração, graças à maior amplitude térmica.
E ainda que este intercâmbio corresponda a aproximadamente um décimo de sua idade – basta fazer a conta – é ele que molda o caráter definitivo do outland whisky e lhe concede a personalidade jerezana.
O Nomad é bastante puxado para o vinho Jerez PX. Possui aroma claro de uvas passas, panetone, especiarias e chocolate amargo. O final é doce e frutado. Se este Cão o provasse em um teste cego, muito provavelmente pensaria se tratar de um single malt.
O Nomad não está à venda no Brasil. No entanto, neste caso, há uma vaga esperança. É que outros produtos da Gonzalez Byass – como Jerez fino Tio Pepe e o brandy Lepanto – são trazidos pela importadora Inovini para nosso país. Por isso, quem sabe, em um futuro breve possamos contar com a visita desde nômade por aqui, capaz de encantar corações escoceses, espanhóis e, claro, brasileiros.
NOMAD OUTLAND WHISKY
Tipo: Blended Whisky sem idade definida
Marca: Nomad
Região: N/A – Escócia / Espanha
ABV: 40%
Notas de prova:
Aroma: adocicado, frutas vermelhas, frutas em calda. Vinho fortificado.
Sabor: frutas vermelhas, açúcar mascavo. Um certo amargor final próximo àquele de vinhos do porto e vinhos jerez. Final longo e persistente.
Disponibilidade: apenas lojas internacionais.
Como vai, mestre?
Cara, eu adoro cachorros e gostei muito de saber mais sobre seu mascote. Minha cachorra inicialmente ignorava a gente, o que causava um clima um tanto constrangedor hahaha.
A legenda define perfeitamente: “Um brinde a boas ideias como esta!” Excelente idéia, por sinal! Um whisky trabalhado para buscar o melhor possível da maturação em ex-jerez.
Como fã deste estilo de whisky, espero ansiosamente que acabe vindo pra cá.
Grande abraço!
Busco desesperado pela segunda garrafa, único, ímpar, singular, me falta adjetivos por isso vou beber mais um gole. Aqui ele deixou de ser nômade. Delícia de Cão, Cão diferente.