Suntory Hakushu 18 Peated 100th Anniversary Edition

Não sabendo que era impossível, foi lá e soube. Mas é a vida, sem lutas, não há derrotas. E se destacar em algo nem é bom assim. Pense, por exemplo, no prego. Prego que se destaca, é martelado. É melhor mesmo permanecer na zona de conforto. Empreender é isto: o passado não pode ser mudado, mas o futuro tem toda chance de ser um enorme fracasso. Afinal, são os sonhos que antecedem os fracassos. E quanto maior, mais chance de se lascar. A dimensão do sonho de certo Shinjiro Torii, há um século, era daquelas capazes de um tsunami de derrotas. Torii era um desses empreendedores destemidos, à la Richard Branson, só que mais baixo e com um cabelo mais comportado. Ele possuía uma empresa de produtos farmacêuticos, e também uma importadora de vinhos fortificados – a Akadama Sweet Wine. Mas seu verdadeiro sonho era criar o primeiro whisky genuinamente japonês. Os detalhes de como Torii deu os passos iniciais em direção ao abismo, digo, à criação da primeira destilaria japonesa, são enevoados. Porém, em 1923, com o auxílio de um certo Masataka Taketsuru, a Suntory nasceu na convergência dos rios Katsura, Uji e Kizu. Era a primeira destilaria japonesa, […]

Hakushu Distiller’s Reserve – Schadenfreude

Eu acho engraçado como algumas línguas tem umas palavras super específicas. Alemão, por exemplo, tem duas que eu amo, e que – brilhantemente, na minha opinião – se ligam ao sentimento de culpa. A primeira é Drachenfutter. Drachenfutter define, de uma forma incrivelmente sucinta para um germânico, aquele presentinho safado que a gente dá pro companheiro ou companheira depois de fazer alguma besteirinha inocente. Tipo – e os exemplos aqui são totalmente fictícios – esquecer o aniversário de relacionamento, ter uma crise histérica durante alguma discussão ou chegar em casa miando e se arrastando como um leão marinho de tão bêbado às duas da manhã. A outra é Schadenfreude. Que é mais ou menos o resumo de nosso ditado popular, que pimenta no orifício inferior dos outros é refresco. A palavra deriva de “shaden” (dano) e “freude” (felicidade). Literalmente, Schadenfreude é o prazer que sentimos em ver os outros se ferrando, na forma mais pura, cristalina e pouco egregiamente deliciosa. Como, por exemplo, quando você vê o brilho nos olhos da mocinha do aeroporto, ao dizer que seu vôo foi cancelado e reagendado pro dia seguinte, mas ela vai te acomodar no melhor quarto do hotel ao lado do aeroporto. […]

Sobre as novas regras do whisky Japonês

Portugal e Japão possuem uma ligação muito mais profunda do que se imagina. Os portugueses foram o primeiro povo ocidental a ter contato e travar relações comerciais com os japoneses. E como qualquer contato, dali surgiram curiosas influências para os dois lados. Os portugueseses herdaram algumas palavras do vocabulário nipônico, como, por exemplo, catana e biombo. Já os japoneses passaram a utilizar uma série de palavras de origem portuguesa, adaptadas para a sonoridade de sua língua. Por exemplo, pan, koppu, tabako e arkoru – que seu poder de dedução etimológico já deve ter indicado que são respectivamente pão, copo, tabaco e álcool. Aliás, uma combinação de palavras que demonstrava que havia também certa afinidade entre as culturas quando o assunto era estabelecer prioridades e se divertir. Na verdade, a cultura japonesa possui uma característica belíssima. Essa, de incorporar elementos de outras culturas, e transmutá-las em algo essencialmente japonês. O Tempurá – sim, a fritura – é um exemplo. Os japoneses não conheciam a técnica até a chegada dos portugueses. E, claro, o whisky. O Whisky no Japão possui aproximadamente um século de idade. A técnica foi aprendida com os escoceses, mas o líquido japonês já possui uma identidade toda própria. […]

Goodbye Mr. Hakushu – Hakushu 12 anos

Eu não sou bom com despedidas. Não que eu chore, fique sensível, comece a ouvir Coldplay e a devorar livros de autoajuda e tudo mais. Mas, de alguma forma, aquele abandono me atinge. Atinge quase como um vício. Uma vontade que não pode ser mais aplacada. Algo que estava ao meu alcance, mas que, por alguma razão, desapareceu. Talvez como aquela quase proverbial coceira no membro arrancado. Sinto isso com pessoas. Mas não só com elas. Para mim, ocorre também com músicas, comidas, bebidas. Um exemplo disso é um prato, que comia toda vez que ia a um restaurante próximo de minha casa. Era um restaurante bem caro e mais ou menos metido a besta, o que me irritava um pouco. Me irritava até aquele prato chegar. Porque depois, restava apenas aquele shiatsu de língua. E o engraçado é que o prato não tinha nada de muito difícil. Era uma espécie de talharim escuro, com shimeji, que levava um molho de parmesão batido. A consistência do molho era próxima de uma espuma, um chantilly, mas com bastante sabor de queijo. Essa era a parte genial dele. O molho. O molho era tão genial, mas tão genial, que eu abria mão […]