Royal Salute Estancia – Hermanos

Fiquei pensando muito tempo sobre como começar este post, cujo tema é a Argentina. Pensei em falar de futebol, do Diego Maradona e da mano de dios. Ou do Papa Francisco, que é argentino. Mas não tenho propriedade pra falar de futebol, nem de religião. Meu conhecimento de futebol se equipara a aquele de um bidê. E religião não é tão diferente. Então, vou falar de algo que eu entendo. Comida. Ou melhor, comer. A gastronomia da Argentina é indiscutivelmente maravilhosa. Das carnes com nomes esquisitos, como ojo de bife e tapa de cuadril (que mais soa como uma manobra sexual) à medialuna. A medialuna com dulce de leche, claro. Na área dos salgados, a Argentina também marca gol. Tem a empanada. E das bebidas, dribla outras nações facilmente com seus vinhos. Especialmente Malbec. Pra falar a verdade, a Argentina é boa também em outras coisas. No cinema, por exemplo, eles tem o Ricardo Darin, que só perde do Nicholas Cage em ser o melhor ator que mais fez filmes ruins da história. E na música, com a única sofrência aceitável, o Tango. Isso todo mundo sabe. O que pouca gente tem conhecimento é que não é só no futebol […]

Sobre milho – Especial Bourbon Month

Quando eu era criança, uma vez, coloquei uma espiga de milho dentro do forno do fogão ligado, sem ninguém ver. Eu queria comer pipoca e fora ignorado por meus pais, apesar de meus protestos. Não sei quanto tempo esperei – deve ter sido bem mais do que uma hora – porque o resultado da experiência foi a carbonização da espiga e consequente imolação do forno. Depois que as chamas foram controladas, fiquei proibido de comer pipoca por tempo indeterminado, e descobri que milho de pipoca é diferente do milho da espiga, que a gente come. Quando cresci e comecei a me interessar por whisky, aprendi também que o milho da espiga que comemos também é diferente do milho do bourbon. E por sorte, dessa vez, não foi necessário qualquer empirismo. Mesmo porque secar, moer, fermentar e destilar uma espiga encontrada na feira é bem mais difícil do que botar fogo em utilidades domésticas. E é isto que vou contar para vocês hoje – como há milhares de milhos! Vamos começar a destrinchar esta espiga com uma rememoração. Para que um bourbon whiskey possa ser assim chamado, ele deve seguir as seguintes premissas, dispostas no Code of Federal Regulations, title 27, part […]

Auchentoshan American Oak – Da resiliência

Mauro Prosperi teria sido apenas um policial italiano comum, não fosse seu apetite por aventura. Em 1994, se inscreveu na Marathon de Sables, uma corrida de seis dias e duzentos e cinquenta quilômetros no deserto do Saara, considerada até hoje uma das mais perigosas e difíceis do mundo. O ponto de partida é Foum Zguid e a linha final é Zagora, ambos no Marrocos. E talvez você esteja aí imaginando que o policial se tornou uma incrível subcelebridade depois de ter vencido com louvor a árdua prova. Mas não foi bem isso que aconteceu. Mauro tornou-se notável por permanecer vivo. No quarto dia, correndo sozinho no sétimo lugar, Prosperi foi atingido por uma tempestade de areia. A tormenta foi tão forte que o obrigou a se enrolar em um cobertor, para evitar que fosse mortalmente ferido. Mas, ainda que desorientado, Prosperi estava determinado a manter seu sétimo lugar. Por isso, correu mais de trezentos quilômetros. Trezentos quilômetros na direção errada. Trezentos quilômetros, na direção errada, por nove dias. Trezentos quilômetros, na direção errada, por nove dias até atravessar a fronteira do Marrocos e chegar a Tindouf, na Argélia. Ao perceber que estava perdido, Mauro tentou se suicidar cortando os pulsos […]