Yamazaki Distiller’s Reserve – Confinamento
Tempo. Tempo é a coisa mais importante do mundo, de acordo com o lugar comum. Também é a essência de nossa existência, ou, para parafrasear Borges, é a substância da qual todos nós somos feitos. Ter pouco tempo a disposição é terrível, ainda que seja algo bem comum em nossa rotina. E, na maioria das vezes, ter bastante tempo – aquele, para contemplar as nuances de um bom whisky enquanto seu pescoço se encaixa suavemente naquela deformação do sofá criada pelo tempo, por exemplo – é uma dádiva. Mas, nem sempre. Ontem, por exemplo, me vi numa situação sui generis. A de ter bastante tempo, mas não poder disfrutar como deveria. Sui generis e um pouco claustrofóbica. Tudo começou como deveria. O interfone tocou, avisando da chegada de alguma encomenda feita pela cã nessas lojas chinesas de gadgets inúteis. Desci até a portaria, resgatei o pequeno pacote com etiquetas em mandarim e entrei no elevador. Foi quando notei que estava sem meu celular. Tudo bem. A porta fechou vagarosamente, meio à la twilght zone. Senti que havia algo de errado, mas, já era tarde para qualquer reação. O elevador começou a subir lentamente – talvez não lentamente, mas eu estava […]