Macallan Edition No 6 – Flyfishing

Esses dias, numa noite de preguiça, decidi rever um filminho despretensioso. Amor Impossível, ou, em seu original, Salmon Fishing in Yemen (“A Pesca de Salmão no Iêmen”). O que é bem interessante, porque, se você mencionar o título original do filme para qualquer pessoa, poucos indagarão sobre o roteiro, direção ou atores. A maior parte das pessoas perguntará algo como “dá pra pescar salmão no Iêmen?“.

Bem, vou adiantar para vocês que, na realidade, não dá não. Por infinitos motivos, como a temperatura. E a possibilidade de você ser dilacerado por uma Browning M2 .50 montada numa base giratória em cima de uma picape Toyota pertencente a uma milícia, ao graciosamente tangenciar a mosca de sua vara na correnteza imaginária de algum rio fictício do país. Ah, e pelo fato de não haver salmão no Iêmen no mundo real.

É logo ali que a gente fica dando banho no anzol…

E ainda que – pelos motivos elencados acima – a pesca de salmão não seja uma atividade muito prolífera no Iemen, ela é na Escócia. Mais, especificamente, no Rio Spey. O Rio Spey é tão importante para a pesca que há uma técnica toda própria de flyfishing, desenvolvida pelos pescadores escoceses no século dezenove, que é usada até hoje para apanhar salmão. Relativamente desocupado, o rio Spey já possuiu uma enorme população de salmão atlântico – hoje, protegido. O que o tornou, por muito tempo, fonte importante de subsistência dos povoados que se instalaram em suas margens.

Mas a importância do rio Spey não se limita somente à pesca. Ele – como você já deve saber – é também importantíssimo para a produção de whisky. A região de Speyside, como o nome sugere, é cortada pelo rio Spey. No passado, acesso fácil à água era importante. Assim, muitas destilarias preferiram se instalar próximas àquele rio ou seus afluentes – um dos maiores da Escócia em extensão, apenas atrás dos rios Tay e Clyde. É a região que atualmente mais concentra destilarias, e é lar de três das campeãs de venda. Dentre elas, a The Macallan.

E foi inspirado no rio Spey que o novo The Macallan Edition No. 6 foi lançado. Correndo o risco de ser prolixo, resolvi traduzir e transcrever, quase na integridade, a descrição que pesquei no site oficial da The Macallan, sobre o single malt. “O sexto e último lançamento da série The Macallan Edition, Edition No. 6 se inspira nas maravilhas naturais do lendário River Spey e The Macallan Estate, onde cada barril de The Macallan é amadurecido antes de ser selecionado manualmente para uso pelos nossos especialistas fabricantes de whisky.” (…) O lendário rio Spey atravessa a propriedade e é mundialmente conhecido por abrigar o poderoso salmão do Atlântico. (…) O salmão selvagem do Atlântico corre o risco de se tornar uma espécie em extinção. Portanto, a The Macallan está trabalhando com o Atlantic Salmon Trust para ajudar a aumentar a conscientização sobre isso e apoiar o trabalho de conservação vital no rio Spey e além.

Pescando salmão na The Macallan (fonte: The Macallan)

Mas vamos ao whisky. O The Macallan Edition No. 6 foi criado por Steven Bremner, whiskymaker da The Macallan, com cinco tipos de barris que – em sua concepção – possuem histórias relacionadas ao rio Spey e à paisagem que circunda a destilaria. E por mais que eu aqui adore um storytelling, acho que somente serei prolixo e desinteressante ao engatar num papo esotérico sobre por que hogsheads first-fill lembram um senhorzinho simpático trajando tons de verde.

Então, vamos ao que interessa. São elas: barricas de primeiro uso (botas) de carvalho americano da tanoaria Tevasa; hogsheads de primeiro uso JMM de carvalho europeu; botas e hoghseads de carvalho europeu de primeiro uso (first-fill); botas de segundo uso (second-fill) de carvalho americano e europeu; e botas da tanoaria Vasyma. De acordo com a The Macallan, as barricas foram temperadas com vinho jerez espanhol. As barricas usadas para compor o Edition No. 6 são, portanto, e em resumo, barris de carvalho americano e europeu, dentre elas, hogsheads e butts que contiveram jerez. E é essa toda informação que temos. O whisky não possui idade declarada no rótulo, e é engarrafado à curiosa graduação alcoolica de 48,6% – o número fracionado, um pequeno easter egg (alguém ai disse easter elchies?) dos whiskies da The Macallan Edition Series.

Sensorialmente, o The Macallan Edition 6 traz notas de uvas passas, frutas cristalizadas e pimenta do reino. Há também as clássicas notas de baunilha e açúcar mascavo. O tema é claramente vínico, mais até do que o Macallan Double Cask 15 anos, por exemplo. É o perfil mais clássico da The Macallan, e também o mais celebrado entre entusiastas. Um whisky que é perfeito para entusiastas da destilaria, colecionadores e apaixonados por whiskies vínicos. Excelente para se beber com atenção aos detalhes, mas, também, para acompanhar em um momento de prazer. Como, talvez, uma pescaria. Só não no Yemen.

THE MACALLAN EDITION NO . 6

Tipo: Single Malt sem idade declarada

Destilaria: Macallan

Região: Speyside

ABV: 48,6%

Notas de prova:

Aroma: uvas passas, especiarias, frutas cristalizadas.

Sabor: Caramelo, baunilha, frutas secas, uvas passas. Final longo e equilibrado, com açúcar mascavo e frutas secas.

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