Drunk Uncle – Metamorfose

Estamos em novembro, mas o comércio já sinaliza a – relativa – proximidade do natal. E com ele, vêm guirlandas, luzinhas coloridas, música brega e decorações verdes e vermelhas. Ah, e neve artificial num calor de trinta graus à sombra. Mas nada disso supera o mais temido personagem desta época do ano. Que não é o Grinch, caso tenham tentado adivinhar antes de chegar à próxima frase. Mas o tiozão do pavê.

O tiozão do pavê vem em várias formas. Às vezes, ele nem é um tio. Mas um primo, uma tia, um amigo da família. É aquela pessoa que voce evita o ano inteiro, apenas para ter a insatisfação de ficar preso em uma conversa angustiante nas festividades de fim de ano. Sóbrio, ele já é desagradável, mas, manobrável. Bêbado – e você sempre o verá bêbado – fica pior. Porque lança mão de piadinhas como o tomate que foi no banco tirar extrato. Ou resolve que vai discutir política, religião, diversidade sexual ou a receita do dry martini como se aquela conversa fosse determinar o futuro da humanidade.

Às vezes ele vem fantasiado.

O encontro com o tiozão do pavê é quase irremediável. Quase, porque há uma forma quase quântica de evitá-la. Algo absolutamente contraintuitivo, mas extremamente eficaz. Que é se tornar, você mesmo, este sinistro personagem. E nisso, talvez, um ou dois coquetéis ajudem bem. Como, por exemplo, o Negroni.

Assim como o tiozão do pavê, o Negroni tem infinitas variações. Algumas não escondem sua inspiração, como é o caso do Negroni Sbagliato e Negroni Bianco. Outras se denunciam pela lista de ingredientes, como é o caso do Valentino. E outras, ainda, não parecem muito óbvias, mas ficam claras depois de uma análise bem superficial – algo que às vezes também acontece no seio familiar. Este é o caso do Drunk Uncle. O coquetel tem a mesma estrutura de um negroni – um destilado base, um amaro e vermute. Mas a lista de ingredientes muda um pouquinho.

Sai o Campari, assinatura clássica do Negroni, e entra o Cynar – um improvável bitter de alcachofra, que na verdade prescinde explicações para os mais versados nos copos. No lugar do vermute tinto, entra um vermute bianco, como o Martini Riserva Speciale Ambrato. E, finalmente, fazendo as vezes do gim, surge uma maravilha etílica capaz de tornar tudo maravilhoso. O scotch whisky turfado – um single malt, de preferencia, para equilibrar a estrutura do drink, como um Laphroaig ou Bowmore. A guarnição fica por conta de um twist de grapefruit.

Grapefruit a.k.a. Toranja

De acordo com matéria da Liquor.com , o Drunk Uncle foi criado pelo bartender canadense Shawn Soole. “De certa forma, todos os negronis procuram o mesmo perfil de sabor: forte, equilibrado, amargo e com certo dulçor do vermute. Mas cada um tem sua personalidade própria“, diz Soole. E completa, ao justificar a escolha dos ingredientes “Um single malt defumado de Islay vai funcionar bem com Cynar e vermute bianco, mas não com Aperol ou Campari. Algo ficará desequilibrado“.

Vamos à receita. Um drink que perdeu a chance de ser chamado de Drunkle, assim como o coletivo de capivara em português, que devia ser capivárias. Mas deixe-me parar por aqui antes que a transformação seja completa. Com vocês, uma mistura que é quase mágica. Uma poção inevitável, que trará resiliência ao bebedor para suportar as festividades de fim de ano. Mas, também, um elixir que transformará pessoas aparentemente normais em temidas criaturas mitológicas do folclore natalino. Com vocês, vocês mesmos. O Drunk Uncle.

DRUNK UNCLE

INGREDIENTES

  • 45ml single malt turfado, como Laphroaig Select
  • 25ml vermute bianco
  • 10ml cynar
  • parafernália para misturar

PREPARO

  1. juntar os ingredientes no mixing glass. Acrescentar gelo e mexer .
  2. passar o líquido sem o gelo para uma taça previamente gelada.
  3. aromatizar com um zest (um pouquinho da casca) de grapefruit ou toranja. Ou não.

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