Dewar’s 15 anos – Do Instinto

Sabe aquele momento que você tem quase certeza que vai morrer, mas luta vigorosamente pela vida? Aqueles derradeiros cinco segundos – quando a luta pela sobrevivência é mais vigorosa? O momento do tudo ou nada? Bem, descobri aos doze anos e pouco, durante um passeio a cavalo na chácara de um amigo, que não tenho nada disso. Vou contar, brevemente, para vocês. Passeávamos tranquilamente por uma estrada de terra quando meu cavalo, um belo pangaré branco que andava meio de lado, se assustou com algo. Jamais saberei o que foi. Mas, tão somente, que o animal tracionou as quatro pernas e, num pulo, foi direto da marcha ao galope. Assustado, puxei a rédea – inutilmente – e fiz força nos pés, tentando me manter reto na sela. O que sucedeu não levou mais do que cinco segundos. Ouvi um barulho metálico e perdi o equilíbrio. Me virei para trás – o estribo desprendera, e rodopiava e quicava no chão de areia batida como um ginasta olímpico. Olhei reto, à frente, onde a estrada descrevia um cotovelo fechado. O cavalo não fazia a menor menção de reduzir a velocidade, literalmente, galopante. E, naquele momento, naquele exato momento, um par de segundos […]

Dewar’s 25 – Sobre a Passagem do Tempo

    Tenho pensado bastante sobre o tempo. Não o calor, frio e a chuva, porque  todo mundo sabe que esse tempo é doido, e às vezes faz frio de manhã, calor a tarde e chove a noite, e a gente sai com um guarda roupa de coisa que nem vai usar. Não me refiro a este tempo. Me refiro à passagem de segundos, minutos, horas, dias, meses e anos. Àquele tempo, tema da famosa refutação de Borges. A essência da qual somos feitos, do rio que me arrebata, do tigre que me devora, da quarta dimensão. Esse tempo é algo interessante. Ele destrói. Nada é permanente. A passagem do tempo traz desordem, caos, decadência e degradação. Dê tempo suficiente a algo, que aquilo sempre entrará em colapso e deixará de existir. Mas nem tudo é drama. O tempo, para nós, também possui uma face reparadora. A nostalgia. A nostalgia apara as arestas pontudas da memória, e ressalta aquilo que outrora fora bom. Nossa memória tende a atenuar o sofrimento e reacender a felicidade. Deve ser alguma forma de proteção. E não é somente com nossa lembrança que o tempo possui essa função, diremos, cosmética. Com o whisky também. A […]

Polivalência – Dewar’s 18

Acho engraçado como, na antiguidade, quase todo mundo era mais de uma coisa. Acho que como não havia internet, Netflix, televisão e nem smartphones, as pessoas tinham mais tempo para se dedicar a seus ofícios. Ou talvez só ficassem terrivelmente entediadas, e por isso procurassem algo para se ocupar. Mas não estou falando de multitasking. Não. Era algo muito maior que isso. Um exemplo foi Blaise Pascal. Aquele mesmo, do Teorema de Pascal. O rapaz – que viveu durante o século dezessete – era matemático, físico, inventor, escritor e teólogo do catolicismo. Enfim, um cara bem versátil. Ou quiçá apenas alguém hiperativo em uma época que não oferecia muita coisa para se fazer numa quarta-feira à tarde, por exemplo. No mundo do whisky temos também personagens polivalentes. Um deles foi Thomas Dewar – também conhecido como Tommy – um dos filhos de John Dewar, fundador da marca de blended whiskies que leva seu sobrenome. Tommy era um cara engenhoso. Algumas de suas ocupações eram: empresário do mundo do whisky, vendedor, criador de cavalos, pombos-correio e – mais reconhecidamente – galináceos. Thomas também era extremamente comunicativo, carismático e espirituoso. Ele se divertia cunhando máximas, que ficaram tão conhecidas que foram apelidadas […]

Dewar’s 12 anos

Não poderia começar esta prova de outra forma senão falando do Bolovo. Sim, este alimento incrível, um clássico da baixa gastronomia brasileira. O bolovo é uma mistura de um monte de coisa boa, que, óbvio, fica ótima. No bolovo vai um ovo inteiro, farinha de rosca, temperos, leite, litros de óleo pra fritar e carne. A princípio, carne moída, mas que pode ser qualquer coisa, dependendo do nível de gourmetização. De ragu de porco a filé kobe. Mas eu nem preciso explicar isso. Porque você já deve saber o que é um bolovo, claro. O bolovo – assim como outros salgadinhos igualmente oleosos e deliciosos – ascendeu no boteco, e lá encontrou seu lugar de direito. O bolovo está completamente à vontade em seu lar, com aquela parede de azulejos brancos, a cadeira de plástico, mesas retráteis, cerveja com camisinha e bom papo. Mas o que pouca gente sabe é que o bolovo, na verdade, fala inglês. É isso mesmo. O bolovo possui um antepassado escocês. Um prato que tem um nome bem menos genial do que bolovo, mas também bem mais concreto. O Scotch Egg (ovo escocês). O scotch egg é basicamente a mesma coisa nosso querido prato tupiniquim, […]