Logan Heritage Blend – Herança

Ah, por causa do Vinícius. Toda vez que menciono o nome deste blog a um interlocutor incauto, há sessenta e cinco por cento de chance dele mencionar o poetinha. Eu já contei. Durante uma época, até tomava nota. Este daí perguntou. Esse não. Eu costumava proferir o nome do blog e já engatilhar um sorrisinho de soslaio de antecipação à pergunta. Isso mesmo, a inspiração é o Vinícius de Moraes, sabe, eu adoro aquela frase, que o whisky é o melhor amigo do homem, é o cachorro engarrafado, que legal que você notou. Depois, ao abrir o Caledonia, outras indagações e afirmações se juntaram ao caderninho de recorrências. Você tem whisky japonês? Você tem aquele canadense do Mad Men? E aquela marca de Taiwan? Este daí é o do James Bond – e aponta pra uma garrafa de The Macallan. E eu sorrio, e respondo, já meio ensaiado, porque o negócio é tipo escovar os dentes ou dirigir até o trabalho. Você já engata o piloto automático e depois até fica assustado quando recobra a consciência voluntária. Mas, dessas perguntas e observações, há uma que eu sempre presto atenção. Meu pai bebia – ou bebe – esse daí. Meu pai […]

Dupla Nacionalidade – Nomad Outland Whisky

Se você acessou o Cão Engarrafado, é muitíssimo provável que tenha notado o cachorro ali de cima. É engraçado que, mesmo que isto seja um blog sobre whisky, muita gente me pergunte sobre ele. O cão do Cão. Então resolvi que hoje vou falar um pouquinho sobre nosso garoto propaganda e revelar sua identidade. Seu nome é Maverick. Ele é um mini collie – também conhecido como Sheltie – ainda que a gente ache que a parte do “mini” foi esquecida durante sua concepção. Ele tem seis anos, e pesa em torno de dezesseis quilos. Um pouco grande, mas tudo normal até aqui. Acontece que o Maverick é, na verdade, um gato por dentro. Ou melhor, um gatorro. Porque por mais estranho que pareça, ele raramente quer algum contato. Ele passa o dia andando pela casa e olhando com desdém para as pessoas e não é muito chegado em gente nova. Além disso, ele despreza biscoito de cachorro, mas é apaixonado por atum em lata. O Maverick pode ter nascido cão, mas, por dentro, bate um coração cheio daquele ódio passivo tão característico dos gatos. Se eu pudesse comparar o Maverick com algum whisky, este certamente seria o Nomad: Outland […]

Bloqueio – Whyte and Mackay 13 (The Thirteen)

Essa semana estava sem imaginação para um novo texto. Observava, com olhar fixo, a página em branco do documento à minha frente, enquanto percorria em minha mente tudo aquilo que já tinha visitado neste blog.  Não sabia que whisky reveria, e, pior, não tinha a mais rasa ideia de como introduzi-lo. E enquanto me esforçava para pensar em qualquer coisa que pudesse ser minimamente usada em um texto, veio-me uma frase que é comumente atribuída a Hemingway. Escreva bêbado, edite sóbrio. Concluí, com certo entusiasmo, que era aquilo que precisava. Beber um whisky, que me ajudaria a escolher o whisky que beberia – e escreveria – em seguida. Uma visita a dispensa. Lagavulin. Ardbeg. Glenfarclas. Nada disso. Enquanto pensava, precisava de algo mais leve. Algo que pudesse beber despreocupado, e que me auxiliaria a refletir e lubrificasse minha mente. Algo despretensioso, mas que me estimulasse a tomar o próximo gole quase involuntariamente. O escolhido logo brilhou para mim. Um Whyte and Mackay 13 anos. Em um copo baixo, logo servi uma generosa dose. Afinal, caso tivesse que me levantar da cadeira novamente para completar o copo, poderia perder a concentração. Melhor pecar pelo excesso. Com o primeiro gole, comecei a pensar. […]

O Cão Econômico 2/3 – Teacher’s Highland Cream

Este é o segundo post de uma série de três provas sobre whiskies abaixo de R$ 100,00. O primeiro foi o Glen Grant. Além dele, o Cão já visitou outros três whiskies nessa faixa de preço. Foram White Horse, Johnnie Walker Red Label e Suntory Kakubin. Se você já acompanha o Cão Engarrafado há algum tempo, provavelmente já percebeu que os automóveis estão entre minhas maiores paixões. Sempre gostei de carros. E na aurora deste meu amor, entre quase todas as marcas do mundo, a que provavelmente ocupava a maior área dentro do meu habitáculo mental de obsessões automobilísticas era a Alfa Romeo. Os Alfa Romeos, para mim, eram carros com alma. Carros produzidos por apaixonados por automóveis, para os apaixonados por automóveis. Caros, mas absolutamente geniais. Afinal, quase todos os entusiastas colocavam a montadora em posição de destaque em seu rol de paixões. Antes de fazer dezoito anos e tirar minha carta, dirigir um Alfa era uma das coisas que eu mais queria fazer na vida, e provavelmente o único desse rol de desejos pungentes que não envolveria mais ninguém. Para minha incrível sorte – ou azar – minha avó possuía um Alfa Romeo 164, pouquíssimo rodado e muito […]

Vira Lata Engarrafado – White Horse

Antes de dar continuidade ao projeto de três whiskies abaixo de cem reais, permita-me uma digressão: preço é uma coisa engraçada. Quando algo é caro, necessariamente a tratamos com mais respeito, e procuramos – as vezes, inutilmente – qualidades ocultas naquilo. Carros são bons exemplos disso. Mas os melhores são, provavelmente, restaurantes. Restaurantes são bons exemplos porque há uma conjunção louca de fatores que poderiam justificar um preço simplesmente extorsivo. Além disso, avaliar um restaurante é um processo quase exclusivamente subjetivo. Não há parâmetros matemáticos. No caso de carros, por exemplo, podemos dizer que um vai de zero a cem em dois segundos a menos que outro. E que há mais espaço interno. É como dizem: contra fatos não há argumentos. Mas é difícil medir objetivamente se o bacalhau de um restaurante é duas e setenta e cinco vezes melhor que de outro. Uma vez fui com a Cã a um restaurante autoproclamado conceitual. Meu prato, que custava quase o preço de todas as minhas peças de roupa combinadas, era descrito como crisps de batata sobre suculentos escalopes em uma cama de verdes. Entretanto, ele se mostrou, na verdade, como um contrafilé maltratado, com batata palha e algo que lembrava, […]