Logan Heritage Blend – Herança

Ah, por causa do Vinícius. Toda vez que menciono o nome deste blog a um interlocutor incauto, há sessenta e cinco por cento de chance dele mencionar o poetinha. Eu já contei. Durante uma época, até tomava nota. Este daí perguntou. Esse não. Eu costumava proferir o nome do blog e já engatilhar um sorrisinho de soslaio de antecipação à pergunta. Isso mesmo, a inspiração é o Vinícius de Moraes, sabe, eu adoro aquela frase, que o whisky é o melhor amigo do homem, é o cachorro engarrafado, que legal que você notou.

Depois, ao abrir o Caledonia, outras indagações e afirmações se juntaram ao caderninho de recorrências. Você tem whisky japonês? Você tem aquele canadense do Mad Men? E aquela marca de Taiwan? Este daí é o do James Bond – e aponta pra uma garrafa de The Macallan. E eu sorrio, e respondo, já meio ensaiado, porque o negócio é tipo escovar os dentes ou dirigir até o trabalho. Você já engata o piloto automático e depois até fica assustado quando recobra a consciência voluntária. Mas, dessas perguntas e observações, há uma que eu sempre presto atenção. Meu pai bebia – ou bebe – esse daí.

Dependendo de quem for seu pai, ele até tem umas frases célebres sobre a bebida.

Meu pai bebia esse daí. A frase normalmente precede o apontamento do Logan ou White Horse. Isso sempre me intrigou. Talvez todos meus clientes sejam irmãos, e o pai deles seja tipo um Mr. Catra, que tudo que encostava virava filho. Um Mr. Catra do whisky, que só bebe cavalo branco e Logan. Mas, eu acho que não. Acho que, na verdade, estes whiskies fizeram parte de nossa herança etílica. Junto com mais umas duas ou três marcas, foram os precursores no Brasil do whisky escocês, e ganharam o coração e um espaço no barzinho de nossos progenitores. E é por isso que hoje, eu sempre tenho que acenar com a cabeça num ar meio sonso quando alguém relaciona Logan e paternidade.

Na verdade, o primeiro logan a aparecer no Brasil foi o 12 anos. Mas vamos desenevoar o ar. O Logan Heritage Blend não é a mesma coisa que o Logan 12 anos. O primeiro foi lançado em 2014, justamente para substituir o segundo. O lançamento, aliás, ocorreu em Portugal – um mercado consumidor bem relevante do rótulo – com a presença de sua criadora, a master blender Caroline Martin. A revelação do whisky ao mercado coincidiu também com o centésimo décimo primeiro (isso é 111) aniversário da Logan. A diferença entre os dois blends é perceptível – o antigo 12 anos era mais encorpado e enfumaçado. O Heritage é mais leve e equilibrado.

E já que o clima é de revelações, vamos à composição do Logan Heritage. De acordo com Caroline, o processo de criação do blend levou aproximadamente dois anos. O Logan Heritage – assim como seu predecessor de doze anos – contém uma parcela importante de Lagavulin – um nome de peso para qualquer entusiasta, e o responsável pelo perfil enfumaçado do Logan Heritage – bem como participação especial dos single malts Glen Elgin e Craigellachie. Entretanto, mais de vinte e quatro whiskies distintos foram usados para trazer equilíbrio à bebida.

Aliás, por falar em Lagavulin, há uma relação importante entre a Logan e a famosa destilaria de Islay. Sir Peter Mackie, fundador da Lagavulin e criador do blend White Horse, era sobrinho de James Logan Mackie. A história é que Logan era um comerciante de whisky de Glasgow. Como não possuía filhos, apadrinhou seu sobrinho, e o enviou a Islay, para aprender a fazer whisky. Peter se esmerou no trabalho, e fundou a Lagavulin. Depois de um tempo, James se juntou a ele, e lançou seu querido blended whisky. Por conta disso, tanto White Horse quanto Logan partilham do mesmo coração de malte – o Lagavulin. Atualmente, tudo – sem exagero – pertence à gigante Diageo. Logan, White Horse e Lagavulin.

Lagavulin

O Logan Heritage, de, certa forma, lembra bastante o White Horse. É um blend jovem, que deixa clara sua base de grãos. É, porém, sensivelmente mais adocicado e menos enfumaçado que o clássico do cavalinho branco. Essa troca – de fumaça por dulçor – torna um Heritage um pouco mais elegante. O que é bom, de certo modo. Especialmente para os consumidores que buscam algo imediatamente palatável, com perfil clássico e equilibrado. Este Cão, porém, talvez sinta falta da nota enfumaçada mais clara, outrora presente no Logan 12 anos.

Assim como você e seu pai, o Logan Heritage possui muito do Logan 12 anos. E de seu primo, White Horse. São whiskies que possuem um DNA comum, e que, de certa forma, apelam também para o mesmo público. Aquele que busca um whisky com perfil clássico, enfumaçado mas leve, perfeito para ser bebido com pedras de gelo. Ou colocado ali, ao alcance de todas as mãos, no centro de uma – cada vez mais rara – mesa de confraternização. E pode até ser que ele passe despercebido na prateleira da loja, na sua próxima compra. Mas quando seus olhos repousarem numa garrafa, certeza que você vai dizer “nossa, esse meu pai bebia

LOGAN HERITAGE BLEND

Tipo: Blended Whisky
Marca: Logan
País/Região: Escócia – N/A
ABV: 40%
Idade: Sem idade declarada (NAS)

Notas de prova:

Aroma: mel, caramelo, fumaça.

Sabor: toffee, baunilha, nozes. Final defumado e apimentado.

18 thoughts on “Logan Heritage Blend – Herança

  1. Caro Maurício,
    Quando se deparar com “Meu pai bebia – ou bebe – esse daí”, minha sugestão é que anote também a idade estimada de quem comentou e o tempo verbal. Após uma amostragem que julgar razoável, confronte idade estimada, whisky mencionado e tempo verbal. Veja se os mais velhos irão mencionar White Horse e o tempo é pretérito.
    Tenho uma observação sobre o Logan ( não costumo mencionar o “12 anos” ) e o Logan Heritage. Sobre o Logan, você é um homem de sorte porque até agora ninguém lhe mencionou que queria tomar o ‘whisky do Collor’. Referente ao Logan Heritage, para eliminar o Logan e criar esse treco eu não levaria mais que duas semanas.
    Forte Abraço,
    Sócrates

    1. Caro Sócrates, vou te dizer que consegui me esquivar as referências ao Collor – sinceramente, não me lembro de ter ouvido o comentário em algum momento enquanto estivesse no bar. Mas, ao publicar esta matéria, foi tudo que ouvi. Realmente, é quase uma simbiose.

  2. Favor desconsiderar comentário anterior. O teor é idêntico, mas com parágrafos separados para conforto de leitura.

    Caro Maurício,

    Quando se deparar com “meu pai bebia – ou bebe – esse daí”, minha sugestão é que anote também a idade estimada de quem comentou e o tempo verbal. Após uma amostragem que julgar razoável, confronte idade estimada, whisky mencionado e tempo verbal. Veja se os mais velhos irão mencionar White Horse e se o tempo é pretérito.

    Tenho uma observação sobre o Logan ( não costumo mencionar o “12 anos” ) e o Logan Heritage. Sobre o Logan, você é um homem de sorte porque até agora ninguém lhe mencionou que queria tomar o ‘whisky do Collor’. Referente ao Logan Heritage, para eliminar o Logan e criar esse treco eu não levaria mais que duas semanas.

    Forte Abraço,

    Sócrates

    1. Haha, caro Sócrates, ri muito com o comentário! Sabe que o negócio do Collor foi curioso. No Caledonia, jamais mencionaram. Eu estranhava. Foi só eu soltar o post que TODO MUNDO lembrou do tal. Na época dele talvez isso fosse um mérito. Hoje, bem, acho que o tempo traz uma clareza curiosa aos acontecimentos.

      1. Caro Maurício,

        Espero que no Caledônia não haja Romanée-Conti ou Caninha 51 para lhe poupar outros aborrecimentos.

        Abraços,

        Sócrates

      2. Caro Maurício,

        Espero que o Caledônia não haja Romanée-Conti ou Caninha 51 para lhe poupar outros aborrecimentos.

        Abraços

        Sócrates

      3. Gostaria de saber por que substituíram o 12 anos pelo Heritage? Eu sou um dos “pais” que bebiam o Logan original e sinto saudade daquele.

        1. Fabio, questão de estoque e padronização. Para manter o mercado atendido, e não perder qualidade ou padrão, entra o whisky sem idade declarada – dá mais liberdade ao master blender.

  3. Sempre muito bom resgatar alguns clássicos, Whiskys que transcederam gerações, principalmente aqui na terra Brasilis que até um tempo atrás havia muito poucas opções, de qualquer forma muito oportuno sua colocação das referências pela busca de rótulos pelos exploradores ( foi ótimo o Whisky do James Bond e do Mad Men).
    Enfim, um pecado a Diageo não nos agraciar com os Lagavulin em nosso mercado, e como não é recomendado ler o blog sem estar apreciando um bom Whisky, e com certeza por nem todos ter um Logan disponível no momento,, nada mais justo que aumentar a lista de aquisições futuras.

    Um grande Abraço Mestre

    Luiz F.

  4. Fala Mauricio, a muito que esperava o post sob o Logan um dos blended’s favoritos de meu finado avo paterno assim como primeiro whisky que bebi na vida no meu aniversario de 10 anos.
    Provei-o na companhia de três pessoas muito especiais, meus dois avos paternos e meu avo materno.
    o Logan me recorda de uma época que não mais regressara, inicio da adolescência e com a vida acadêmica toda ainda pela frente.
    Esta ai, vou adquirir outra garrafa dele e recordar-me irei do passado.
    Cordialmente, Abc forte.
    Gabriel.

    1. Prezado Gabriel,

      Espero que seja perdoado por me envolver em questão tão pessoal.

      Não sei se com o Heritage vai funcionar, mas se você conseguir um Logan, ficará surpreso com os ponteiros do relógio girando ao contrário.

      Atenciosamente,

      Sócrates

      1. Boa noite caro Sócrates perdão a infinita demora em responder-lhe, arrisco dizer eu que tanto o Logan quanto o White Horse são rótulos que remetem a boas lembranças e como mencionado a cima, aos cada vez mais raroros encontros familiares.
        Irei procurar incessantemente a versão 12 anos e fazer esse comparativo meu amigo, o mais brevemente possível retorno ao post para comentar meus comparativos.
        abc forte.

      2. Boa noite caro Sócrates perdão a infinita demora em responder-lhe, arrisco dizer eu que tanto o Logan quanto o White Horse são rótulos que remetem a boas lembranças e como mencionado a cima, aos cada vez mais raroros encontros familiares. Irei procurar incessantemente a versão 12 anos e fazer esse comparativo meu amigo, o mais brevemente possível retorno ao post para comentar meus comparativos. abc forte.

        1. Fala, cão! Tudo tranquilo?
          Fui consumidor do bom e velho Logan 12 anos por muito tempo. Um dia, acabei passando em uma loja e peguei este Heritage Blend por engano. Chegando em casa, vi que não era a mesma coisa e fui pesquisar, ficando com a pulga atrás da orelha.
          Garrafa aberta, puro no copo como sempre e a decepção em verificar que é um produto mais barato que o original. É a mesma bebida de sempre, porém, faltando um pouco daquela magia do original. Falta o corpo que minha memória afetiva guardou. É um pouco mais magro, diluído. Puro, não rolou.
          Como a garrafa precisa ser consumida, fugi do meu costume e o experimentei com gelo. E não é que caiu bem? Desta forma, ele fica mais equilibrado que puro. É refrescante, suave e saboroso, uma versão light do original. Muito fácil de ser bebido. E gostoso.
          Consigo entender a mudança promovida pelo fabricante, entregando um produto de qualidade, porém, mais barato. Vai bem com gelo e acredito que é fácil de cair no gosto da maioria.
          De toda sorte, vou sentir uma falta danada do original. O Heritage Blend não é ruim, o Logan Deluxe 12 anos que era excelente. E órfão fiquei.
          Mais uma vez, parabéns pelo blog!

          1. Pois é Peter, voce viu o silver lining na questão. Continua legal!

  5. Caro Mauricio e Sócrates encontro-me agora em uma Loja do Outback no Rio, me recordei de nosso pequeno debate quase dois anos e meio Atrás.
    E principalmente de meu amado Avô Paterno.
    Meu avô foi um amante de whisky’s leves.
    Minha introdução ao whisky foi pelo Single Malt Lagavulin 16 anos em 2008 nos meus 10 anos de idade feito pelo meu falecido avô.
    Sempre gostei do White Horse e do Logan, seja por ter Lagavulin em sua composição ou por serem ambos apreciados pelo meu saudoso Avô Rodolpho.

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