May Vesper – James Bond em Islay

“Um Dry Martini. Num cálice de champanhe. Tres partes de Gordon’s, uma parte de vodka, meia parte de Kina Lillet. Bata tudo até que esteja bem gelado, e depois finalize com uma fatia grande e fina de casca de limão. “. Eu nem preciso dizer que coquetel é esse. Porque você, caro leitor e entusiasta dos copos, já sabe. “Este drink é minha invenção. Eu vou patenteá-lo quando pensar em um bom nome“. E, mais para o final do livro – ou do filme, caso seja de sua preferência, ele finalmente bate o martelo “Acho que vou chamá-lo de Vesper“. Note que, no parágrafo acima, eu nem mencionei James Bond. E nem precisei. Você já sabia que era ele a partir da segunda linha deste texto. Ele é certamente o agente secreto mais célebre – e menos secreto – da ficção. Até quem não gosta da franquia sabe uma porção de coisas sobre ele. Que tem uma paixão por Aston Martins, bebe dry martinis e The Macallan – aliás, em quantidades pouco recomendáveis – e carrega a tal perigosa licença para matar. O que você não deve saber, a não ser que seja um fã muito dedicado, é que James […]

Mitos e lendas do mundo do whisky – Parte I

Esta é a primeira parte de um post de duas partes sobre mitos e lendas no mundo do whisky. Preparem-se, queridos leitores. Hora de passar nervoso. Boitatá, curupira, mula sem cabeça. Sátiro, fauno, centauro. Lobisomem, vampiro. Todas as culturas tem suas criaturas folclóricas. Elas nasceram da necessidade de explicar o que era, outrora, inexplicável. Ou simplesmente garantir que as pessoas se comportassem direito e não fizessem nenhuma barbaridade. Afinal, é mais fácil explicar que um demônio alado vai sugar seu sangue à noite do que explicar racionalmente porque você não deve satisfazer sua lascívia com o parceiro ou parceira do coleguinha. O mundo do whisky, também, é cheio de crenças e folclore. Mitos, que ninguém sabe direito de onde vieram. E, num mundo de pós-verdades, alimentadas pelo imediatismo e pelo enorme fluxo de (des)informações, essas crendices se multiplicam e perpetuam. Algumas, são baseadas no purismo. Outras, em analogias meio esdrúxulas. E outras, ainda, devem ter brotado da terra sem mais nem menos, porque não fazem o menor sentido – tipo o papo do demônio sugador lá. Identificamos, aqui, algumas delas, e explicamos por que elas não são verdadeiras. Racionalmente. SINGLE MALT É MELHOR QUE BLEND Essa é provavelmente uma das […]

Dalmore King Alexander III – Combinação

Quinta-feira, oito da noite. Observo, com desânimo, o mais perfeito e alvo vazio do interior de minha geladeira. Nem mesmo o espaço sideral seria tão perfeitamente desocupado quanto aquele compartimento gelado. Indago à Cã se ela não gostaria de pedir algum delivery, visto que a alternativa seria lentamente morrer de inanição iluminado pela fria luz azul do freezer. A resposta é rápida – quero poke. Faço um pequeno protesto. Não sou fã de poke. Acho uma comida bem aleatória – abacaxi, shoyu, shari e salmão me parece tão dadaísta quanto um Cão Andaluz. Reclamação que resta infrutífera, claro, afinal quem decide minha vida não sou eu. Me resigno a escolher os ingredientes de minha cumbuca sob o olhar ansioso, condenatório e faminto de minha querida esposa. A indecisão toma lugar do protesto. Gente, sei lá como montar um poke. Certamente Sartre teria repetido a frase de que cada escolha é uma angústia ao olhar a lista de ingredientes possíveis de um poke. Quero atum, wakame, arroz, manga, picles. Não, pera, será que manga vai bem com picles? A Cã me observa com animosidade. Cada minuto que você perde é um minuto que eu passo fome. Gente, sei lá, eu não […]

Speyside & Triangle – WorldClass 2021

Se você, como eu, tinha outras prioridades durante suas aulas na escola, aqui está uma pequena chance de remissão. Vamos hoje conhecer Gibraltar. Gibraltar é uma península insignificante, mas que fica num lugar incrivelmente estratégico – que, caso você tenha alguma noção de geografia, já deve ter presumido qual é – O Estreito de Gibraltar. Também conhecido como aquela entradinha que liga o Oceano Atlântico ao Mar Mediterrâneo. Como você já deveria saber se seus hormônios tivessem permitido alguma atenção à aurora de sua vida acadêmica, Gibraltar foi matéria de disputa entre o Reino Unido e a Espanha, durante o século dezoito. O território era originalmente espanhol e foi capturado pelos ingleses numa batalha sangrenta. Depois, foi reconquistado pelos ibéricos até finalmente voltar a ser britânico, pelo tratado de Utrecht. Por conta de Gibraltar, as relações diplomáticas e políticas entre Espanha e Reino Unido não eram das melhores – algo que, com o tempo, claro, foi recuperado. Ou não. Mas ainda que os dois países tivessem relações eivadas de animosidades no campo do imperialismo internacional, na área etílica, sempre houve uma incrível sinergia. É que o whisky escocês sempre dependeu de barris vindos da Espanha. Explico. O vinho jerez espanhol […]