Kentucky Buck – Whiskey de bermudas.

Trinta graus. Trinta graus no meio do inverno, em São Paulo. Céu tão limpo que parece até que passaram aquele filtro do Photoshop que usavam na Playboy na década de noventa, e de vez em quando sumia o umbigo de alguma modelo. Cara, como eu odeio calor. Ainda mais um calor assim inesperado, no meio da mais deliciosa estação do ano, que é o inverno. Inverno é pra ser deliciosamente frio, cinza, nublado e taciturno. Aliás, já que abri a porta mimizenta, tem outra coisa que me dá raiva no calor. Quando alguém chega e diz que tá um dia tão lindo, só porque faz sol e tá quente. Não tá não, meu jovem, tá um tempo desgraçado de quente, propenso a todo tipo de coisa nojenta, tipo virilha suada, proverbiais pizzas debaixo do braço, meias úmidas e mullets pegajosos pingando. Não há elegância que resista a trinta graus no inverno. Se o príncipe William duque de Cambridge morasse aqui, a indumentária tradicional seria bermuda, chinelos e litrão na mão. É, eu sei que litrão é cringe. Sabe o que mais é cringe? Passar calor. A única vantagem desse clima incivilizado é a possibilidade de beber coisas refrescantes. O que, […]

Lagavulin 11 Offerman Edition Guiness Cask Finish – Drops

Drops são nossos posts menores, de análise ou curiosidades do mundo do whisky, e que contam com rótulos indisponíveis no Brasil – mas com alguma particularidade interessante. Para ler outros drops, clique aqui “Eu viajei pelo mundo e experimentei muitas tentativas de criar néctares agradáveis, mas é apenas esta destilação de Islay; uma pequena e carismática ilha escocesa que conquistou meu paladar. Sim, e meu coração junto.” A frase é de Nick Offerman, o ator que vive – ou melhor, que é – Ron Swanson na vida real. Offerman é um fã incondicional da Lagavulin. Tão apaixonado que criou e produziu uma série de curtas sobre sua paixão – o que, pra falar a verdade, não é tão estranho assim, eu faria o mesmo. Ocorre que Offerman é uma celebridade. E, como uma celebridade, há a possibilidade de exercer sua paixão de uma forma pouco acessível para pessoas normais. Como, por exemplo, lançar sua própria série de whiskies em parceria com a Lagavulin. E é daí que surgiu o Lagavulin Offerman Edition: Guiness Cask Finish, tema desta prova. Na verdade, o Lagavulin 11 Offerman Edition: Guiness Cask Finish não é a primeira colaboração entre Offerman e a destilaria de Islay, mas […]

Bowmore 12 anos – Renúncias

O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre escreveu que somos livres porque podemos escolher. Mas que cada escolha é uma renúncia. Já o dinamarquês Søren Kierkegaard – aliás, não faço a menor ideia de como se pronuncia um ó cortado – delineou que é o ato de fazer escolhas que traz significado à vida. O que é bem curioso vindo de um cara cujo sobrenome é uma variação de Kirkegård, que significa cemitério em sua lingua, e que morreu aos quarenta e dois anos de idade. Mas deixemos o senso deturpado de ironia de lado. Pela doutrina da dupla sertaneja do existencialismo Søren e Sartre, somos a soma de nossas escolhas. Não das pequenas, claro, porque você pode escolher comer um dogão um dia, miojo na outra e depois uma pizza, e isso não fará muita diferença na sua existência, exceto se continuar se alimentando estupidamente por um longo prazo. Mas, das maiores. Escolher um ofício significa renunciar a todos os outros, por exemplo. Deixar de escolher algo também, porque não tomar qualquer decisão é, na verdade, decidir pela passividade. Entretanto, as escolhas são limitadas por nossas possibilidades. A liberdade, para eles, na verdade não está em poder ser YOLO e sair […]

Old Parr 18 anos – Iguaria

Recentemente, um grupo de comensais elegeu uma iguaria islandesa, conhecida como hákarl, como a pior comida do mundo. Um dos corajosos provadores inclusive, disse que aquilo era “a pior coisa que eu já coloquei na minha boca“. Sem julgamentos de valor aqui. Ainda que eu nunca tenha provado, as descrições menos sintéticas fazem alusão a palavras pouco convidativas à mesa, como podre, ácido, putrefeito, urina e – brilhantemente em minha opinião – cocô. O que não é surpreendente. Hákarl faz parte do Þorramatur – o prato nacional da Islândia – e é feito de tubarão podre. Mais especificamente, o tubarão-da-groenlândia. Que possui carne venenosa devido à alta concentração de ácido úrico. É este processo de putrefação e cura que o torna (discutivelmente) consumível. O tubarão-da-Groenlândia não é lá um bicho muito aprazível quando preparado como alimento. Mas, é menos ainda quando encontrado vivo. Suas barbatanas são pequenas, atrofiadas e cheias de marcas. O couro é áspero e irregular. O maxilar protuberante faz com que os dentes fiquem à mostra, e parasitas asquerosos se penduram em seus olhos e se alimentam de sua córnea – que aliás não servem para muita coisa além de reforçar já um ar repulsivo. Mas, apesar […]

Affinity Cocktail – Semelhança

Você já reparou como às vezes dois filmes praticamente idênticos estreiam quase ao mesmo tempo? Às vezes, isso é maravilhoso, porque os dois são ótimos. Tipo Failsafe e Doctor Strangelove. Outras vezes, um é melhor que o outro, como Braveheart – que é um clássico – e Rob Roy. Que não é realmente ruim. Mas podia focar menos no Liam Neeson satisfazendo sua esposa na grama, e mais na história da Escócia. E em outras situações, todos são ruins mesmo. Muito provavelmente porque a ideia era péssima já no começo, e a turma entrou numa espécie de delírio e esforço coletivo para tornar a vida dos cinéfilos um pouco mais miserável. Como com O Inferno de Dante com Volcano. Ou Striptease e Showgirls (desculpa, Verhoeven, você é ótimo!). Ah, e aqueles quatro – sim, gente, quatro – filmes sobre meteoros que ameaçam acertar a Terra. Num deles todo mundo morre, no outro o Bruce Willis explode o asteroide por causa da Liv Tyler e nos outros eu nem lembro o que acontece. Só vem, meteoro. O fenômeno, aliás, tem nome. Twin Movies, ou, Filmes Gêmeos. E não é coincidência, transmissão de pensamento ou uma espécie de reiki aplicado ao cinema. […]