Arroz de frutos do mar com whisky

Recentemente viajei para Portugal com a Cã. A viagem foi bem legal, bebemos vinhos ótimos e conhecemos lugares maravilhosos. Mas o que a gente mais fez lá foi, seguramente, comer. E é engraçado, porque os portugueses tem a mesma obsessão culinária que eu – tudo que vem do mar. Deve estar impresso no código genético de alguma forma. Naturalmente, aproveitei para experimentar algumas coisinhas inéditas. Como, por exemplo, ligueirão – que é um bicho compridinho, que parece mexilhão de sabor e textura. E percebes, que além do nome curioso, é outro molusco estranho – visualmente, parecem várias mini-patas de triceratops. E, óbvio, lampréia, aquela sanguessuga enorme cheia de dentes. Que eles tradicionalmente fazem com um molho de vinho maravilhoso, para evitar que você pense que está a comer uma sanguessuga enorme cheia de dentes. Quando voltei para o Brasil, permaneci por algum tempo com a chavinha da obsessão ligada. E resolvi arriscar alguns pratos que havia provado lá. Dentre eles, um arroz de frutos do mar, que eu tenho apenas uma vaga lembrança do original, por motivos de vinhos do douro e do Porto. De toda forma, usurpei a memória que tinha e a adequei para minha habilidade culinária – […]

Union Vintage 2005 – Flashback

Cento e sessenta e quatro milhões de reais em notas de cinquenta. São três milhões, duzentas e oitenta mil cédulas. Se alguém resolvesse, algum dia, empilhá-las, a torre chegaria a trinta e três metros de altura. E se pesadas, dariam aproximadamente três toneladas e meia. Três toneladas e meia de dinheiro, em notas de cinquenta reais. Em volume, dariam para preencher mais de seis caixas d’agua de um metro cúbico. Só pelo puro volume e peso, pode parecer uma quantidade infurtável de dinheiro. Mas foi justamente isso que aconteceu em Fortaleza, no segundo maior roubo a bancos do mundo – o tal assalto ao Banco Central, que até deu origem a um filme da Netflix. Os ladrões agiram por mais de três meses, planejando cada detalhe. Cavaram um túnel até o cofre e tiraram, pacientemente, todas as seis toneladas e meia com o uso de bacias e cordas. Nenhum alarme foi disparado. A notícia do roubo chegou a imprensa apenas no dia seguinte. Que você, querido leitor, provavelmente leu ao utilizar algum sistema de busca como o Altavista e o Yahoo. Ou, se fosse conectado as últimas tendências digitais, viu no recém-fundado YouTube. Pois é. O evento aconteceu em 2005. […]

Cinco whiskies que deixaram saudades

Naquela época, os carros eram bem melhores – disse meu amigo, afagando, numa direção só, o teto de seu Opala. Olha o design disso, olha o motor. Apertei os lábios em aprovação e pedi: Liga aí, vamos ouvir o barulho dele. Empolgado, colocou a chave no contato. O motor de arranque girou, girou, mas nada daquele reconfortante barulho dos gases em combustão saíndo do escape. Deve estar frio, concluiu. É, normal, naquela época era normal – concordei – abrindo a porta e sentando ao seu lado, no banco inteiriço. Me conta, faz quantos quilômetros por litro, indaguei. Cara, quando tô descendo a serra, uns quatro. Dei uma risadinha. Puxa, não é nada econômico. Mas né, mesmo com a gasolina custando o mesmo que o PIB de um país europeu, vale a pena. Naquela época eles eram muito mais legais – comentei, firme. Ele concordou com a cabeça e completou: A única coisa que fico um pouco cabreiro é com a frenagem e segurança. Só cinto de segurança, e não tem ABS, nada, só o freio a disco mesmo. Levantei as palmas pra cima e dei de ombros – normal, coisa daquela época, que era bem melhor. Meu amigo baixou as […]

A História do whisky japonês – Parte II

Na semana passada contamos os primeiros capítulos da história do whisky japonês. Do desembarque de Matthew Perry no porto de Edo, até a fundação da Suntory por Shinjiro Torii e Masataka Taketsuru. Por ora, tudo estava em paz. Mas sossego nenhum dura pra sempre, então, retomaremos a história com: Conflitos domésticos e internacionais Em 1934, Masataka Taketsuru resolveu alçar voo solo. Demitiu-se da Kotobukiya e começou a trabalhar no projeto de sua nova destilaria. Essa, onde ele sempre sonhara. A ilha de Hokkaido. Por não ser um empreendedor tão nato quanto Torii, Masataka resolveu batizar seu novo empreendimento de Dainipponkaju – perfeito para se falar depois de algumas doses de Kakubin. Depois, e provavelmente ao ouvir a voz da razão de Rita, mudou o nome da empresa para algo mais pronunciável mesmo alcoolizado. Nikka. Em 1940 a Yoichi, primiera destilaria do grupo Nikka, passou a funcionar. Foi nessa época que a Kotobukiya também alterou a denominação, e passou a atender por Suntory. Que, caso não tenha notado, é Torii-San ao contrário. E você, que achava que “Daslu” ou “Apple” eram ideias cretinas. Ao longo da década de trinta, o consumo de whisky no Japão ainda era pequeno e – apesar […]