Mitos e lendas do mundo do whisky – Parte I

Esta é a primeira parte de um post de duas partes sobre mitos e lendas no mundo do whisky. Preparem-se, queridos leitores. Hora de passar nervoso. Boitatá, curupira, mula sem cabeça. Sátiro, fauno, centauro. Lobisomem, vampiro. Todas as culturas tem suas criaturas folclóricas. Elas nasceram da necessidade de explicar o que era, outrora, inexplicável. Ou simplesmente garantir que as pessoas se comportassem direito e não fizessem nenhuma barbaridade. Afinal, é mais fácil explicar que um demônio alado vai sugar seu sangue à noite do que explicar racionalmente porque você não deve satisfazer sua lascívia com o parceiro ou parceira do coleguinha. O mundo do whisky, também, é cheio de crenças e folclore. Mitos, que ninguém sabe direito de onde vieram. E, num mundo de pós-verdades, alimentadas pelo imediatismo e pelo enorme fluxo de (des)informações, essas crendices se multiplicam e perpetuam. Algumas, são baseadas no purismo. Outras, em analogias meio esdrúxulas. E outras, ainda, devem ter brotado da terra sem mais nem menos, porque não fazem o menor sentido – tipo o papo do demônio sugador lá. Identificamos, aqui, algumas delas, e explicamos por que elas não são verdadeiras. Racionalmente. SINGLE MALT É MELHOR QUE BLEND Essa é provavelmente uma das […]

Tuaq Ice – Realidade Cristalina

Expectativa e realidade. Poucas coisas definem melhor o abismo entre os dois conceitos do que hambúrguer de um certo fast food. Porque na foto, atrás do balcão, ele é aquele negócio suculento, alto, mal passado, com queijo derretido em abundância. Mas, na realidade, ele é um bife pálido e fino, com uma mísera fatia de algum queijo cretino, e uma alface murcha que não cabe bem lá dentro, e faz o pão deslizar. Uma vez perguntei a um amigo fotógrafo como é que ele fazia para aquele hambúrguer todo torto ficar tão bonito na foto. E ele me confidenciou uma coisa. Que aquilo da foto não era um hambúrguer. E nem estou falando do paradoxo gerado pela Traição das Imagens, evidenciado na obra surrealista do cachimbo de Magritte. O que digo é que, nem na realidade daquela foto, aquilo era um hambúrguer. Segundo meu amigo, eles usavam massinha, espuma, ou qualquer coisa que parecesse carne, queijo e pão, só pra foto ficar bonita. Sempre pensei o mesmo sobre gelos cristalinos, naquelas fotos do Instagram. Podia apostar que era uma bola de vidro, ou acrílico. No bar, tudo bem, fazia sentido. Bastava cortar um tijolo gigante de gelo e descartar a […]

Sobre Gelo e Molho Shoyu – Gelo no Whisky

Nota: Este texto foi originalmente escrito pelo Cão Engarrafado e publicado na página de nossos parceiros da Charutando.com.br . Mas, dada a relevância do assunto, achei que seria uma boa reproduzi-lo por aqui também. Hoje em dia as pessoas tem regra para tudo. Há uns meses fui a um restaurante japonês famoso e me sentei ao balcão. E como tenho mania de sempre experimentar o diferente, fui logo pedindo o menu de especialidades. O sushiman preparou quatro niguiris. Primeiro, passou um pouco de raiz forte. Aí pegou um pincel, molhou em um potinho de shoyu, e cuidadosamente sacudiu o pincel sobre o sushi, deixando que algumas gotinhas do molho caíssem sobre o peixe cru. Tipo o Pollock, se o Pollock fosse um sushiman. Até aí, lindo. Mas como eu gosto de shoyu, pedi a ele que me desse um potinho com um pouco mais do molho. E a resposta dele foi não, de forma nenhuma, porque é assim que você deve comer sushi, para sentir o real sabor do peixe. Frente à negativa, argumentei que já conhecia o sabor do peixe, porque eu já tinha comido sushi com shoyu e sem shoyu, e em minha opinião, com era melhor que sem. […]

Seis Whiskies Para se Tomar com Gelo (e sem culpa)

Ontem, quando cheguei do escritório, a Cã perguntou se – ao invés de jantarmos fora – eu não queria pedir comida. Eu disse que sim, claro, afinal, estava cansado. E indaguei a ela o que queria. Pizza? Não, pizza não quero, estou gorda. Japonês? Não, quero algo quente. Uma massa? Não. Árabe então? Não, árabe não também. Hambúrger foi a derradeira opção, igualmente recusada. Mas afinal, amada Cã, o que você quer pedir? Ah, não sei, o que você quiser está bom para mim. Na verdade, eu queria qualquer coisa. Só não queria pensar muito. Tenho dias assim. Esse era um deles. No trabalho, me disseram para ouvir Penderecki enquanto traduzia um contrato de M&A, porque música clássica auxiliava na concentração. Mas o máximo que queria ouvir era Rolling Stones. Durante o almoço, recomendaram que pedisse o polvo. Mas eu queria mesmo era um belo mexidão. Me disseram para ver um filme do Godard. Mas meu desejo mesmo era ver um J. J. Abrams. Por fim, falaram que eu deveria ler Dostoievski. Aí concordei, afinal, a vida é muito curta para desperdiçá-la com literatura ruim. Mas hoje não, hoje eu não leria nada. Aliás, cinema, literatura e whisky tem muita […]