Drops – Ardbeg Dark Cove

Ontem li uma reportagem sobre fobias. Há umas que eu nem sabia que existiam. Por exemplo, a mirmecofobia, que é o medo de formigas. Ou uma que muita gente tem e nem sabe, a fronemofobia, ou medo de pensar. Há algumas bem específicas, como a Anatidaefobia, definida como o pavor de ser observado por patos, e a Estruminofobia, que é o medo de morrer defecando. Há, porém, outras bem comuns. Eu por exemplo tenho uma certa fobia social, que é auto explicativa. Duas que eu definitivamente não sofro, no entanto, são a Dipsofobia e a Metifobia – respectivamente, o medo de beber e o de álcool. Uma das mais comuns é a Nictofobia, ou medo do escuro. Ele é muito comum em crianças, mas algumas vezes se estende para a vida adulta. Porém, mesmo os mais tementes da escuridão – se não sofrerem da dipsofobia e metiofobia, claro – ficarão admirados com o brilhantismo da última edição limitada da Ardbeg, o Dark Cove. O Dark Cove é um tributo da Ardbeg aos alambiques ilegais e ao contrabando de whisky do século XIX, que ocorriam na escuridão da noite, na costa próxima à destilaria. Há inclusive uma animação romanceada, com cenas […]

Drops – Ardbeg Corryvreckan – O Cão Engarrafado

Esta não é uma prova. Nem um drops, para ser sincero. É um relato. É que meu primeiro encontro com o Ardbeg Corryvreckan não foi meu. Pois é. Eu estava lá apenas de figurante. Um coadjuvante em uma curiosa cena que havia pouquíssimas vezes tido o prazer de presenciar. Na verdade, a protagonista foi a querida Cã, durante um jantar de nossa viagem à Escócia há alguns anos. Estávamos há algumas quadras do hotel em um restaurante que tínhamos – por muita sorte – conseguido uma mesa. Um daqueles lugares concorridos, que você precisa usar a lanterna do celular para ler o cardápio, e que serve pequenas porções de coisas com ruibarbo e espuma. Mas estávamos animados e com fome. E eu ansioso para provar algum whisky que não conhecia. Afinal, estava na Escócia. Havia uma considerável carta de single malts. Decidi que escolheria algo ao mesmo tempo familiar e estranho. Uma destilaria conhecida por mim, mas uma expressão diferente. Fui pela graduação alcoolica. O Ardbeg Corryvreckan, com 57,1%. Quando a taça chegou, mesmo antes de experimentar, notei o olhar interessado da Cã. Que cheiro bom, o que é? É um Ardbeg forte. Deixa eu provar – pausa, gole – nossa, você precisa […]

Drops – Glenmorangie Dornoch

Um whisky com senso de responsabilidade. Este é o Glenmorangie Dornoch, edição limitada da destilaria Glenmorangie, localizada nas Highlands escocesas. É que o Dornoch foi criado em homenagem à Dornoch Firth, um estuário próximo à Glenmorangie. Para levantar fundos e conscientizar o público sobre a importância daquela pitoresca paisagem, a Glenmorangie realizou uma parceria com a Marine Conservatory Society (Sociedade de Conservação Marinha). Parte da receita recebida com a venda da garrafa é revertida à instituição. O Dornoch é um single malt sem idade definida. Para atingir seu perfil de sabor, parte do destilado clássico da Glenmorangie é maturado em barricas de carvalho americano que antes contiveram bourbon whisky, enquanto parte de um destilado apenas levemente turfado descansa em barricas de carvalho europeu de ex jerez amontillado, uma variedade mais seca de jerez, o famoso vinho fortificado espanhol. Atualmente, a Glenmorangie pertence à multinacional Louis Vuitton Moet Hennessy – sim, a mesma responsável pelas bolsas de grife, champagnes e conhaque – assim como sua irmã Ardbeg. O responsável pela criação dos whiskies da destilaria é Dr. Bill Lumsden, um desajustado cavalheiro formado em bioquímica. Este ano, inclusive, Bill recebeu o prêmio de Master Distiller do ano pela International Whisky Competition. Ficou […]

De tudo que é inato – Glenmorangie The Original

Hoje vou começar com uma expressão em latim. Tabula Rasa. Tabula Rasa é um conceito epistemológico, que postula que os seres humanos nascem com o conteúdo de sua mente completamente em branco. Este conteúdo, aos poucos, vai se acumulando graças à percepção e empirismo. A tabula rasa é uma das bases da filosofia de John Locke, e se opõe à teoria do Inatismo que prega que alguns conhecimentos estão presentes desde o nascimento. Simplificando. Uma teoria diz que nascemos como um papel em branco – o que, curiosamente, é a tradução de tabula rasa. Já a outra, determina que saímos do ventre sabendo uma coisa ou duas. Como, sei lá, reconhecer situações perigosas. Ou mamar, gostar de comida gorda e fazer cocô. O que faz sentido, porque eu não me lembro de ninguém me ensinando essas coisas. E se eu lembrasse, provavelmente teria vergonha de meu professor. Como pai de uma criança de dois anos e meio, não sei bem no que acreditar. Porque ninguém ensinou minha filha o que é belo ou feio, bom ou mau, ou mesmo a preferir macarrão a salada. Por outro lado, ninguém com um mínimo de conhecimento prévio faria coisas como colocar a chupeta […]

Sobre Excessos – Ardbeg Ten

Existe uma tênue linha entre a insanidade e a genialidade. Um dos maiores exemplos disso foi Donatien Alphonese François, mais conhecido como o Marquês de Sade. Donatien nasceu no século dezesseis, quando normalmente as pessoas – especialmente os aristocratas – eram muito mais do que uma coisa só. Além de nobre, o Marques de Sade era um político revolucionário, escritor e filósofo. Enfim, um cara versátil. Tipo uma modelo-atriz-cantora-e-apresentadora dos dias de hoje. Mas Donatien também era um libertino sexual. Um homem com sérios problemas de respeito com o sexo feminino – e muitas vezes, com o masculino também – e com os limites do que seria uma prática sexual saudável. E saudável, aqui, é para ser interpretado num sentido bem amplo. O cara era tão doente, tão doente, que criaram uma palavra para ele: sadismo. A combinação de suas preferências sexuais com opiniões políticas extremas renderam ao marquês diversos encarceramentos, somando vinte e três anos de prisão. No tempo livre entre revoluções políticas, escândalos sociais e práticas sexuais bizarras, Donatien escrevia. E bem. Uma das citações que mais gosto do marquês é uma provocação a Sêneca: “tudo é bom quando é excessivo”. Mas vamos admitir aqui que nem tudo […]

Glenmorangie Quinta Ruban

Às vezes fico pensando sobre invenções e descobertas improváveis. Uma das que mais me fascina é o sabonete. Em algum lugar da história, um fenício achou que seria uma ideia razoável ferver cinzas de madeira com banha de cabra. Sério – o cara ferveu banha de um caprino e resolveu que aquilo seria um produto apropriado para limpar o chão da casa dele. Ou pior ainda, o próprio corpo. Ele era absolutamente desajustado. E genial. Tudo bem, o fogo foi uma descoberta incrível. O primeiro hominídeo que resolveu bater duas pedras, ou esfregar um graveto no outro era um cara iluminado. Ou estava terrivelmente entediado, porque não vejo nenhuma boa razão para passar horas batendo uma pedra na outra. Mas convenhamos, o fogo mal se compara à bizarra ideia do sabonete. Outro aspecto destas descobertas que me intriga, principalmente no ramo “gastronômico”, por assim dizer, é a experimentação. Como saber se determinado alimento era gostoso ou não era? Ou pior, se seria venenoso? Você já alguma vez pensou na quantidade de gente que morreu tentando, sei lá, comer uma mamona ou uma perereca?  A verdade é que essa questão da experimentação é uma das características que mais nos define como […]