Ontem li uma reportagem sobre fobias. Há umas que eu nem sabia que existiam. Por exemplo, a mirmecofobia, que é o medo de formigas. Ou uma que muita gente tem e nem sabe, a fronemofobia, ou medo de pensar. Há algumas bem específicas, como a Anatidaefobia, definida como o pavor de ser observado por patos, e a Estruminofobia, que é o medo de morrer defecando. Há, porém, outras bem comuns. Eu por exemplo tenho uma certa fobia social, que é auto explicativa. Duas que eu definitivamente não sofro, no entanto, são a Dipsofobia e a Metifobia – respectivamente, o medo de beber e o de álcool.
Uma das mais comuns é a Nictofobia, ou medo do escuro. Ele é muito comum em crianças, mas algumas vezes se estende para a vida adulta. Porém, mesmo os mais tementes da escuridão – se não sofrerem da dipsofobia e metiofobia, claro – ficarão admirados com o brilhantismo da última edição limitada da Ardbeg, o Dark Cove.
O Dark Cove é um tributo da Ardbeg aos alambiques ilegais e ao contrabando de whisky do século XIX, que ocorriam na escuridão da noite, na costa próxima à destilaria. Há inclusive uma animação romanceada, com cenas ao estilo de Sin City, que contam o passado obscuro da melhor bebida do mundo. Soma-se a isso uma afirmação feita pela Ardbeg que gerou bastante polêmica. Segundo eles, o Dark Cove seria o “mais escuro Ardbeg até então”.
O Dark Cove faz parte dos conhecidos lançamentos anuais limitados da Ardbeg. São whiskies criados ao redor de certo tema – um storytelling etílico – escolhido pela destilaria. Em 2014, por exemplo, o tema foi a Copa do Mundo no Brasil. Naquele ano, a destilaria lançou o Auriverdes, que, na cabeça do pessoal de marketing da Ardbeg, era o nome de guerra do time de futebol brasileiro (Auri – ouro e verdes – verde). Algo tão corretamente aportuguesado quanto o queridíssimo Nespresso Dulsão do Brazil.
Para o ano de 2016, no entanto, a Ardbeg levou o tema de escuro a sério. A sério até demais. Porque quase nenhum detalhe sobre a concepção do Dark Cove foi revelado. Tudo que se sabe é que ele foi maturado em uma combinação de barricas de carvalho americano de ex-bourbon e em “dark sherry casks”. O que, ambiguamente, poderia significar “barricas escuras de jerez” ou “barricas de jerez escuro”. Se for a primeira opção, a cor justifica-se por barricas altamente torradas. Este Cão, porém, crê na segunda alternativa. As barricas utilizadas pela Ardbeg para maturar seu Dark Cove provavelmente contiveram jerez Pedro Ximénez, bastante escuro e adocicado (saiba mais sobre jerez aqui). A proporção de barricas ou o tempo de maturação, porém, não são revelados.
Produzir whiskies defumados com maturação em barricas de jerez não é um trabalho fácil. Corre-se o risco de criar algo desequilibrado, muito voltado para a fumaça. Ou, pior, esconder o aroma e sabor enfumaçado, exagerando na influência da madeira, criando algo sem graça. O Dark Cove, porém, é bastante equilibrado. É um whisky claramente defumado, com sabor de carvão e medicinal, balanceado por um certo dulçor de frutas, proporcionado pelas barricas de vinho jerez. Nada se sobressai e o conjunto funciona bem.
O Dark Cove, como você deve ter presumido, não está disponível em nosso país. Porém, nas lojas internacionais seu preço é de aproximadamente 90 libras. E se esbarrar com uma garrafa por aí e decidir comprá-la, esconda-a muito bem. Esconda-a na escuridão do fundo de um armário, ou em algum canto escuro e protegido. Porque é bem provável que ele nem seja o Ardbeg mais escuro de todos. Mas que é excelente, ah, isso ele é.
ARDBEG DARK COVE
Tipo: Single sem idade declarada (NAS)
Destilaria: Ardbeg
Região: Islay
ABV: 46,5% (há uma versão exclusiva do Ardbeg Committee com 55%)
Notas de prova:
Aroma: Predominantemente enfumaçado, com um certo aroma de gengibre.
Sabor: Mais defumado que medicinal. Gengibre, algo próximo a ameixas secas, frutas vermelhas. Final longo e progressivamente mais enfumaçado e menos frutado. Equilíbrio interessantíssimo entre o defumado e o frutado.
Disponibilidade: apenas lojas internacionais.
Como vai mestre?
Quisera eu que a Ardbeg passasse mais pelo Brasil.
Se a versão de entrada já é excelente, imagino esta.
Grande abraço!
Interessante. Gosto muito dos Ardbeg em geral. Pena não ter o Dark Cove no Brasil.
Ah, acabei de chegar de viagem e trouxe um Craigellachie 13 do duty free. Fiquei curioso com seu review dele e preferi algo diferente pra experimentar.
Ah, ansioso para saber o que achou!