Johnnie Walker Black Label Sherry Finish – Cover

Abro meu Spotify. Toda semana, uma seleção de músicas diferentes que o aplicativo acha que vou gostar. Ele acerta pouco, mas já fiz grandes descobertas assim. Não é lá muito romântico. É muito menos romântico, por exemplo, do que era há umas duas décadas atrás, quando comprava na loja certo CD, e ouvia insistentemente, até gostar de todas as músicas. Alguns exigiam bastante esforço. Outros, bem pouco. Como um tal MTV Unplugged do Nirvana, circa 1993. Aliás, essa é uma história engraçada. Quando comprei o CD, minhas preferidas eram Lake of Fire e The Man Who Sold The World. Devido à falta de informação e minha ignorância aos dez e poucos anos, nem imaginava que eram dois covers: Meat Puppets e Bowie. Só fui descobrir uns cinco anos depois, ao ouvir a original. Covers bons são assim. Eles não apenas reformam algo familiar. Mas reinventam o material original, transformando completamente o som, mas mantendo sua alma intacta. A ponto de às vezes você nem saber que é um cover. Há covers péssimos também. I can Get no Satisfaction da Britney, Smells Like Teen Spirit da Miley e Faith do Limp Bizkit, todos doem em lugares bem especiais. Sabe o que […]

The Macallan Edition No. 3 – Aroma Exclusivo

Dama-da-noite tem cheiro de dente quebrado. Não para todo mundo, mas para mim. Sempre que sinto o aroma da flor, passo discretamente a língua sobre minha arcada, enquanto sinto um descompasso de alívio no coração. Ufa, é só a flor, nada caiu dessa vez. É que aos oito anos de idade, quebrei um dente. Corria no jardim da minha avó, ao entardecer, ao lado de alguns vasos de dama da noite. Lembro-me vividamente da luz crepuscular, do aroma de jasmim, e do desequilíbrio sucedido pelo apagão e o gosto de ferrugem na boca. Até hoje, se sinto o aroma de dama-da-noite, sou remetido, involuntária e automaticamente àquela lembrança. A memória olfativa é algo poderoso. Essa clareza de reminiscência tem um nome. Fenômeno Proustiano. É uma homenagem ao escritor francês Marcel Proust, que descreveu em seu “Em Busca do Tempo Perdido” como o aroma de biscoitos molhados no chá remontava a casa de sua tia. A ciência, inclusive, já se debruçou sobre este fenômeno. De acordo com pesquisadores ingleses, a vividez de lembranças trazidas por odores ocorre por conta de nossa conformação cerebral. A região do cérebro que processa odores está situada no interior do sistema límbico, ligado às emoções. E […]

Da Civilização – The Dalmore 12 anos

A civilização é algo precioso. Com ela, pudemos contar com um sem fim de coisas que nossos ancestrais nem imaginavam. Pudemos desfrutar de facilidades que hoje, tomamos como garantidas. Água encanada, esgoto, luz. Delivery de pizza, supermercados e centenas de milhares de barbearias, paleterias mexicanas e hamburguerias. Comida sem glúten e sem lactose mesmo pra quem não precisa, foodtruck de kombucha e todo tipo de solução para todo tipo de problema que não teríamos, se não vivêssemos em sociedade. Mas acho que a maior vantagem de todas é mesmo a tranquilidade. Não a tranquilidade da rotina, porque se existe alguma coisa que não é tranquila nos dias de hoje, é a rotina. A rotina pra quase todo mundo é bem corrida. Tanto que às vezes nem dá tempo de fazer xixi entre uma coisa ou outra, por exemplo. Mas a tranquilidade de saber que você tem maiores chances de terminar o dia vivo. Eu sei que mesmo hoje pode acontecer todo tipo de desfortúnio desagradável que desemboca na morte. Mas pensa bem. A chance de você ser devorado por um urso enquanto dorme é bem pequena. Ou de pisar em uma taturana tão venenosa que liquefará todos seus órgãos internos […]

Presentes para um amante de whisky (e que não são whisky)

Estamos quase no natal. E eu, neste ano, pela primeira vez encarei uma situação delicada que imaginei que levaria muito mais tempo para acontecer. É que a Cãzinha, no alto de seus quase três anos de idade, fez aquela trágica indagação. Papai, o que você vai me dar de natal? Tentei agir naturalmente. Bom, não sei, que você quer que papai te dê? Papai, quero um pato. Um pato, sorri com um olhar meio surpreso, em parte por ver que a Cãzinha já não acreditava em Papai Noel, em parte pelo pedido. Um pato, um pato, papai – gritava ela enquanto pulava de excitação. Tudo bem filhota, pode deixar, papai vai te dar um pato sim, que cor você quer? Ele é branco, papai. Estranhando o pronome pessoal, liguei para a Cã e reportei o que havia se passado. E ela me explicou que o tal pato era personagem de um desenho infantil, mas que não havia bonequinhos. E em seu econômico brilhantismo costumeiro, concluiu – dá qualquer pato de borracha, ué. E foi justamente o que fiz. Fui a uma loja de brinquedos e encontrei lá, jogado em um canto, um pequeno pato de banheira. Branco. Resolvi que, para […]

Semana Internacional do Jerez (ou O Que é Jerez?)

Qual o ponto em comum entre The Dalmore, a linha 1824 da The Macallan, Whyte and Mackay, a maioria dos Glenfarclas, o Glenmorangie Lasanta e uma região da Espanha conhecida como Andalucia?É que todos estes whiskies passam parte de sua maturação – ou toda – em barricas que antes continham vinho jerez. E este vinho é, justamente, produzido em Andalucia. Aliás, talvez você já tenha se perguntado o que afinal é vinho jerez, ao ler este blog. Porque eu falo tanto sobre barricas de ex-jerez e nunca parei para explicar o que é, realmente, essa bebida. Bem, talvez essa seja a oportunidade perfeita para isso. É que começou essa semana o Sherry Wine Week, por aqui conhecida também como a Semana Internacional do Jerez. O objetivo é mostrar – em eventos públicos em bares, restaurantes, hotéis  – a versatilidade deste vinho, tanto para coquetelaria quanto na harmonização com pratos. E o Cão teve a sorte de ser convidado, justamente, para um workshop de coquetelaria com o ilustre bartender Laércio Zulu, que apresentou drinks que poderiam ser feitos com o vinho fortificado. Mais especificamente, o jerez fino Tio Pepe, produzido pela Gonzalez Byass – a mesma que fornece barricas para a destilaria The Dalmore. A […]

Drops – The Glenturret Sherry

Gosta do The Famous Grouse? Se respondeu sim, então conheça o Glenturret Sherry, edição especial da destilaria que é também o lar da famosa marca do tetraz (isso é o nome do pássaro do rótulo. Não. Aquilo não é um peru.) A Glenturret, localizada nas  Highlands Escocesas, fornece maltes para quase todas as expressões do Famous Grouse. Os outros single malts mais usados são The Macallan e Highland Park. Como consequência, apenas uma pequena parte da produção da Glenturret é engarrafada como single malt. A destilaria, além disto, é alegadamente – na verdade, de forma autoproclamada – a destilaria mais antiga ainda em funcionamento da Escócia. O Glenturret Sherry é uma edição especial limitada, sem idade definida. Ela  foi maturada em barricas tanto de carvalho americano quanto de carvalho europeu que antes continham vinho jerez. Isso proporciona  sabores de frutas e especiarias, com um leve sabor adocicado e de baunilha. Se estiver planejando uma viagem para a Escócia, não deixe de visitar a Glenturret. Você terá a oportunidade de fazer um tour pela destilaria, além de conhecer detalhadamente todo o processo de produção de um dos blended whiskies mais famosos do mundo (ele tem até famoso no nome), o Famous Grouse.