Estamos quase no natal. E eu, neste ano, pela primeira vez encarei uma situação delicada que imaginei que levaria muito mais tempo para acontecer. É que a Cãzinha, no alto de seus quase três anos de idade, fez aquela trágica indagação. Papai, o que você vai me dar de natal? Tentei agir naturalmente. Bom, não sei, que você quer que papai te dê? Papai, quero um pato.
Um pato, sorri com um olhar meio surpreso, em parte por ver que a Cãzinha já não acreditava em Papai Noel, em parte pelo pedido. Um pato, um pato, papai – gritava ela enquanto pulava de excitação. Tudo bem filhota, pode deixar, papai vai te dar um pato sim, que cor você quer? Ele é branco, papai.
Estranhando o pronome pessoal, liguei para a Cã e reportei o que havia se passado. E ela me explicou que o tal pato era personagem de um desenho infantil, mas que não havia bonequinhos. E em seu econômico brilhantismo costumeiro, concluiu – dá qualquer pato de borracha, ué. E foi justamente o que fiz. Fui a uma loja de brinquedos e encontrei lá, jogado em um canto, um pequeno pato de banheira. Branco.
Resolvi que, para não gerar muita expectativa, logo daria o presente. Mesmo antes da data. Assim, ao cabo de uma semana da conversa – para ver se ela tinha mudado de ideia – perguntei novamente. Filhota, o que você quer de natal mesmo? Papai, o pato. E eu, então, simplesmente lhe entreguei o pacote com um sorriso no rosto.
O que se seguiu foi tragicômico. A Cãzinha, enquanto abria o presente, derretia. Seu pequeno olhar jocoso tornava-se cada vez mais rarefeito, até que, ao contemplar o bichinho de borracha, esvaiu-se de esperança. Aquele não era o pato.
E aí, aí eu percebi que, em muitos dos casos, não basta dar apenas um pato qualquer. Temos que acertar o pato. Sem desculpas, sem atalhos. Principalmente para aqueles que nos são mais queridos. E o mesmo se aplica a whiskies. O problema, no entanto, é acertar. Porque gosto é pessoal, e por mais que conheçamos uma pessoa, corremos o risco de errar. Aliás, aí é bem pior, porque a intimidade cria essa obrigação meio inconveniente de acertar.
Então, aí vai uma lista de presentes para aqueles que amam whisky, mas não são whisky. São presentes que independentemente do gosto pessoal do presenteado, farão um belo sucesso, e trarão aquele tão aguardado sorriso sincero nos lábios de seus caros.
GLENCAIRN GLASS
O Glencairn é o copo oficial para degustação de whiskies, criado pela empresa Glencairn Crystal, do Reino Unido. Ele foi criado especialmente para potencializar as características da bebida. A borda estreita reúne os aromas, e o corpo bojudo auxilia na evaporação e contato com o ar – o que pode ser muito benéfico para alguns whiskies.
Para um amante sério da melhor bebida do mundo, o Glencairn Glass é o presente perfeito. Pode ser comprado em sua importadora oficial, a Single Malt Brasil.
LIVRO – O ATLAS MUNDIAL DO WHISKY – DAVE BROOM
Este é provavelmente o melhor livro em português sobre a melhor bebida do mundo. Dave Broom é um dos mais famosos – e confiáveis, note que isso é importante aqui – autores especializados em whisky. Ele possui mais de vinte e cinco anos de experiência com destilados, e trabalha como escritor e jornalista freelancer.
Seu atlas mundial do whisky conta com detalhes sobre mais de cento e cinquenta destilarias e trezentas e cinquenta notas de degustação de whiskies distintos. O livro também indica whiskies a serem experimentados caso você já conheça algum e suas páginas. É uma leitura leve e agradável, e um convite para um novo gole. Como um bom whisky. Pode ser comprado aqui.
TAÇA ISO
O Glencairn tem um problema. Ele é difícil de encontrar. Apesar de ser importado para cá, é concorridíssimo. Um substituto (quase) tão bom é a taça ISO. A taça ISO segue o mesmo princípio do Glencairn, e funciona também para degustação de outros destilados, como gim, conhaque, vodka, licores e também para vinho.
ISO significa “International Standards Organization”. As taças ISO são reconhecidas internacionalmente como padrão para degustação de bebidas alcoólicas. As ISO variam muito de preço e acabamento. Você facilmente poderá encontrar uma que caberá no orçamento.
LIVRO THE MALT WHISKY YEARBOOK
Se você sabe ler inglês e quer apenas um livro sobre whisky mas não sabe qual comprar, aqui está a resposta para o seu dilema. Dos presentes literários, este é um dos melhores. O Malt Whisky Yearbook é uma espécie de compêndio de todas as destilarias escocesas. Ele conta a história, apresenta curiosidades e faz a prova de algumas das expressões mais importantes de cada destilaria. Além disso, há matérias sobre os assuntos mais atuais do mundo do whisky, produzidas por alguns dos mais importantes especialistas no assunto.
O Malt Whisky Yearbook é uma publicação anual, e somente está disponível em inglês. Se isso não for um problema, pode ter certeza que ele será a literatura preferida de seu presenteado por um bom tempo.
CERVEJA HARVIESTOUN OLA DUBH
Se seu presenteado for como este Cão, que além de whisky, é apaixonado por uma boa cerveja, esta é a lembrança perfeita. A Ola Dubh, da cervejaria escocesa Harvieston, é uma cerveja escura, de alta graduação alcoólica e que é finalizada em barricas que antes continham o single malt Highland Park.
A Ola Dubh é importada pela BeerManiacs – responsáveis também pelo portfólio da Brooklyn Brewery à venda em nosso país – e pode ser encontrada em empórios especializados de cerveja ou online. O preço é um pouco salgado, e ela não é lá a coisa mais fácil de se encontrar. Mas vale cada centavo e minuto. Saiba mais sobre as Ola Dubh aqui.
JEREZ TIO PEPE
Talvez seu presenteado goste de vinhos também. Neste caso, um Jerez fino Tio Pepe, da vinícola espanhola Gonzalez Byass é um presente bem interessante. Por dois motivos.
Primeiro porque a indústria do whisky depende imensamente da indústria do vinho Jerez. É que estes fornecem barricas previamente utilizadas, para aqueles. Então, há muitos pontos de tangencia entre estes vinhos e certos whiskies.
Em segundo, porque é um vinho interessante de se tomar puro, mas ótimo também para coquetelaria, como mostrado por aqui.
WHISKY STONES
Aqui está uma invenção polêmica. Porque a ideia das whisky stones não é realmente gelar o whisky sem causar diluição. É apenas deixa-lo em uma temperatura mais amena, diremos, como a temperatura ambiente da Escócia.
O princípio é simples. São pequenas pedras sabão, cortadas em cubo, que devem ser resfriadas no freezer de casa antes de cada uso. Seu tamanho foi pensado para que, quando quase totalmente submersas, a quantidade de whisky no copo equivalha a, mais ou menos, uma dose – claro, isso varia de copo para copo.
O problema é que as whisky stones ficam no meio do caminho entre algo muito legal e algo inútil. É que elas não gelam o whisky tanto assim, e não contribuem também para uma degustação analítica da bebida.
Mas talvez a ideia seja justamente esta. Usá-las quando queremos beber despreocupadamente algum whisky, mas ficamos com dó de colocar gelo. Para isso, são um ótimo presente!
As whisky stones não estão à venda no Brasil, mas podem ser encontradas facilmente em sites como a Amazon.com.
Cara, achei os 04 primeiros presentes geniais, porém vou ter que me presentear, já que sou a única pessoa por perto que gosta de whisky haha.
Já testei alguns copos ao fazer degustação e me impressionei muito com a diferença de um para o outro, inclusive o primeiro que usei foi totalmente errado e comprometeu o processo.
Grande abraço!
hehe, bom, realmente são os melhores! O copo faz uma grande diferença. Existe muita engambelação, mas esses valem a pena.
A cerveja é sensacional!
Olá Mauricio, tudo bem? Aqui é o Marco que encontrou com você hoje no caixa do EAP. Antes de mais nada, muito obrigado pela sua atenção. Mais uma vez o seu texto está impecável e mesmo quando não fala exatamente sobre whisky, fica uma leitura muito agradável e divertida. Parabéns pelo blog.
Hoje, quando me perguntou se eu gostava de whisky turfado, citei que havia experimentado o Double Black e não tinha curtido muito, mas me esqueci que experimentei (na verdade, comprei uma garrafa no Free Shop há uns meses) o The Black Grouse e gostei bastante, principalmente para acompanhar um charuto. Sendo assim, darei uma nova chance a aos defumados e em breve tentarei provar um Ardbeg ou um Laphroaig.
Enquanto isso, vou me divertindo com as minhas aquisições de final de ano: The Glenlivet Nadurra Oloroso e o Glenmorangie 10 anos.
Até mais e um grande abraço.
Prazer em conhece-lo pessoalmente.
Fala Marco! Tudo bem?
Aliás, falando naquele encontro, depois comprei duas Ola Dubh Sherry. E adorei. Não sei bem se elas são diferentes da Ola Dubh normal ou não (talvez não, não encontrei nenhuma da antiga para comparar), mas é excepcional.
Nadurra Oloroso é muito muito bom. Alta octanagem sempre vai bem com o sabor dos sherry casks. Se gostar muito dele, depois vá atrás dos (difíceis de encontrar) Glenfarclas 105 e Aberlour A’Bunadh. São variações sobre um mesmo tema (um tema fantástico… hehe).
O copo Glencairn muito difícil de encontrar, os sites que tem, continua sem estoque.
Vitor, aguarde que em breve haverá reposição! 🙂
Olá Mauricio, tudo bem?
Sou o Marco, que encontrou com você no EAP nessa semana e conversamos um pouco sobre whisky, claro. Antes de mais nada, muito obrigado pela atenção.
Para variar, o seu texto, mesmo quando não é propriamente sobre whisky, está sensacional. Parabéns pelo blog.
Quando disse para você que não gostava muito de whisky turfado, havia me esquecido que gosto muito Black Grouse, portanto um dia ainda vou experimentar um Ardbeg ou um Laphroaig, mas por enquanto vou experimentar minhas aquisições desse final de ano: Glenlivet Nadurra Oloroso e Glenmorangie 10 anos.
Um grande abraço e um feliz Nata e excelente 2017 para todos nós.