Para onde foi todo o whisky japonês

Quando era criança, possuía um livro sobre animais extintos. Eram mais de vinte páginas, que ilustravam bichos como o cão da tasmânia, o dodo e o rinoceronte do oeste africano. Varridas de nosso mundo pela ação humana, mudança climática ou qualquer outra hecatombe. Animais outrora majestosos ou, no mínimo, curiosos, cujas espécies tornaram-se parte do passado. Ficava verdadeiramente triste em saber que jamais poderia ver um quagga ao vivo, por exemplo. Por outro lado, havia alguns que não exerciam tanto fascínio. Tipo a Aranha Teia de Funil Cascada (Hadronyche pulvinator). Uma das aranhas mais venenosas do mundo, responsável por mais de duas dúzias de mortes registradas. Nativa da Tasmânia, este aracnídeo sórdido – isso é um pleonasmo – foi vítima da urbanização na pequena ilha, e acabou declarada extinta em 1995. Se você me perguntar, vou dizer com sinceridade que não me pego lamentando a inexistência da Aranha Teia de Funil Cascada. E nem me venha com o papo de equilíbrio ecológico, porque a Tasmânia tem uma boa quantidade de bichos desagradáveis para tomar seu lugar. Mas não foram apenas animais – sejam eles vis ou não – que desapareceram. O whisky japonês também. E este fará realmente falta. Mesmo no […]

Das Flores – Suntory Hibiki 12 anos

Se você é um fã de Gordon Gekko, o inescrupuloso investidor fictício de Wall Street, talvez saiba o que foi a Febre das Tulipas. Ou talvez não, porque, enfim, existem coisas melhores para se fazer do que decorar cada trecho de um filme. Então, por via das dúvidas, aí vai uma breve explicação. A Febre das Tulipas foi um período durante o século dezessete em que a elite holandesa tornou-se absolutamente obcecada por uma simples flor. A história toda começou quando um tal Suleiman, o Magnífico, encontrou tulipas em uma de suas viagens à Ásia. Embasbacado – não sei bem por o que – resolveu que enviaria um exemplar a um botânico, em Leiden. O resto da história é pura insanidade. Ou talvez haja alguma reação neurológica desconhecida pela ciência entre a mente dos holandeses e flores sem graça. Porque os abastados da Holanda ficaram tão mesmerizados com aquela espécie que, em pouquíssimo tempo, seu preço disparou. O pico da obsessão ocorreu entre dezembro e fevereiro de 1636. O preço de uma libra de tulipas passou de 125 florins para 1.500 – isso mesmo, mil e quinhentos, não tem um zero a mais aí. Uma inflação de mil e cem […]

Goodbye Mr. Hakushu – Hakushu 12 anos

Eu não sou bom com despedidas. Não que eu chore, fique sensível, comece a ouvir Coldplay e a devorar livros de autoajuda e tudo mais. Mas, de alguma forma, aquele abandono me atinge. Atinge quase como um vício. Uma vontade que não pode ser mais aplacada. Algo que estava ao meu alcance, mas que, por alguma razão, desapareceu. Talvez como aquela quase proverbial coceira no membro arrancado. Sinto isso com pessoas. Mas não só com elas. Para mim, ocorre também com músicas, comidas, bebidas. Um exemplo disso é um prato, que comia toda vez que ia a um restaurante próximo de minha casa. Era um restaurante bem caro e mais ou menos metido a besta, o que me irritava um pouco. Me irritava até aquele prato chegar. Porque depois, restava apenas aquele shiatsu de língua. E o engraçado é que o prato não tinha nada de muito difícil. Era uma espécie de talharim escuro, com shimeji, que levava um molho de parmesão batido. A consistência do molho era próxima de uma espuma, um chantilly, mas com bastante sabor de queijo. Essa era a parte genial dele. O molho. O molho era tão genial, mas tão genial, que eu abria mão […]

Inu Engarrafado – Suntory Hibiki 17 anos

Vou confessar a vocês algo difícil. Um desejo profundo, que tenho certeza que todo mundo tem, mas que quase ninguém admite ter. Talvez vocês me condenem depois de saber, ou julguem que seria melhor se eu visitasse um psicanalista. Mas não me importo. Preciso tirar isso do meu peito. Preparem-se, porque aí vai. Às vezes eu queria ser outra pessoa. Mas não qualquer outra pessoa. E não, eu não queria ser um cachorro, apesar do nome do blog. E nem um sheik árabe bilionário, tampouco um astronauta. Quem eu realmente, mas realmente queria ser, se pudesse escolher entre todas as pessoas do mundo inteiro, seria o Bill Murray. E aí você vai argumentar comigo que isso é realmente insano. Afinal, porque alguém quereria ser o Bill Murray, se você pudesse ser, sei lá, o Neymar? Ou o Donald Trump? E aí eu vou responder que é porque nem o Neymar, nem o Donald Trum possuem licença para serem completamente malucos – ainda que ultimamente o Donald Trump tenha tentado bastante – e todo mundo achar normal. Mas o Bill Murray tem. E ele faz isso sem precisar mexer nem um músculo da face. Quase como uma vaca hindu. Para você […]

Inu Engarrafado – Suntory Kakubin Yellow Label

Existem meses do ano que são mais difíceis que outros. Para mim, o pior, de longe, é junho. Há uma conjunção de eventos em junho que – em detrimento de minha saúde financeira – ocorrem todo ano. Em junho é o aniversário da minha melhor parte, a querida “Cã” Engarrafada. E do pai dela. E da mãe dela. E do meu pai. E como se tudo isso não bastasse, é também o mês do dia dos namorados. E apesar de ser casado já há alguns anos, não arrisco olvidar da data. Por conta disso, junho é um mês em que o orçamento alcoólico deste Cão fica seriamente prejudicado. Mas isso não é motivo para pânico. Desespero não leva a lugar nenhum. O ser humano – e o canino – deve crescer na presença da adversidade. Adaptar-se. É como dizem por aí, se a vida te dá limões, faça um “whisky sour”. Então se prepare. Minha insolvência será sua salvação. Este é o primeiro de uma série de três posts de utilidade pública. Falarei sobre três whiskies abaixo de R$ 100,00 (cem reais) que valem a pena. O primeiro deles não é um whisky óbvio. E está na borderline de nosso […]