Drink do Cão – Bobby Burns

Se você está procurando um pretexto para beber, chegou ao lugar certo. E na data perfeita. É que hoje é uma das noites mais especiais para os amantes de whisky. A Burn’s Night, criada em homenagem ao mais famoso poeta de toda história escocesa – Robert Burns. Se quiser saber mais sobre a comemoração, o bardo e sua paixão por embutidos de tripas e estômago de bode, leia nosso texto do ano passado sobre a Burn’s Night aqui. Senão, continue aqui comigo. Robert Burns nasceu em 1759 em Ayshire, e foi um dos precursores do movimento romântico. Ele escreveu sobre temas de grande intensidade – e atuais até hoje – como liberdade, identidade nacional, iniquidade e igualdade de gênero. Mas, além disso, Burns também tratou de assuntos corriqueiros. Bem corriqueiros. Mesmo. Um exemplo é seu poema “To a Mouse” (Para um Rato) que ele teria escrito após se sentir mortalmente arrependido de ter acidentalmente pisado em uma toca de ratos, durante uma de suas caminhadas. Ou “To a Mountain Daisy” (Para uma Margarida da Montanha), concebido por ele após, em outra feita, esmagar uma flor. De onde podemos concluir que Burns devia passar o dia pensando em poesia, e realmente não prestava […]

Drink do Cão – Remember the Maine

A marinha brasileira já fez uma enorme contribuição para o mundo da coquetelaria. Se, para você, essa frase não faz o menor sentido, não se preocupe. Ela não faz mesmo. Mas se você considerar uma sequência de eventos de causa e consequência – às vezes, consequências indiretas – a frase se torna curiosamente verdadeira. E é essa a história que vou contar hoje. De trás pra frente, para ter mais graça. Em 1895 foi comissionado o USS Maine, um encouraçado de guerra da marinha americana. Um encouraçado que teria caído no esquecimento, não fosse seu naufrágio poucos anos mais tarde. O USS Maine afundou no porto de Havana, Cuba, em fevereiro de 1898, devido a uma enorme e repentina explosão. E ainda que a razão da explosão nunca tenha sido devidamente esclarecida, os americanos acharam de bom tom culpar a Espanha. Por que? Bem, porque o USS Maine estava no porto de Havana justamente para proteger os interesses norte-americanos – leia-se, o domínio dos Estados Unidos – durante a revolta cubana conta a Espanha. Esta revolta, mais tarde, culminou na independência da ilha. E, na cabeça da imprensa estadounidense – que contava com nomes bem respeitados hoje em dia, como […]

Drink do Cão – Wood Aged Boulevardier

Quando fiz quatorze anos resolvi que tocaria um instrumento. Minha escolha foi tão improvável quanto infeliz. Escolhi o violoncelo. Até hoje os motivos que me fizeram tomar esta decisão desafiam minha lógica. Porque é difícil demais. Tocar violoncelo foi provavelmente a coisa mais difícil que eu me propus a fazer durante minha vida inteira. Violoncelo exige disciplina, tempo e estudo. E o meu eu recém púbere não atendia nenhum destes prerrequisitos. Eu era indisciplinado, preguiçoso e preferia ocupar meu tempo com todo tipo de futilidade efêmera. Além de que minha coordenação sempre foi comparável àquela de um canhoto bêbado escrevendo com a mão direita. Por essa razão, nunca fui um bom violoncelista. Depois de muitos anos, o máximo que consegui foi, orgulhosamente, executar de uma forma porca o primeiro movimento do concerto de Elgar. Mas minha versão da peça do compositor clássico inglês mais se assemelhava a uma briga entre um serrote e um pterodátilo. Um pterodátilo com olhos de laser. Pablo Casals, no entanto, foi um dos maiores mestres do violoncelo de todos os tempos. Suas execuções, mesmo das peças mais difíceis do repertório erudito eram absolutamente irretocáveis. E apesar de já ter atingido a perfeição há muito tempo, […]

Drink do Cão IV ou Fidedignidade – Smoked Rob Roy

Toda vez que assisto um filme de Hollywood baseado em fatos reais, tenho o mesmo pensamento. Que aquilo aconteceu com gente bem mais feia, e mais ou menos daquele jeito. Geralmente, mais para menos do que para mais. E Rob Roy, estrelado por Liam Neeson e dirigido por Michael Caton-Jones, não é uma exceção. O filme chegou por aqui com o nome de Rob Roy: A Saga de Uma Paixão. Um título bem cretino, que já indicava que a história real de Robert Roy MacGregor e aquela retratada na tela teriam poucos pontos de contato. E tudo bem que é divertido assistir o Liam Neeson matando todo mundo (aliás, só por isso fizeram Busca Implacável 1, 2 e 3, certo?), mas tudo tem limite. Primeiro, Robert Roy era horroroso. Não que o Liam seja um exemplo de beleza masculina, mas seu grau de semelhança com Rob é o mesmo que eu tenho com um nematelminto. Em segundo, o filme simplesmente desliza sobre acontecimentos históricos importantíssimos, como a batalha de Glen Shiel, capitulo essencial na vida do herói escocês. Ao invés disso, o diretor insiste em focar a trama em Robert e sua esposa, Mary, cumprindo com suas obrigações conjugais em um campo […]

Drink do Cão – Boulevardier

Você já tomou Negroni? Negroni é um drink feito, essencialmente, de gim, vermute tinto e Campari. Hoje, acho uma das coisas líquidas mais deliciosas que existe fora do universo do whisky. Mas minha relação com aquele coquetel nem sempre foi assim. A primeira vez que tomei um Negroni tinha pouco mais de dezoito anos. E queria morrer. Achei uma das piores coisas que já tive o desprazer de beber. Incluindo uma vez que acidentalmente tomei um pouco de gasolina tentando fazer um sifão para abastecer meu carro. Sério. Teria preferido fazer qualquer coisa a terminar aquele coquetel. Se, naquele momento, alguém me desse a escolha entre ser atravessado por um cutelo gigante em brasa ou bochechar aquele Negroni, teria preferido o cutelo escaldante. Fácil. Eu devo ser muito teimoso ou absolutamente estúpido, porque aquela experiência horrível não me dissuadiu de experimentar o drink mais uma meia dúzia de vezes. E o mais estranho é que, à medida que tomava, passava a gostar cada vez mais daquele negócio amargo. Até que passei a adorá-lo.     Mais recentemente, comentei com Fernando Lisboa, barman por trás do Bar Cuttelo e dos Coquetéis Treze, que era uma pena que o Negroni não tivesse […]