Toda vez que assisto um filme de Hollywood baseado em fatos reais, tenho o mesmo pensamento. Que aquilo aconteceu com gente bem mais feia, e mais ou menos daquele jeito. Geralmente, mais para menos do que para mais. E Rob Roy, estrelado por Liam Neeson e dirigido por Michael Caton-Jones, não é uma exceção.
O filme chegou por aqui com o nome de Rob Roy: A Saga de Uma Paixão. Um título bem cretino, que já indicava que a história real de Robert Roy MacGregor e aquela retratada na tela teriam poucos pontos de contato. E tudo bem que é divertido assistir o Liam Neeson matando todo mundo (aliás, só por isso fizeram Busca Implacável 1, 2 e 3, certo?), mas tudo tem limite.
Primeiro, Robert Roy era horroroso. Não que o Liam seja um exemplo de beleza masculina, mas seu grau de semelhança com Rob é o mesmo que eu tenho com um nematelminto. Em segundo, o filme simplesmente desliza sobre acontecimentos históricos importantíssimos, como a batalha de Glen Shiel, capitulo essencial na vida do herói escocês. Ao invés disso, o diretor insiste em focar a trama em Robert e sua esposa, Mary, cumprindo com suas obrigações conjugais em um campo florido de urze.
![Separados no nascimento](http://ocaoengarrafado.com.br/wp-content/uploads/2015/09/robroymont1.jpg)
Mas Robert Roy MacGregor não inspirou apenas filmes medíocres. Em 1894, um bartender do hotel Waldorf Astoria em Nova Iorque criou um coquetel em sua homenagem. Na verdade, a homenagem foi indireta. O drink teria sido criado como referência à opereta homônima, composta por Reginald De Koven e Harry Smith, que contaria a historia do herói escocês. Nunca assisti à opereta, mas não me surpreenderia se ela fosse mais fiel à realidade do que o filme. Afinal, até uma adaptação feita por minha filha de um ano e meio usando bonecos de meia seria mais fidedigna.
O coquetel Rob Roy é, basicamente, um Manhattan, substituindo-se o bourbon por whisky escocês. Até aí, algo um tanto óbvio. Mas a genialidade por trás dessa substituição elementar é que, como há variedade de sabores muito maior em whiskies escoceses do que bourbons, pode-se criar versões diferentes do coquetel, trocando-se apenas seu ingrediente central.
Foi isso que fizemos no Caledonia Whisky & Co., nosso bar em São Paulo. Com uma base de Johnnie Walker Double Black e Talisker, criou-se uma versão defumada e salina do coquetel clássico, ainda mantendo a personalidade da mistura.
Assim, desta vez este Cão fugirá do tradicional, e ensinará a versão melhorada – na minha opinião, claro – do famoso coquetel. Peguem seus smartphones e tablets e tomem nota.
SMOKED ROB ROY:
INGREDIENTES:
Para fazer o coquetel você vai precisar de:
- 50ml de algum whisky defumado ( Johnnie Walker Double Black e Talisker, na proporção que quiser – recomendo 40 -10).
- 25 ml de vermute (Martini Riserva Speciale, Carpano).
- Angostura bitters
- Gelo
- taça de martini ou taça coupé (isso é aquela taça que o Leonardo DiCaprio segura e brinda com a câmera na adaptação de Grande Gatsby. É também a taça da foto acima. Suba lá e veja novamente)
- Mixing glass (ou qualquer outro copo grande e largo que você possa usar para misturar os ingredientes)
- Strainer (ou qualquer peneira de cozinha mesmo)
- Laranja Bahia (opcional)
PREPARO:
- Gele a taça. Pode coloca-la no freezer, mas o jeito mais rápido e eficiente é colocar algumas pedras de gelo e água dentro dela, até o momento em que for transferir o coquetel.
- No mixing glass, coloque três pedras de gelo e os dois ingredientes líquidos do coquetel. Vire o vidrinho de angostura e dê umas duas chacoalhadas (dois dashes), de forma que algumas gotas caiam sobre o coquetel. Utilize uma colher para mexer a mistura por uns três ou quatro segundos.
- Transfira o conteúdo do mixing glass para o copo com gelo, utilizando a peneira ou strainer. A ideia é que o líquido passe sem o gelo, para não diluir mais.
- Opcional – você pode dar um toque cítrico adicionando um pedaço de uns três centímetros da casca da laranja bahia. Basta jogá-lo dentro do coquetel.
- Pronto. Quando terminar este, pode tentar com outro whisky ou ingrediente à sua escolha. Há grandes chances de ficar genial. Ou, pelo menos, melhor do que o filme estrelado por Liam Neeson.
Excelente meu caro Maurício.
No momento, encontro-me degustando um Smoked Rob Roy enquanto aprecio, a elegância, de seu texto.
O coquetel foi feito com Laproaigh 10, Carpano clássico e Angustura.