Os 4 whiskies com maior graduação alcoólica a venda no Brasil

Humphrey Bogart, na adaptação de O Falcão Maltês, disse que o problema do mundo é que todos estão algumas doses atrasados. Tive que concordar. Muita coisa melhora com um pouquinho de whisky – compromissos familiares e festa do escritório, por exemplo. É como aquela frase pronta, que circula na internet. “Odeio quando dizem que não preciso de whisky para me divertir. Eu também não preciso também de tênis para correr – mas ajuda um bocado.” Arrisco aqui complementar o sofismo. Se o objetivo for correr o mais rápido possível, alguns tênis são bem melhores que outros. E se a ideia for chegar ao ponto de achar graça até no palhaço do seu chefe que não te dá aumento há três anos, alguns whiskies são bem mais eficientes do que outros. O que vale, aqui, é a graduação alcoólica. Quanto maior, mais rápido você atingirá seu objetivo. Mas um whisky com graduação alcoólica elevada não é apenas um atalho para chegar àquele divertido estágio em que os limites sociais se tornam um pouco embaçados. É muito mais do que isso. Eles costumam ser mais intensos também, por serem menos diluídos, e apresentarem maior concentração de congêneres. Como, por exemplo, esteres, ácidos […]

Aberlour A’Bunadh – Drops 2019

John Wick pode te estrangular usando um telefone sem fio. Uma vez, John Wick foi para Marte – é por isso que lá não há vida. Tudo bem, essas frases na verdade são de Chuck Norris. Mas elas poderiam, muito bem, ser adaptadas para o personagem mais hiperbolicamente mortal do cinema de ação. Ainda bem que ele gosta de cães, senão, eu mesmo ficaria preocupado. Ao longo dos três filmes, o matador de aluguel despachou duzentas e noventa e nove pessoas. É bastante – quase uma por minuto de filme. Em comparação, o coitado do Rambo matou apenas duzentas e vinte pessoas. E, para isso, ele precisou de um filme a mais. O que talvez torne a franquia John Wick a mais sanguinolenta e mortalmente intensa da história do cinema. Mas o mais incrível é que, apesar dessa chacina, o filme parece até se desenrolar naturalmente. Quer dizer, não tem nada de normal em matar alguém usando um cavalo, um lápis, ou um livro. Mas, no universo vil de John Wick, essas mortes apresentam uma naturalidade quase harmoniosa. Afinal, é o John Wick, o que você espera que ele vá fazer com um livro numa biblioteca? Ler? Se fosse um […]

The Rapscallion – Das Trocas

Há umas semanas, fui numa hamburgueria nova que abriu aqui perto de casa. Olhei o menu. Hambúrguer de shimeji, linhaça, soja. Acenei pro garçom, que se dirigiu até minha mesa com um sorriso condescendente, talvez antecipando minha indagação. “Só tem hamburger vegano, não tem de carne, carne mesmo?” perguntei. “Não tem, essa é nossa proposta. Prova o vegano, você vai achar super gostoso nem vai notar a diferença. O de shimeji é nosso carro chefe, parece até hambúrguer de picanha” . Ponderei por alguns instantes, mas decidi deixar o preconceito de lado e provar aquele (nem tão) convidativo disco de fungos moídos. A primeira mordida me deixou intrigado. Na segunda, levantei o braço. O garçom prontamente se aproximou inclinando a cabeça para frente, como se curioso sobre o que viria – “Gostou?” – perguntou. “Cara não é ruim, mas tá longe de um hambúrguer de picanha. Aquela melancia grelhada da Bela Gil tá mais perto de churrasco do que isso tá de um hambúrguer de picanha“. O garçom, então, fechou a cara e me entregou a conta, como se eu não fosse digno daquele espaço. Fiquei incomodado. Até porque tinha gostado do sanduíche. Só não parecia hambúrguer de picanha. Aquele […]

Entrevista com Sandy Hyslop – master blender da Royal Salute

Sábado passado fui pegar minha filha numa festinha infantil. Quando ela entrou no carro, notei que estava radiante. Mais do que de costume. Indaguei da razão de todo aquele entusiasmo. É que a festa era de Star Wars, e eu conheci a Leia. Quando crescer, quero ser igual a Leia – respondeu. Não entendi bem se ela queria ser princesa, controlar a Força, se apaixonar por um malandro ou ser sequestrada por um slime gigante com um tesão meio doentio por fêmeas de outras espécies. Mas, no fundo, compreendi a razão do arrebatamento. A Leia era um ídolo absoluto de minha pequena. Seria como se, um dia, um entusiasta automobilístico conhecesse Sir Stirling Moss. Ou um aficionado por filmes visse Jean-Luc “Cinemá” Godard. Ou certo admirador das artes plásticas conversasse com Jackson Pollock. Ou, finalmente, um entusiasta de whiskies como este Cão tivesse a oportunidade de entrevistar um grande master blender. Como, diremos, Sandy Hyslop – o diretor de blending da Chivas e responsável pela criação dos Royal Salute. E foi justamente isso que aconteceu, graças a um incrível convite da Royal Salute. Durante sua viagem para a Coréia do Sul, este Cão teve a oportunidade de entrevistar Sandy, que […]

Arran Port Cask Finish – Obsessão

Pode parecer óbvio o que vou dizer a seguir, vindo de um blog monotemático como este. Mas eu tenho umas pequenas obsessões. E não é o whisky, mesmo porque o whisky é uma obsessão bem grande tanto é que a Cã uma vez encontrou uma garrafa de whisky no armário do banheiro, do lado do antisséptico bucal, porque não tinha mais lugar pra colocar aqui em casa. Não. São obsessões pequenas, quase imperceptíveis, mas que me dominam completamente quando despertam. Uma delas é o número de cuecas que eu coloco na mala pra viajar. Tem que ser umas três por dia, no mínimo. Sei lá, eu sei que uma ou duas basta, mas alguma coisa dentro de mim sempre diz “olha, coloca mais umas. Dez cuecas para dois dias dias tá pouco“. Outra é mostarda. Eu adoro mostarda. Não consigo ir no supermercado sem comprar ao menos um vidrinho de mostarda, mesmo sem precisar. Se um dia, num supermercado angelical houvesse na gôndola a melhor mostarda do mundo ao lado da mais jubilosa vida eterna, e tivesse que escolher apenas uma delas, eu pegaria a primeira. Fácil. Morreria agarrado nela. E há uma situação ainda mais grave, quando há uma […]

Johnnie Walker Toolbox – Drops Paternos

Me perguntaram, recentemente, o que significa ser pai. Fiquei em dúvida em como responder politicamente a pergunta. Afinal, quem indaga isso espera um testemunho do deleite da paternidade. Respondi que é como ser esmigalhado pela mais encantadora indiferença. E notei um certo desconforto no olhar do interlocutor. É que ser pai é ir no show e passar mais da metade do tempo na fila comprando batatinha e pão de queijo. Pra, depois, ser ignorado ao brigar com seus filhos porque comeram o salgadinho que caiu no chão. Aquele chão molhado, imundo do caldo de toda aquela gente pulando, suando, babando e derrubando coisas. Ser pai é repetir a mesma coisa pela décima vez, porque nas nove anteriores, a Elsa e o Woody estavam com fome. Ser pai é usar sua própria experiência e exemplo para aconselhar seu filho ou filha, só pra descobrir que ele fez exatamente aquilo que você disse para não fazer. E, por fim, é reconhecer que fiz tudo aquilo igualzinho com meu pai – por experiência própria, porque quando ele me disse o que aconteceria, eu ignorei. Ser pai é, em resumo, ser um trabalhador invisível e inaudível. Exceto, claro, quando requisitado. Aí, ser pai é […]