Pode parecer óbvio o que vou dizer a seguir, vindo de um blog monotemático como este. Mas eu tenho umas pequenas obsessões. E não é o whisky, mesmo porque o whisky é uma obsessão bem grande tanto é que a Cã uma vez encontrou uma garrafa de whisky no armário do banheiro, do lado do antisséptico bucal, porque não tinha mais lugar pra colocar aqui em casa.
Não. São obsessões pequenas, quase imperceptíveis, mas que me dominam completamente quando despertam. Uma delas é o número de cuecas que eu coloco na mala pra viajar. Tem que ser umas três por dia, no mínimo. Sei lá, eu sei que uma ou duas basta, mas alguma coisa dentro de mim sempre diz “olha, coloca mais umas. Dez cuecas para dois dias dias tá pouco“.
Outra é mostarda. Eu adoro mostarda. Não consigo ir no supermercado sem comprar ao menos um vidrinho de mostarda, mesmo sem precisar. Se um dia, num supermercado angelical houvesse na gôndola a melhor mostarda do mundo ao lado da mais jubilosa vida eterna, e tivesse que escolher apenas uma delas, eu pegaria a primeira. Fácil. Morreria agarrado nela.
E há uma situação ainda mais grave, quando há uma interseção entre os conjuntos formados por uma obsessão grande e uma pequena. Whiskies. Vinho do porto. Whiskies envelhecidos em barris de vinho do porto. Sou incapaz de ver um e resistir. E sempre os adoro. Laphroaig Brodir, Kilchoman Port Cask, Glenmorangie Quinta Ruban, Bowmore Vintner’s Trilogy 27 anos. E o recém-chegado ao Brasil, e tema desta prova, Arran Port Cask Finish.
O Arran Port Cask Finish é justamente o que seu nome indica. Um single malt maturado por aproximadamente oito anos em barris de carvalho americano de ex-bourbon, e finalizado em barris de carvalho europeu que antes contiveram vinho do porto. A Arran não divulga exatamente o tempo de maturação e nem de finalização, e tampouco o tipo de vinho do porto utilizado.
O Arran Port Cask Finish, assim como todos os Arran, não passa por filtragem a frio, e sua cor – aliás, uma impressionante e belíssima cor rubi – é natural. Não há adição de qualquer corante. E para melhorar, a graduação alcoólica é um tanto generosa. 50%. Há um certo sabor apimentado subjacente, mas é um malte pouquíssimo agressivo.
Aliás, vale aqui uma observação. Enquanto pesquisava sobre o whisky tema da prova, notei que muitas fontes sugeriam consumir o Arran Port Cask Finish adicionando um pouco de água. De acordo com tais fontes, a graduação alcoólica elevada escondia seus sabores mais discretos. Ainda que concorde com a prática, a opinião deste Cão é que o Arran Port Cask Finish oferece uma experiência sensorial bastante complexa mesmo em sua graduação alcoólica natural. Adicionar água reduzirá seu apimentado, mas, não o torna mais complexo.
A Arran é uma destilaria bastante jovem. Ela foi fundada em 1995, e seu primeiro single malt foi lançado em 1998. De lá para cá, o portfólio se expandiu de forma inacreditável. Atualmente, são mais de dez expressões. Há whiskies com idade determinada – 10, 14, 18 anos. E também alguns sem idade definida, como Lochranza. Há também uma linha defumada – os Machrie Moor – e uma com finalizações especiais, da qual o Port Cask Finish, lançado em 2010, faz parte.
Se você – assim como eu – não consegue resistir a um whisky finalizado em barris de vinho do porto, ou se procura um single malt adocicado, frutado mas com uma personalidade bastante marcante, recomendo que prove o Arran Port Cask Finish. Ou melhor, não. Pensando bem, não prove o Arran Port Cask Finish não. Melhor não arriscar – vai que você cria uma nova obsessão.
ARRAN PORT CASK FINISH
Tipo: Single Malt sem idade declarada (NAS)
Destilaria: Arran
Região: Higlands (Islands)
ABV: 50%
Notas de prova:
Aroma: Bastante frutado. Frutas vermelhas. Figo, baunilha.
Sabor: Frutado e bastante intenso. Frutas vermelhas, calda de açúcar. Bastante apimentado, especialmente no final. Final longo e intenso.
Com água: a água torna o whisky menos apimentado, e intensifica o final frutado.
Preço: R$ 355,50 no boleto, na importadora oficial, a Single Malt Brasil.
Sabe que eu também adoro mostarda, mestre? Já provou aquela marrom?
Eu tenho grande interesse na Arran. Acho muito válida essa iniciativa deles de manter suas expressões sem corante e sem filtragem e conforme comentei com o senhor, estou bem interessado em um Port Finish. A escolha inicial era justamente o Brodir, mas esse Arran me chamou bastante a atenção.
Abraço!
Olha, eu recomendo bem fortemente esse Arran Port. É um whisky super bacana e complexo! O Brodir, como disse, depende do batch…. as vezes ele é ótimo, as vezes, bem mais ou menos!
Provei a marrom!! Adoro!!!
Olá Mauricio, tudo bem?
Gosto muito de single malts. Na verdade comecei a entrar nesse mundo dos single malts devido a outra paixão, os charutos. Acabei gostando tanto que hoje eu não sei se bebo whisky para acompanhar o charuto ou se fumo charuto para acompanhar o whisky. Uma outra paixão, essa um pouco mais antiga, é o vinho do Porto. Talvez pela origem portuguesa da minha família, mas o fato é que também gosto de acompanhar charutos com vinho do Porto. Então, tenho aí uma tripla obsessão: charutos, whisky e Porto. Já sei qual vai ser minha próxima compra. Informo aqui como foi essa parceria: whisky, vinho do Porto e charuto. Abraço.
Opa, que beleza. No aguardo de suas impressões, meu caro. Bom saber que há pessoas com as mesmas obsessões que eu
Boa tarde. C vai falar de cueca? Só após vem whisky? Quem quer saber disso? Já consultou com um orologista? Mostarda tb pode tá te fazendo mau!!! Quanto ao resto blz.
Claro ué, você não vê relação entre cueca e whisky?
Eu também não.
Essa é a graça 🙂
Olá Maurício, como vai?
Esse blog é espetacular, parabéns!
O Arran Port Cask tem jeito de ser o meu número de whisky, mas aparentemente está difícil encontrá-lo, não?
Abraço!
Muito obrigado, Herculano. Pois é, não tá fácil, mas capaz de voltar em breve. Ele é importado pela SMB