Tobermory Gin – Diversificação

Há trinta e cinco anos, um jovem empresário, proprietário de uma gravadora, teve seu voo cancelado. Ele estava em Porto Rico, e queria chegar às Ilhas Virgens Britânicas o mais rápido possível, para encontrar sua namorada. Se fosse eu, teria simplesmente me resignado. Abriria uma garrafa de whisky da mala, daria um gole, e aceitaria meu destino. Passaria uma noite mal dormida em qualquer hotel com paredes gordurentas e carpete manchado próximo ao aeroporto, para, finalmente, embarcar no dia seguinte. Mas o jovem empresário não era eu. Era Richard Branson. Ao invés de se alcoolizar e dormir, Richard tomou uma atitude. Calculou quanto custaria para fretar uma aeronave e dividiu os custos com os demais passageiros do voo cancelado. Chamou aquilo de “Virgin Atlantic First Flight”. Fast-foward, Branson compraria um Boeing 747 e fundaria sua companhia aérea. E depois, uma aeroespacial. Isso sem abrir mão de seu antigo negócio, no ramo musical. Diversificar de uma forma selvagem, assim, é raro. Na verdade, é como dizem. É raro, mas acontece muito. O que é realmente inusitado, é dar certo. E foi o que aconteceu com Branson e suas Virgins (perdão pela digressão aqui, mas que nome horrível este, que faz tudo […]

(um pouco mais que um) Drops – Tobermory 15

Uma vez me perguntaram como eu decido o próximo whisky que vou comprar. Fiz uma serena expressão de conteúdo, e respondi com propriedade. Disse que pesquisava extensamente sobre as últimas inovações no mundo do whisky, e procurava aquilo que me tirasse da zona de conforto e que aguçasse minha curiosidade. Porque, afinal, tinha um blog de whisky. E com ele, vinha a responsabilidade de desbravar este etílico mundo da água da vida. Mas eu menti. Eu menti de uma forma descarada. Porque, pra falar a verdade, minha decisão sobre um whisky passa por dois fatores. O primeiro é eu gostar da destilaria. E o segundo é a garrafa ser bonita. Sério, vocês não tem ideia de quantas vezes relevei um líquido ordinário simplesmente por uma bela ampola. Acontece, porém, que às vezes com estas regras, eu acerto maravilhosamente. É o caso do Tobermory 15 anos, por exemplo. Uma edição limitada da destilaria homônima, localizada na ilha de Mull, que produz duas linhas diferentes de whisky. A primeira, com o mesmo nome da destilaria, é composta de whiskies pouco turfados, com notas cítricas e de especiarias. A outra, Ledaig, é defumada, com sabor de iodo e fumaça. Antes de falar do […]

Drops – Tobermory 10 Anos

Você gosta de mergulho? E águias? E por que não rali automotivo? Se respondeu sim para as três perguntas, seu lugar no mundo existe. É que essas coisas que aparentemente têm pouca relação são as principais atrações da ilha de Mull, na Escócia. Mull é a segunda maior porção de terra das hébridas interiores – um arquipélago a oeste da parte continental da Escócia – com mais de oitocentos e oitenta quilômetros quadrados de, bem, absolutamente nada. Apesar da extensão territorial, a ilha possui apenas três mil habitantes. Mas além de automóveis off-road, aves de rapina e recifes de coral, Mull também possui uma atração para os amantes de whisky. É a destilaria Tobermory, localizada no vilarejo homônimo, o maior da ilha. A destilaria Tobermory produz duas linhas diferentes de whisky. A primeira, com o mesmo nome da destilaria, é composta de whiskies pouco turfados, com notas cítricas e de especiarias. A outra, Ledaig, é defumada, com sabor de iodo e fumaça. E a espinha dorsal da primeira – Tobermory – é justamente o whisky da foto. O Tobermory 10 anos. O Tobermory 10 é cítrico e levemente defumado. Sua defumação, no entanto, não vem da queima da turfa, mas […]

Drops – Ledaig 18 Anos

Às vezes, apenas o tempo é capaz de nos mostrar a significância de algo. Há experiências que temos certeza que permanecerão por muito tempo em nossa memória. Mas há outras que não parecem grande coisa no momento e que, depois, se revelam importantíssimas. Tive uma dessas com o Ledaig 18 anos. Comprei o whisky durante minha primeira viagem à Escócia. Assumo que, em boa parte, devido à bela caixa de madeira gravada. Passei um bom tempo sem abri-lo, até que, certo dia, resolvi que o experimentaria. Logo ao abrir a rolha percebi que era algo que me agradaria. Aroma, primeiro gole, segundo. Um whisky excelente. Entretanto, não dei muita importância. Era uma delícia como muitos. O curioso aconteceu depois. À medida que experimentava outros whiskies com perfil semelhante – Bowmores, Longrows, Juras – minha memória sempre recorria àquele Ledaig 18. Era como se ele fosse a base de comparação. Uma base de comparação bem alta. E o mais estranho é que, muitas vezes, quando alguém me perguntava qual whisky eu era apaixonado, ainda que muitas vezes respondesse de forma política, no fundo do meu pensamento, o Ledaig 18 surgia. Levou um bom tempo para eu perceber isso, e ainda mais […]