Tobermory Gin – Diversificação

Há trinta e cinco anos, um jovem empresário, proprietário de uma gravadora, teve seu voo cancelado. Ele estava em Porto Rico, e queria chegar às Ilhas Virgens Britânicas o mais rápido possível, para encontrar sua namorada. Se fosse eu, teria simplesmente me resignado. Abriria uma garrafa de whisky da mala, daria um gole, e aceitaria meu destino. Passaria uma noite mal dormida em qualquer hotel com paredes gordurentas e carpete manchado próximo ao aeroporto, para, finalmente, embarcar no dia seguinte.

Mas o jovem empresário não era eu. Era Richard Branson. Ao invés de se alcoolizar e dormir, Richard tomou uma atitude. Calculou quanto custaria para fretar uma aeronave e dividiu os custos com os demais passageiros do voo cancelado. Chamou aquilo de “Virgin Atlantic First Flight”. Fast-foward, Branson compraria um Boeing 747 e fundaria sua companhia aérea. E depois, uma aeroespacial. Isso sem abrir mão de seu antigo negócio, no ramo musical.

Um cara normal.

Diversificar de uma forma selvagem, assim, é raro. Na verdade, é como dizem. É raro, mas acontece muito. O que é realmente inusitado, é dar certo. E foi o que aconteceu com Branson e suas Virgins (perdão pela digressão aqui, mas que nome horrível este, que faz tudo parecer ambíguo, não?). Foi o que aconteceu, também, recentemente, com um gim, que acaba de chegar ao Brasil. O Tobermory Gin.

O nome pode soar familiar para a maioria dos apaixonados por whisky deste blog. O Tobermory Gin é produzido pela destilaria homônima, localizada na ilha de Mull, na Escócia. A destilaria, entretanto, é mais famosa por suas linhas de single malts Tobermory e Ledaig. Como produtores de whisky, são excelentes, especialmente depois que Ian MacMillian master blender do grupo Distell, reformou seu core range. O gim não fica atrás.

Da mesma forma que todo entusiasta de whiskies corre os olhos ansiosamente por qualquer matéria para saber qual a maturação do produto, o gin lover quer saber dos botânicos. É como se, ao ouvir palavras como “oloroso” – para os barris – ou “alcaçuz” – para os botânicos – o leitor já estalasse a língua no céu da boca, tentando, identificar o sabor no ar que o circunda, mesmo na ausência da garrafa. Bem, no caso do Tobermory Gin, os botânicos mais utilizados são urze (heather), flor de sabugueiro (elderflower), chá e cascas de laranja. Além, claro, do zimbro.

Um olhar mais atento poderia perguntar qual chá. A destilaria não divulga a receita utilizada, mas afirma que é um chá produzido localmente, em Mull. O aroma sugere algo semelhante a um earl grey. Mas há um ponto mais interessante do que isto, no caso deste gim. É que ele leva uma parte de new-make-spirit (o destilado de whisky, sem envelhecimento) da Tobermory. De acordo com a marca, inclusive, este new-make funciona mais como um botânico – remetendo às notas do whisky – do que, efetivamente, como a base para o gim.

Seus primeiros lotes foram destilados em um destilador pequeno – um John Dore & Co – de 60 litros, apelidado de Wee Betty. Atualmente, entretanto, a destilaria possui um destilador maior, dedicado exclusivamente à produção do gim. Ele fica, inclusive, separado do espaço de produção de whisky. A fabricação de gim começou em 2019, dois anos depois da destilaria interromper sua produção de whisky para uma reforma geral.

Design de um destilador John Dore clássico.

Você deve estar se perguntando por que um blog de whisky faria a prova de um gim. Bem, Richard Branson não se perguntou por que um profissional do ramo da música abriria uma companhia aérea. Mas, seja como for, minha razão é bem mais simples que a dele. O Tobermory é um gim espetacular. E um gim produzido por uma das melhores destilarias de single malts da Escócia – apesar da pouca notoriedade. Tê-lo no Brasil merece uma prova. Melhor que isso, só mesmo se os Ledaigs desembarcassem por aqui. Será que Branson não quer fretar um voo cheio de garrafas?

TOBERMORY GIN

Tipo – Dry Gin

ABV – 43,3%

Região: Highlands – Mull

País: Escócia

NOTAS DE PROVA

Aroma: zimbro, laranja lima, pimenta.

Sabor: Cítrico, com laranja madura, pimenta do reino e jasmin. Final longo e apimentado.

2 thoughts on “Tobermory Gin – Diversificação

  1. Fala prezado Cão,

    Tobermory Gin ou The Botanist, acho que os dois custam em torno dos 200 pilas.
    Já tomou dos dois? Qual vc mais recomendaria?

    Valeu, grande abraço.

    1. Fala Vinicius, tudo bom? Já não só tomei como tenho ambos. O Tobermory é cítrico, puxa pro limão cravo. O Botanist é mais floral e amargo. Gosto igualmente dos dois. Talvez ache o Botanist mais versátil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *