Drops – Compass Box The Peat Monster Arcana

Drops são nossos posts menores, de análise ou curiosidades do mundo do whisky, e que contam com rótulos indisponíveis no Brasil – mas com alguma particularidade interessante. Para ler outros drops, clique aqui Expectativa é uma coisa engraçada. Há whiskies que, só de ler, me dão nervoso para experimentar. Mas que são decepção do momento de abrir o lacre a dar o primeiro – e algumas vezes o último – gole. Há outros que são o oposto. Não provocam nem um arquear de sobrancelhas durante a leitura. Mas, ao primeiro gole, me deixam acenando positivamente com a cabeça – depois, claro, de dizer algum palavrão de enaltecimento qualquer. E há aqueles que são os dois. O Compass Box Peat Monster Arcana está nesta classe. Aliás, a Compass Box Whisky Co. quase gabarita esta classe. A empresa foi fundada em 2000 por John Glaser, ex executivo da Diageo, como uma espécie de produtora boutique de whiskies de altíssima qualidade. A maioria de seus rótulos possui alguma invencionice, ou iconoclastia. A empresa procura sempre trazer inovações, e expandir as fronteiras da produção de whisky – e claro, com um storytelling perfeito. O Compass Box Peat Monster Arcana é, de certa forma, a […]

Compass Box Three Year Old Deluxe

Janeiro é o mês de meu aniversário. Fiz trinta e três, com fígado de sessenta e muitos. E percebi algo. Meus trinta últimos anos não foram, nem de perto, tão importantes quanto meus três primeiros. Vejo isso pela minha filha,  a Cãzinha. A Cãzinha tem três anos, com uma habilidade social que não consegui em vinte. Não sei se é porque ela é uma criatura incrivelmente sociável ou se isso se a minha total inépcia social. Mas ela é capaz de conversar com qualquer pessoa, desafiar, mentir, fazer conversinha de elevador e pedir pão de queijo na lanchonete de uma forma absolutamente encantadora. Tudo isso ela aprendeu em três anos. É claro que há algumas coisas que ainda são complicadas. A Cãzinha tem uma certa dificuldade em entender assuntos abstratos e não é muito convincente para argumentos elaborados. Como, por exemplo, quando ela tenta me convencer que pode comer brigadeiro duas vezes por dia, não consegue e fica agressiva. Mas observando sua evolução, chego a uma conclusão quiçá otimista. Que somos quem somos desde os três. O resto é só sofisticação. Aparar as arestas mais pontudas e aprender uma porrada de coisas que jamais usaremos, como íons, nêutrons, animais endotermos, […]

Drops – Nikka Taketsuru 21 anos

O drops desta semana fala de um whisky japonês. O Nikka Taketsuru 21 anos. Para introduzi-lo, eu poderia cair na tentação de falar sobre a disciplina japonesa. Sobre o conceito de Yin-Yang, emprestado do taoísmo chinês, que influenciou grande parte do Japão, e como este conceito está presente mesmo em coisas tão mundanas quanto um whisky. Poderia apontar que Yin é o símbolo da terra, escuridão e passividade, enquanto o Yang é seu direto oposto. E desembocaria, finalmente, no Dô – o caminho, entre as duas forças opostas. Sempre, claro, fazendo um paralelo com uma belíssima dose deste blended malt. Eu poderia, mas não vou, porque isso seria bem brega. Mesmo. Então, introduzirei este texto simplesmente dizendo que o Nikka Taketsuru 21 anos é um whisky absolutamente e reconhecidamente incrível. Ele foi inúmeras vezes premiado. Recebeu quatro vezes o título de melhor blended malt do mundo pela World Whisky Awards, nos anos de 2007, 2009, 2010 e 2011. Recebeu ouro pelo International Spirits Challenge nos anos de 2008, 2009 e 2010. Com um currículo como este, e mesmo para alguém que nunca foi um grande apreciador da marca criada por Masataka Taketsuru, o Nikka 21 é redenção. Como você pode […]

Drops – Compass Box The Lost Blend

Em 1903 o contista William Sydney Porter – mais conhecido como O. Henry e afamado por dar finais surpreendentes a suas tramas – publicou um livro de contos chamado The Trimmed Lamp. Dentre as historietas lá contidas havia uma intitulada The Lost Blend (o Blend Perdido). The Lost Blend narrava as obstinadas tentativas de uma dupla de bartenders em criar um blend – na verdade, um coquetel – que seria capaz de imprimir a mais pura coragem até no mais covarde dos homens. Este blend teria sido encontrado em um barril misterioso, mas acabara. E agora, os dois homens tentavam, incessantemente, combinar os mais diferentes elementos etílicos de forma a recriar aquele destilado encantado. Porque, realmente, somente álcool mágico nos torna  mais corajosos. O conto é quase um curta-metragem de youtube dos dias de hoje. Em suas cinco páginas, ilustra de uma forma bem humorada o cotidiano de um incomum bar em Nova Iorque, no início do século XIX. Mas apesar de O. Henry ter sido um dos maiores contistas de seu tempo – comparável a Mark Twain até – não há nada de extraordinário em The Lost Blend que o destacasse do restante da obra do escritor. Acontece, porém, que mais de um século […]

Da Atemporalidade – Johnnie Walker Green Label

Trinta de julho de dois mil e três foi um dia triste para os amantes de automóveis. Naquela data, enquanto lágrimas deslizavam de uma forma desnecessariamente dramática sobre as maçãs do rosto de milhares de espectadores, o último Fusca a ser fabricado no mundo também deslizava, ovacionado, para fora da linha de montagem da Volkswagen, em Puebla, no México. Concebido pelo engenheiro Joseph Ganz e desenvolvido por Ferdinand Porsche, o Fusca foi detalhadamente pensado para ser a materialização da praticidade sobre rodas. Todas as suas partes eram facilmente substituíveis e pouco custosas. O motor – refrigerado a ar, para evitar que o conteúdo do radiador congelasse no inverno – era forte o suficiente para cruzar as Autobahns sem esforço. Conhecido internacionalmente como Volkswagen Type 1 ou Volkswagen Beetle, o Fusca tornou-se, em 1972, o automóvel mais vendido da história. Vinte e um milhões, quinhentos e vinte e nove mil, quatrocentos e sessenta e quatro foram fabricados. Seu sucesso era absoluto. Tão absoluto que anos antes de ser descontinuado, já havia um modelo novo em produção, na Alemanha. Era o New Beetle. Mas, ao contrário de seu predecessor, o New Beetle era um objeto de desejo preconcebido. Com desenho retrô, curvas […]

O Cão Exclusivo – Johnnie Walker Odyssey

Essa semana marquei de encontrar um velho amigo em um bar. Acontece que o trânsito e o trabalho atrapalharam, e eu atrasei bastante. Chegando lá, o encontrei jogando paciência em uma das mesas na calçada. Ao invés de me cumprimentar, entretanto, ele simplesmente apertou minha mão e disse, com olhar vidrado nas cartas “Estava aqui pensando. A vida é como um jogo de paciência”. Notando que eu havia interpretado sua frase como uma provocação por meu atraso, ele se sentiu obrigado a elaborar. Mas é. Não tem nada a ver com esperar. É que a possibilidade de você vencer ou perder uma partida depende, principalmente, da sua mão. Não é uma questão de técnica, ainda que a técnica ajude um pouco.  Mas mesmo com todo talento do mundo, às vezes é praticamente impossível vencer, por conta da ordem em que as cartas foram embaralhadas. É como a vida. Percebendo que eu ainda aparentava levemente insultado e, além disso, não inteiramente satisfeito com aquela filosofia, ele continuou. Não é como, por exemplo, damas. Se, ao invés de paciência, estivéssemos os dois jogando damas, o mais talentoso – ou o mais experiente – venceria – disse ele. E continuou – Damas não […]