O drops desta semana fala de um whisky japonês. O Nikka Taketsuru 21 anos. Para introduzi-lo, eu poderia cair na tentação de falar sobre a disciplina japonesa. Sobre o conceito de Yin-Yang, emprestado do taoísmo chinês, que influenciou grande parte do Japão, e como este conceito está presente mesmo em coisas tão mundanas quanto um whisky. Poderia apontar que Yin é o símbolo da terra, escuridão e passividade, enquanto o Yang é seu direto oposto. E desembocaria, finalmente, no Dô – o caminho, entre as duas forças opostas. Sempre, claro, fazendo um paralelo com uma belíssima dose deste blended malt. Eu poderia, mas não vou, porque isso seria bem brega. Mesmo.
Então, introduzirei este texto simplesmente dizendo que o Nikka Taketsuru 21 anos é um whisky absolutamente e reconhecidamente incrível. Ele foi inúmeras vezes premiado. Recebeu quatro vezes o título de melhor blended malt do mundo pela World Whisky Awards, nos anos de 2007, 2009, 2010 e 2011. Recebeu ouro pelo International Spirits Challenge nos anos de 2008, 2009 e 2010. Com um currículo como este, e mesmo para alguém que nunca foi um grande apreciador da marca criada por Masataka Taketsuru, o Nikka 21 é redenção.
Como você pode ter presumido, o nome do whisky é uma homenagem ao fundador da marca, Masataka Taketsuru. Masataka foi um dos personagens centrais da história do whisky no Japão. Foi ele, com o auxílio de Shinjiro Torii, que trouxe àquele país as técnicas de destilação e produção de whisky, aprendidas na Escócia durante os anos em que lá viveu. Taketsuru trabalhou com Torii – o fundador da Suntory – para, anos mais tarde, fundar sua destilaria e criar sua própria marca.
O Nikka Taketsuru 21 anos é composto por dois maltes diferentes. O primeiro da destilaria de Yoichi, conhecida por produzir um malte oleoso e enfumaçado. O segundo, da Miyagikyo, cujo perfil do destilado é mais leve e frutado. Maltes complementares, que certamente produziriam algo excelente se reunidos com sabedoria. Mas não, eu ainda não estou aqui falando sobre o equilíbrio ou sobre forças opostas, como o Yin e Yang.
Como na Escócia, a idade é do componente mais novo em sua composição. Neste caso, vinte e um anos. Porém, ao contrário do que acontece naquele país, no Japão quase não há intercâmbio de barricas entre empresas concorrentes. A maioria dos blended whiskies é produzida totalmente in-house. Por isso as destilarias são muito maiores do que as Escocesas, e possuem diversos formatos diferentes de alambiques, distintos limites de corte do destilado e várias espécies diferentes de leveduras. É justamente este o caso da Nikka, e de seu Taketsuru 21 anos.
O aroma do Nikka Taketsuru 21 é bastante frutado. Há um certo aroma de frutas secas. Algo que remonta, de longe, os maltes da linha Sherry Oak da The Macallan e os Aberlour. O sabor é bastante frutado, com ameixas secas, e apenas com um toque de fumaça ao fundo. O corpo é médio, e seu final bastante longo. O álcool está absolutamente integrado e é quase imperceptível.
Infelizmente, o Taketsuru 21 anos não está à venda no Brasil. E para falar bem a verdade, assim como muitos whiskies japoneses, ele não está à venda em quase lugar nenhum. Assim, se você cruzar com uma garrafa destas, experimente. Você até pode trilhar o caminho do equilíbrio, mas vale a pena sair dele por alguns instantes por um whisky como este.
NIKKA TAKETSURU 21 ANOS
Tipo: Blended Malt Whisky com idade definida – 21 anos
Marca: Nikka
País: Japão
ABV: 43% (poderia ser mais!)
Notas de prova:
Aroma: Frutado e levemente azedo, com frutas secas. Fumaça discreta.
Sabor: Mais frutas secas. Ameixas secas talvez. Ou damasco. Final longo e frutado, com fumaça e álcool perfeitamente integrados. Corpo médio.
Com água: A agua ressalta o sabor de frutas secas. Porém, este é um malte que pode ser provado sem água tranquilamente.
Preço: 300 Libras (trezentas libras!)
NOTA: Agradecimentos especiais ao Sr. Sylas Rocha, do Riviera Bar, por ceder este malte mágico para a apreciação deste Cão!
Como vai, mestre?
Ainda não parti para o lado oriental da história, mas me parece que a grande maioria dos maltes de lá são muito bem elaboradoa.
Abraço!