Vinho Jerez – Um Romance Internacional

Simbioses são relações de longo prazo entre duas ou mais espécies diferentes. Há diferentes tipos. A mais conhecida é a parasitária, onde uma espécie se beneficia da relação, enquanto a outra é prejudicada. Um tipo menos conhecido é o comensalismo. Ele acontece quando uma espécie se beneficia, enquanto a outra não dá a mínima para o que está acontecendo. É o caso da rêmora e do tubarão, por exemplo. A rêmora se alimenta dos restos das presas do tubarão. Para ele, não faz a menor diferença. Mas talvez em troca de companhia nadando, ou uma eventual chupada na barriga, o tubarão se abstém de abocanhar o alongado peixinho. Conheço algumas relações humanas que são assim, também. Mas a forma mais extraordinária de simbiose é o mutualismo. As duas espécies se dão bem, sem esforço, apenas se tolerando mutuamente. É o caso por exemplo dos morcegos-lanudos e plantas carnívoras de Borneo. Essas plantas parecem vasos, e se alimentam de pequenos insetos e vertebrados que caem em seu interior. Os morcegos-lanudos, porém, são grandes demais para serem digeridos por ela. Por isso, usam as plantas de saco-de-dormir. Pode parecer abuso não consensual de vegetais. Mas isso beneficia as plantas: elas se alimentam […]

Da Civilização – The Dalmore 12 anos

A civilização é algo precioso. Com ela, pudemos contar com um sem fim de coisas que nossos ancestrais nem imaginavam. Pudemos desfrutar de facilidades que hoje, tomamos como garantidas. Água encanada, esgoto, luz. Delivery de pizza, supermercados e centenas de milhares de barbearias, paleterias mexicanas e hamburguerias. Comida sem glúten e sem lactose mesmo pra quem não precisa, foodtruck de kombucha e todo tipo de solução para todo tipo de problema que não teríamos, se não vivêssemos em sociedade. Mas acho que a maior vantagem de todas é mesmo a tranquilidade. Não a tranquilidade da rotina, porque se existe alguma coisa que não é tranquila nos dias de hoje, é a rotina. A rotina pra quase todo mundo é bem corrida. Tanto que às vezes nem dá tempo de fazer xixi entre uma coisa ou outra, por exemplo. Mas a tranquilidade de saber que você tem maiores chances de terminar o dia vivo. Eu sei que mesmo hoje pode acontecer todo tipo de desfortúnio desagradável que desemboca na morte. Mas pensa bem. A chance de você ser devorado por um urso enquanto dorme é bem pequena. Ou de pisar em uma taturana tão venenosa que liquefará todos seus órgãos internos […]

Dupla Nacionalidade – Nomad Outland Whisky

Se você acessou o Cão Engarrafado, é muitíssimo provável que tenha notado o cachorro ali de cima. É engraçado que, mesmo que isto seja um blog sobre whisky, muita gente me pergunte sobre ele. O cão do Cão. Então resolvi que hoje vou falar um pouquinho sobre nosso garoto propaganda e revelar sua identidade. Seu nome é Maverick. Ele é um mini collie – também conhecido como Sheltie – ainda que a gente ache que a parte do “mini” foi esquecida durante sua concepção. Ele tem seis anos, e pesa em torno de dezesseis quilos. Um pouco grande, mas tudo normal até aqui. Acontece que o Maverick é, na verdade, um gato por dentro. Ou melhor, um gatorro. Porque por mais estranho que pareça, ele raramente quer algum contato. Ele passa o dia andando pela casa e olhando com desdém para as pessoas e não é muito chegado em gente nova. Além disso, ele despreza biscoito de cachorro, mas é apaixonado por atum em lata. O Maverick pode ter nascido cão, mas, por dentro, bate um coração cheio daquele ódio passivo tão característico dos gatos. Se eu pudesse comparar o Maverick com algum whisky, este certamente seria o Nomad: Outland […]

Presentes para um amante de whisky (e que não são whisky)

Estamos quase no natal. E eu, neste ano, pela primeira vez encarei uma situação delicada que imaginei que levaria muito mais tempo para acontecer. É que a Cãzinha, no alto de seus quase três anos de idade, fez aquela trágica indagação. Papai, o que você vai me dar de natal? Tentei agir naturalmente. Bom, não sei, que você quer que papai te dê? Papai, quero um pato. Um pato, sorri com um olhar meio surpreso, em parte por ver que a Cãzinha já não acreditava em Papai Noel, em parte pelo pedido. Um pato, um pato, papai – gritava ela enquanto pulava de excitação. Tudo bem filhota, pode deixar, papai vai te dar um pato sim, que cor você quer? Ele é branco, papai. Estranhando o pronome pessoal, liguei para a Cã e reportei o que havia se passado. E ela me explicou que o tal pato era personagem de um desenho infantil, mas que não havia bonequinhos. E em seu econômico brilhantismo costumeiro, concluiu – dá qualquer pato de borracha, ué. E foi justamente o que fiz. Fui a uma loja de brinquedos e encontrei lá, jogado em um canto, um pequeno pato de banheira. Branco. Resolvi que, para […]

Drink do Cão – Frontera – Especial Sherry Week

Nenhum homem é uma ilha, Completo em si mesmo Cada é uma parte do continente Uma parte do principal Muito provavelmente você já viu parte do trecho acima em algum texto no Facebook.  Mas o que pode ser que você não saiba é que, virar filosofia de rede social, estre trecho pertencia a uma prosa de John Donne, chamada “Devotions upon Emergent Occasions” (ou Devoção em Momentos de Emergência). Mas talvez você conheça a obra por sua frase final, que diz “jamais perguntes para quem os sinos dobram, eles dobram para ti”. O legal é que Devotions – escrita em 1624 – inspirou uma infinidade de obras literárias e musicais. Hoje em dia, a mais conhecida delas é, muito provavelmente, a música “For Whom the Bell Tolls”, do Metallica. Acontece que a música não é diretamente inspirada em Donne. Ela é baseada em outra obra literária. Um livro de Ernst Hemingway, chamado “Para quem os Sinos Dobram” – este sim baseada na prosa. Nele, Hemingway descreve os horrores ocorridos durante a guerra civil espanhola de 1930 pelos olhos de um americano, Robert Jordan. Ao longo da trama, Jordan se apaixona por Maria, uma jovem espanhola que fora resgatada pelo grupo que […]

Semana Internacional do Jerez (ou O Que é Jerez?)

Qual o ponto em comum entre The Dalmore, a linha 1824 da The Macallan, Whyte and Mackay, a maioria dos Glenfarclas, o Glenmorangie Lasanta e uma região da Espanha conhecida como Andalucia?É que todos estes whiskies passam parte de sua maturação – ou toda – em barricas que antes continham vinho jerez. E este vinho é, justamente, produzido em Andalucia. Aliás, talvez você já tenha se perguntado o que afinal é vinho jerez, ao ler este blog. Porque eu falo tanto sobre barricas de ex-jerez e nunca parei para explicar o que é, realmente, essa bebida. Bem, talvez essa seja a oportunidade perfeita para isso. É que começou essa semana o Sherry Wine Week, por aqui conhecida também como a Semana Internacional do Jerez. O objetivo é mostrar – em eventos públicos em bares, restaurantes, hotéis  – a versatilidade deste vinho, tanto para coquetelaria quanto na harmonização com pratos. E o Cão teve a sorte de ser convidado, justamente, para um workshop de coquetelaria com o ilustre bartender Laércio Zulu, que apresentou drinks que poderiam ser feitos com o vinho fortificado. Mais especificamente, o jerez fino Tio Pepe, produzido pela Gonzalez Byass – a mesma que fornece barricas para a destilaria The Dalmore. A […]